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Dazaranha mais romântico e pop em “Afinar as rezas”

“Afinar as rezas”, primeiro álbum do Dazaranha sem a participação de Gazu, será lançado com duas apresentações no teatro do CIC, nesta quinta (22) e sexta-feira (23). Após algumas audições, posso afirmar, com certeza, que o novo trabalho é superior ao “Daza”, de 2014 – ainda que com ressalvas. Gravado no Rio de Janeiro, novamente com produção do renomado Carlos Trilha, o disco traz 11 músicas e uma vinheta, totalizando 40 minutos, e foi financiado por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Florianópolis, com patrocínio da Fundação Franklin Cascaes.

Apesar dessa melhora em relação ao trabalho anterior, o Dazaranha virou refém da sua obra. Musicalmente falando, a banda construiu um legado tão rico e próprio nestes 25 anos de carreira que os fãs esperam ouvir o “velho Daza” a cada novo lançamento. Em “Afinar as rezas”, o grupo busca novos caminhos, com uma sonoridade mais moderna e pop, mas sem perder a identidade. A faixa título abre o álbum com Moriel nos vocais. É preciso reconhecer: a presença de Gazu ocultava esse talento de Muruca, que nasceu para ser protagonista. Chico Martins, no entanto, é quem mais canta no novo disco. O guitarrista, que assina duas composições, assume o microfone em sete das 11 músicas.

Além disso, senti falta dos metais, característica marcante dos últimos trabalhos do Dazaranha. Chico também economizou nos riffs, talvez propositalmente, para conferir essa faceta pop ao som da banda. Os belos duetos com o violino de Fernando Sulzbacher ainda estão aqui, como na ótima “Espero”, composição do baterista JC Basañez, mas os (poucos) solos não têm o mesmo destaque de antes. A insistência no romantismo também me incomoda um pouco. Parece que o Daza perdeu a malícia. Canções como “Mais de Calma”, “Toda Felicidade” e “Motor”, colocadas em sequência, fazem cair um pouco o nível do álbum. A única música mais “malcriada” é o funkeado (que baixo é esse, Adauto?!) tema do Mané Darci.

“Afinar as Rezas” tem muitas qualidades. Felizmente, o Dazaranha não deixou de experimentar coisas novas, como as melodias orientais em “Deixa a Tartaruga Nadar”. As vozes de Moriel e Chico casaram muito bem, e a banda soa harmoniosa e revigorada como um todo. Músicas como “A Noite Chegou”, uma ode à Ilha, e “Um Pedacinho do Céu”, a melhor do disco, mostram que o Daza ainda tem muita lenha para queimar. Tenho de ressaltar, também, a coragem de seguir em frente. Em menos de um ano, esses caras transformaram a dúvida em certeza. Sorte dos(as) fãs.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

4 Comentários

  1. Concordo em genero, numero e grau, esse novo trabalho do daza nos premiou com excelentes musicas.. o que dizer da mudança no andamento de Afinar as Rezas.. aquele final eh um convite pros fãs curtirem o album.
    E não é que as musicas romanticas sejam um problema, "Toda Felicidade" tem uma boa levada reggae e ficou muito boa, talvez o que canse um pouco foi a sequencia e o excesso da palavra "amor", mas nada que comprometa o album, elas ficaram bem produzidas. Este album me fez ter vontade de o escutar de novo, o que eu ja fiz varias vezes, só temos a agradecer ao daza e aguardar os futuros trabalhos que prometem.
    Como diz o som do Darci (que sonzeira): "quex entende o que eh curticera? Quando chega na ilha vai num show do dazaranha!"

  2. Bacana a resenha do álbum! Ainda estou em duvida se, para mim, a melhor musica é Pedacinho do Céu ou se é Darci mesmo, até porque aquela funkeira não está brincadeira. Concordo em gênero, numero e grau que as 3 românticas no final puxam para baixo a qualidade do disco, mas tem que se experimentar. Sinto, ao ouvir, depois da repercussão que o ultimo álbum teve, que esse CD foi produzido com mais cautela, para que alguns erros não se repetissem. Talvez por essa cautela a ausência de mais riffs de guitarra e solos compartilhados com o violino, além dos sopros, que realmente fazem falta, especialmente em termos de pressão de som, uma vez que os arranjos não deixaram a desejar. Já tinha ido a um show dos caras após a saída do Gazu e ficado com a impressão que a banda continuara funcionando bem, mesmo sem o cara. E é bom ver que essa impressão se confirmou no CD. Claro que todo fã de Dazaranha quer voltar a ouvir obras primas com Retroprojetor, Shau Pais Baptiston, etc., mas os anos passam, os tempos mudam, as pessoas mudam, as tendências também. É preciso se reinventar e buscar coisas novas. Quando se experimenta, sempre corre-se o risco de errar, mas acho que dessa vez, ao contrario do ultimo álbum, o Daza deu um passo para frente, e não dois para trás. Depois de um hiato em termos de qualidade, com esse novo disco, sinto-me confortável em dizer aquilo que o próprio Dazaranha me disse em seu primeiro CD: Seja bem vindo.

  3. Bom ver que o Daza segue firme mesmo com as mudanças na banda. O álbum tá bacana :)

  4. Ótimo texto!

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