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A arte de convergência do músico Jackson Carlos em “AfroEu”

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O guitarrista e produtor musical Jackson Carlos, de Blumenau, não se contenta em apenas compor, gravar e apresentar as suas canções. Nas suas parcerias, o músico apresenta um trabalho bastante variado, do jazz ao rock, da MPB ao samba-funk, sempre com excelência. Mas é na sua atuação solo, iniciada com o projeto “Bordões” (2021), que vai além das seis cordas, fazendo uma arte de convergência. O EP “AfroEu”, lançado no dia 14 de junho, une a música instrumental de Jack, ao lado do trompetista Bruno Soares, com esculturas de Jean Tomedi. O material, contemplado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura de 2020, foi inspirado na comunidade quilombola Sertão do Valongo, em Porto Belo, um dos 11 refúgios de escravos reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares no estado. 

O processo criativo de “AfroEu” gerou três faixas que retratam os níveis de percepção desse lugar. “Saudade” representa a perspectiva do não conhecer, da formação da imagem por relatos da mídia e também em publicações de arquivo. “Etéreos” foi inspirada na sensação de romper com a expectativa e presenciar a ideia do descobrimento, uma reflexão sobre as gerações ancestrais dos povos que se misturam, de forma genética, mas também cultural e espiritual. O trabalho encerra com “Descendentes”, escrita após a visita de Jackson Carlos e Jean Tomedi ao local, que abrigou os escravos libertos da região depois da Lei Áurea, em 1888. Estima-se que Porto Belo e Tijucas tiveram mais de 3 mil pessoas em situação de escravidão no século XIX, segundo o Apesc (Arquivo Público do Estado de Santa Catarina). Em contato com o Rifferama, o guitarrista falou sobre a parte musical e conceitual do EP.

— Esse projeto vem de um anseio que venho tendo há bastante tempo de levar de levar a música para além dos gêneros, para além do ouvir, de proporcionar uma perspectiva sensorial para o apreciador com mais perspectivas, através da audição e do visual, criando uma experiência um pouco mais sofisticada e plural. “AfroEu” consiste em uma pesquisa de percepção sobre aquele espaço que fomos conhecer, sintetizar tudo o que aconteceu, pensando na descendência, na coisa da mistura, que é o que acontece na base genealógica dos brasileiros: índios, pretos e europeus. A história está ali. Na última música uso algumas técnicas no violão que incitam levemente um traço da Espanha, a música vai caminhando, fazendo uma curva dramática como se fosse uma brisa do Atlântico, como se tivesse velejando no barco, observando os continentes, fazendo esse movimento de migração e colonização.

Ficha técnica

Jackson Carlos: violão e mixagem
Bruno Soares: Flugelhorn
Jean Tomedi: Artista visual convidado
Gabriel Reinert: Captação, mixagem e masterização (Silver Tape Studio, Balneário Camboriú)
Soila Freese: Produção executiva

Foto: Jean Tomedi

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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