Julian Brzozowski é a mente por trás da Orquestra Manancial da Alvorada. Foto: Daniela Sevegnani Mayorca

A genial e louca Orquestra Manancial da Alvorada

Foto: Daniela Mayorca

Em janeiro deste ano, após um ano de silêncio, Julian Brzozowski anunciou o fim da Adam e Juliette. Ou melhor, segundo ele, a banda digievoluiu. Daniel Postal (guitarra, sintetizador e voz) e Gabriel Dutra (bateria e sintetizador) seguiram o compositor no novo projeto, batizado de Orquestra Manancial da Alvorada. O músico, que também toca sintetizador, saxofone tenor, violão e “canta”, reuniu outros cinco instrumentistas do mais alto gabarito para dar vida a uma proposta ainda mais inovadora da registrada em “Tutatis/Belenos”, disco da A+J lançado em 2013 – e que poucos estavam preparados para ouvir.

Com foco no audiovisual, o grupo disponibilizou “Elektromato”, gravação ao vivo (e sem overdubs) no estúdio Pimenta do Reino, no dia 10 de novembro. Como qualquer tentativa de descrever o som desses caras seria frustrante, o Rifferama entrevistou o próprio Brzozowski, que forneceu detalhes curiosos sobre esta sua nova aventura. Completam a Orquestra Manancial da Alvorada:  Fabio Cadore (djembe e dununs), Leonardo Schmidt (balafon e dununs), Liu Impaléa (sintetizador, guitarra e voz), Paulo Zanetti (saxofone soprano e clarone) e Rafael Pfleger (baixo e produção/mixagem).

Rifferama – “Elektromato” tem muito de Adam e Juliette. Como surgiu a ideia de formar a Orquestra?

Julian Brzozowski – Tocávamos essa música antes com a banda e sempre convidávamos outras pessoas para o show para tentar manter uma genuinidade. Organizava a Orquestra Eletroacústica da UFSC, um projeto de música modernista. Eu compunha e conduzia 16 musicistas. Passei 2014 em Belo Horizonte, dei uma pausa na Adam e Juliette e na volta senti que queria fazer uma coisa explosiva. Em “Elektromato” escrevi as partituras para os novos músicos e quis tentar orquestrar as personalidades musicais presentes ali, e as influências que as pessoas traziam, apresentando a música e graus de dinâmicas, mas muita coisa não tinha como antecipar. Essa música digievoluiu agregando uma galera absurda como o Fabio Cadore, que estuda ritmos africanos e deu uma adição muito rica. 

Rifferama – A ideia é gravar um disco? O que vem pela frente?

Julian Brzozowski – Fizemos essa filmagem que já serve como uma gravação. Em vez de passar tempo no estúdio e gastar muito dinheiro, ensaiamos bastante e captamos ao vivo. A ideia é tentar trabalhar diretamente com o que parece ser a demanda do mundo musical, que são os produtos audiovisuais. O projeto surgiu com outro projeto maior, que se chama Ganga Canastra, de cinema expandido, desenvolvido com a galera das artes cênicas para fazer um grande espetáculo numa tacada só, algo que você não verá em nenhum outro lugar. Estamos preparando um EP na forma que foi lançado “Elektromato”. Será um pequeno filme de uns 20 minutos, com três músicas. Vamos dar o tempo que as composições merecem.

Rifferama – De onde você tirou esses nomes?

Julian Brzozowski – Depois descobri que existem muitas orquestras mananciais fiquei decepcionado. Queria uma coisa que soasse meio brega, do interior, uma banda gloriosa, mas que mantivesse essa coisa bucólica. Quis manter essa coisa de orquestra, um grupo grande de musicistas, um jeito diferente de encarar a música. E ganga é o resíduo químico do extrato do ouro. Estudando a obra do Frank Zappa, a ideia do jogo simbólico me pegou muito como sustento artístico, essa coisa de jogar com as possibilidades. E a canastra é um pouco disso.

Rifferama – Vocês não se levavam muito a sério na Adam e Juliette. Como as pessoas devem encarar a Orquestra Manancial da Alvorada?

Julian Brzozowski – O bom humor se mantém. Na A+J era mais escrachado, mas não tem por que fazer arte sem ele. Fazíamos como se fosse uma balança, uma coisa técnica interessante e demos um pouco mais de ênfase nisso. A Orquestra é esteticamente mais impactante, o escracho foi reduzido no falseto Bee Gees do Daniel (Postal), já basta pra trazer essa pincelada. O Frank Zappa é a principal influência. Ele trouxe um novo traço pra essa conjugação da música ocidental e oriental. Estudei as músicas orquestrais dele. É um diferencial libertador, não comercial e criativo. As pontuações são totalmente diferentes, os teus órgãos sobem de um jeito diferente, e o Zappa vai como um exemplo disso.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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