amuro-rifferama

Amuro subverte a ordem do black metal em novo single, “Real”

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Mini Kalzone, DOBERRO, Camerata FlorianópolisLord Whisky Distillery e Bro Cave Pub


Contribua com a campanha de financiamento coletivo do Rifferama no Catarse

Poucos estilos têm uma identidade tão forte quanto o black metal — estética (sonora e visual) e lírica. Quando a Amuro começou as suas atividades, em 2017, Artur Cipriano (voz e baixo), Daniel Rosick (guitarra) e Gabriel Porto (bateria) tinham dois caminhos a seguir: reproduzir à risca todos os clichês do gênero, como muitas bandas optam por fazer, ou apresentar uma releitura mais autêntica. Por sorte, o trio de Florianópolis escolheu a segunda alternativa. No fim de abril deste ano, o grupo lançou o single “Real”, que representou a consolidação de uma mudança conceitual para a Amuro. Com produção do próprio baterista, a música traz uma letra inspirada no poeta Augusto dos Anjos e no psicanalista Jacques Lacan e soa desacelerada, em oposição ao ritmo frenético do black metal.

Essa guinada estética, principalmente no que diz respeito ao texto, começou em 2020, com o single “Praga”, a primeira faixa escrita em português pela banda, que teve uma estreia arrebatadora no ano anterior com o seu EP homônimo, com direito a um feat de Cipriani com Mayara Puertas (Torture Squad). Em contato com o Rifferama, o vocalista e letrista da Amuro informa que um dos motivos para essa mudança é a busca de uma expressão mais espontânea e visceral para a obra da Amuro. “Real”, explica o compositor, é um conceito da teoria de Lacan, que quer dizer, entre outras coisas, um pedaço escondido da nossa experiência que não faz sentido algum. “Esse real também é figurado, como um resto, uma coisa que a gente não consegue eliminar”, afirma.

— Lacan sempre foi uma influência direta, a começar pelo próprio nome da banda. Real é um registro da nossa experiência que é justamente uma parte que tem de ser omitida ou apagada para que todo o resto se apresente como algo que faça sentido. E isso leva a outras influências, como o H. P. Lovecraft, que está sempre falando de um horror inominável, ele não mostra o monstro, está nas iminências, no passado, no futuro. Essa é a orientação da letra. O Augusto dos Anjos é uma referência para falar do horror no seu sentido mais cru. O black metal é um termo extremamente desbotado. Ficar falando de igreja e satanismo em 2022 não me diz muita coisa. A Amuro tenta recuperar o que tem de mais verdadeiro, mas dizer outras coisas. A violência está na nossa experiência cotidiana, para a qual estamos anestesiados. Nosso país foi construído em cima de sangue, então nada melhor do que berrar metal extremo em português. Temos que procurar caminhos assim e não os que chocavam há 30 anos atrás. 

Foto: Leandro Abrantes

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

DEIXE UM COMENTÁRIO.

Your email address will not be published. Required fields are marked *