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Eutha comemora 30 anos com edição especial do primeiro disco

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Uma das bandas mais antigas em atividade no estado, o Eutha (ex-Euthanasia), de São José, completa três décadas de história em 2022 e lança nesta terça-feira (11) uma edição especial de 20 anos do seu primeiro disco, “Estileira Core Music Tarja Preta”, um clássico do hardcore brasileiro. Alexei Leão, responsável pela gravação e mixagem do álbum na época, no AML Estúdio, em Florianópolis, foi recrutado para fazer a masterização, atualizando a sonoridadepara as plataformas digitais. A pedido do Rifferama, o vocalista e baixista Marcelo Mancha e o produtor Alexei Leão falaram sobre esse momento importante para a música catarinense. Esse relançamento é, também, uma homenagem a Johnny Duluti, ex-baterista da banda, que nos deixou no ano passado.



Marcelo Mancha, vocalista e baixista do Eutha

Gravamos esse disco em 1999/2000. Fomos a primeira banda a entrar no “novo” AML Estúdio, na Pousada do Leão (Ingleses), mas vale dizer que a gente já tinha gravado duas músicas com o Xei (Alexei Leão), uma vez que ele montou o equipamento na casa do Zimmer em 98 ou no início de 99. Duas músicas que gravamos para a coletânea “Squema”. Gravar o disco foi uma aventura. Saíamos do continente para atravessar a Ilha. As sessões eram longas. Foram muitas músicas , o CD original tem 22 faixas (o relançamento tem 20) e num determinado momento, uma enchente pegou o estúdio e perdemos parte da gravação. Por isso demorou tanto e também a gente e o Xei queríamos caprichar mesmo, várias vezes a gente buscava o melhor take, a repetição até ficar legal.

O disco é o resultado de quase dez anos tocando por aí. Era muito difícil lançar um CD naquela época. Ou você tinha grana ou apoio de um selo ou gravadora, a gente não tinha nenhuma das duas coisas. Pra não se iludir a gente focava em coletâneas e participações. Até que em 98/99 pintou o Charles de Jaraguá do Sul e o Panço da Tamborete do Rio de Janeiro. Os dois tiveram a ideia de lançar um disco do Euthanasia, e daí sim, fomos planejar o álbum e começamos a gravação com o acerto que eles prensariam mil cópias pela Tamborete, que já tinha lançado muitas bandas como Gangrena Gasosa, Jason, Soutien Xiita, Cabeça, Zumbi do Mato, Poindexter, entre outras.

O álbum saiu mesmo na virada para 2001. E vendeu bem legal. Em poucos anos (uns cinco) já não tinha mais cópias. Rendeu muitas resenhas na época em revistas, sempre positivas, muitos convites para shows e isso quase implodiu a banda. O porte da nossa banda era muito pequeno e faltava estrutura para tocar todo fim de semana, saca? Mas superamos isso e seguimos tocando direto naquela época. Quase todo fim de semana tinha show, viagem. O álbum rende até hoje. Tocamos várias músicas dele e umas outras que não tocamos mais, mas alguém sempre lembra nos shows.

A formação era eu no baixo e na voz, o Jean na guitarra e na voz, o Heráclito na percussão, na voz e nos eletrônicos (os três estão até hoje) e o Cauê na bateria, que ficou com a gente de 93 a 2012. Também participou em muitas faixas o Kim Isac, que era tipo um quinto integrante da banda. Ele começou a colar nos shows, fizemos muitas músicas juntos e era certa a participação dele no disco. Ele está em sete das 22 músicas. E tem outras participações, como o Daniel da Luz (na época no Iriê) na percussão em duas faixas, o Ameixa tocou theremim em uma faixa, a galera do Sufoco de Jaraguá do Sul cantou, Tavinho Canastra cantou num som….

A ideia de remasterizar pelos 20 anos surgiu, mas a gente nem imaginava que o Xei teria esses arquivos ainda. Conversando com o Xei, ele disse que tinha e ia procurar. Esse remaster deu uma vida no som. Parece que regravamos o álbum. O Xei conseguiu atualizar o disco. Duas décadas passaram e o álbum tá na área de novo. Ele não estava nas plataformas, somente no YouTube de forma fragmentada. Agora vai estar inteirinho pra galera ouvir. Tiramos o cover do Ação Direta que já está no álbum tributo a eles e também “Chega aí 2”, que na verdade era uma espécie de vinheta/faixa bônus que tinha um sample e as plataformas barraram. O álbum hoje faz mais sentido do que na época que lançamos. O Eutha sempre tocou hardcore, punk e metal, mas nesse período da banda o hip hop era muito presente. A gente ouvia muito. Então o disco tem umas influências desse tipo de som. Tinha DJ e rapper (o Kim Isac no disco e shows) e depois o Rafael Kão, que ficou uns anos no cargo de DJ. Daí o Kim só cantava.

O álbum é sempre um milhão de vezes mais importante/interessante para o autor, pra banda, né? Nós nunca fomos uma banda de muito público, saca? Nos primeiros anos da banda a gente era muito jovem e a raça não botava muita fé. Fomos evoluindo no decorrer dos anos e a galera começou a curtir a banda e hoje percebo também um certo respeito, curiosidade pela banda, pela história, o tempo na estrada. Na humildade, claro, conheço muita gente que adora esse disco, ouve até hoje, que virou um disco da “juventude”, que influenciou umas bandas mais jovens que a gente. Uma vez, um brother falou que o Eutha só teria valor daqui uns anos, quando a banda terminasse. Nunca termina.


Alexei Leão, produtor musical

O disco do Eutha foi o primeiro álbum que produzi assim que abri o meu estúdio, em dezembro de 1999. A gente acabou levando o ano seguinte inteiro para gravar. É um período muito nostálgico, numa época em que os recursos eram super limitados, a gente começou gravando numa mesa de oito canais, e o resultado é sensacional. Acho que o som que a gente tirou era bem o que o Euthanasia era na época, é um marco do hardcore, essa mistura com punk, com rap, uma coisa bem diferente, única. Fiquei muito feliz com o convite e fiz com todo o carinho e cuidado, de acordo com o nível que esse material merece. Tenho um orgulho gigantesco de ter feito parte disso. Foi muito massa revisitar uma gravação 20 anos depois e ver que ela faz parte da história.


Foto: Johnny Duluti

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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