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A arte indomável de Ricardo Ravel

Quando escutei pela primeira vez “Marcha Misantropicalista”, no fim de 2015, senti que estava diante de um grande artista. E, de fato, o catarinense Ricardo Ravel, de 25 anos, é um compositor tão promissor quanto demonstra em “Santo Coração”. O disco, lançado oficialmente na Sexta-feira da Paixão, é um soco no estômago.

O álbum, por todas as pessoas envolvidas na sua concepção, ganhou ares de superprodução. Desde o registro, no estúdio The Magic Place, a cargo de Renato Pimentel, passando pelos companheiros de banda, igualmente talentosos, aos convidados. Ravel contou com a parceria de alguns dos grandes instrumentistas de Florianópolis como Jean Carlos (trompete), Luiz Gustavo Zago (piano) e Márcio Bicaco (percussão).

“Santo Coração” abre com “Lobo Ilusão”, poema do cineasta Gabriel N. Andreolli, que também é o coautor de “Escarlate” e dirigiu o clipe da belíssima “Carmesim”. O violão clássico de Ricardo Ravel é o personagem principal da obra, rotulada pelo próprio como música popular melodramática. A intervenção dos amigos na criação, no entanto, confere outras cores e sonoridades para este trabalho – o artista compôs sozinho apenas quatro das 11 canções do disco.

Júlio Miotto (guitarra e voz), Felipe Martínez (bateria e percussões) e Uther Baldissera (baixo) contribuem em quatro composições: a densa “Breve Devaneio Sobre a Paranoia”, “Tropical Taste of Summer”, “Los Cigarrillos Rotos” e sua pegada flamenca, além da supracitada “Marcha Misantropicalista”. O baterista também divide a autoria de “Âncora d’Alma” e da melancólica “Temporal”, um samba refinado. A peça instrumental “Gymnopédie n°1” ,do francês Erik Satie (1866-1925), encerra a audição de forma primorosa.

Como escreveram nas redes sociais, “Santo Coração” é o espelho da alma de Ricardo Ravel. O disco é intenso, desafiador, verdadeiro e, sobretudo, surpreendente. As minhas expectativas quanto a este trabalho eram altíssimas e, felizmente, foram plenamente atendidas. Com um trabalho deste em mãos, desejar sucesso é dispensável. Que o tempo possa fazer justiça a esse álbum, desde já candidato a destaque de 2016.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

Um comentário

  1. Belas palavras, Daniel! Mesmo fazendo parte, continuo me surpreendendo com esse disco também, hahaha.

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