Dijjy Rodriguez lidera a PNNC. Foto: igor Lavrador

Rifferama Entrevista: Ponto Nulo no Céu

Foto: Igor Lavrador

Após um período sabático em Florianópolis, o vocalista Dijjy Rodriguez decidiu reformular a Ponto Nulo no Céu. Com Fau (baixo), que tinha tocado com a banda em 2013, e os irmãos Felipe (guitarra) e Lucas Taboada (bateria), não demorou para o grupo reconquistar o seu espaço. No ano passado, a PNNC foi o destaque do Prêmio da Música Catarinense.

Maior banda de Santa Catarina, a Ponto Nulo no Céu está em fase de produção do novo disco, sucessor do agora clássico “Brilho Cego”, de 2011. O Rifferama conversou com Dijjy, que falou sobre a campanha de financiamento coletivo, o reconhecimento fora do Estado e a mudança na sonoridade. Até o momento, o grupo conseguiu arrecadar 44% do valor final (R$ 18 mil).

Rifferama – O que fizesse nesse tempo sem a banda, Dijjy?. Quando rolou a ideia de voltar com a PNNC e como encontrasse os novos membros?

Dijjy Rodriguez – Fiquei praticamente dois anos sem banda, mas não fora da música. Mergulhei em outros estilos, absorvi coisas novas de jazz, samba, reggae e tudo mais que tive contato. Isso me renovou, me mostrou outros pontos de vista, expandiu meus horizontes artísticos. Foi essencial pra essa nova fase. Aí, em determinado momento, senti uma necessidade de voltar aos palcos e com a Ponto Nulo No Céu. Esta possibilidade, apesar de sempre estar em aberto, já tinha sido descartada em outro tempo, e agora se fazia viva novamente. Conversei com o Adair Daufembach – que, além de produtor, também é meu brotherzão – sobre essa vontade repentina. Ele achou demais! Fiquei pensando em quem poderia completar o time pra um novo projeto com a PNNC, posto que nesse rolê de banda independente tem que ter MUITA disposição mesmo.

Parece fácil quando tu olha debaixo do palco e assiste o show todo bonitinho, mas imagine que em outras épocas viajávamos em um Uno com cinco integrantes, duas guitarras, um baixo, partes da bateria, CDs e camisetas para venda, banner de fundo e cinco mochilas pessoais. Pra ter uma ideia, nesta época o Vinicius (ex-guitarrista) era o responsável por encaixar tudo de forma que coubesse no carro, sem exagero. Tendo estas condições, os caras não poderiam ser outros. O Fau já havia tocado conosco em 2013, durante o hiato, num show de reencontro, tocava na banda FAI, então, já estava ligado nisso tudo; o Felipe Taboada e o Lucas Taboada já eram meus amigos, justamente por nos conhecermos da mesma cena, eles tinham acabado de sair da banda Prólogo e estavam parados. Depois disso, apresentei a proposta e todos toparam. Aí a produção não parou mais.

Rifferama – Vocês ganharam o Prêmio da Música Catarinense no ano passado, prova de que a popularidade da banda está intacta. Vocês recentemente tocaram para um Carioca Club (São Paulo) lotado. Te surpreendeu como as coisas foram acontecendo e vocês ficaram conhecidos no underground? Fale um pouco também sobre a bandeira que vocês levantam sobre a união entre as bandas na cena.

Dijjy Rodriguez – A Ponto Nulo existe desde 2007, as premiações vieram sete anos após. Não contava com os dois troféus no Prêmio da Música Catarinense do ano passado, certamente, mas as coisas já aconteciam há muito tempo lá fora (de Santa Catarina) e aqui tudo era muito escasso. Não havia espaço, a mídia catarinense, com poucas exceções (Rifferama, com absoluta certeza, é uma delas), nunca olhou para os artistas daqui, foi preciso ganharmos destaque em boa parte do Brasil pra, aí sim, sermos reconhecidos em nosso próprio estado. Isso sempre nos deixou tristes, de certa forma. Lembro que a primeira vez que tocamos em SP (nossa primeira apresentação fora do estado), em 2009, a casa estava lotada e todos cantavam as músicas do início ao fim do show. Detalhe que sempre fizemos questão de levar e colocar no palco a bandeira da Santa Catarina, como pode ser visto no vídeo deste show.

Sempre trabalhamos por nós mesmos, conquistamos tudo que temos na verdade e no suor, juntamente das pessoas que nos apoiaram desde sempre. Também tem o lance do movimento União Underground, idealizado por quem vos escreve, que, sem dúvidas, foi importantíssimo no levante de uma cena que estava definhando naquele momento. A ideia é simplesmente se ajudar nas lutas coletivas, neste caso, os artistas que se sentirem impelidos a divulgar o trabalho de outros artistas, seja de estilos diferentes, música ou não, o fazerem. No fim isso se amplificou e muitos profissionais que trabalhavam junto com as bandas colheram os frutos, como fotógrafos, roadies, produtores, e hoje em dia vivem bem de suas paixões. Enfim, todo mundo se envolveu.

O que aconteceu neste últimos tempos é que com as premiações agora somos mais vistos aqui. Entendo que o Prêmio da Música Catarinense, com tudo que tem a se melhorar, vem fazendo este papel de união de forças, mas de uma forma mais abrangente e notória, já que estamos todos em busca de realizações através da música. Me parece que o cenário atual daqui é muito promissor. Temos artistas trabalhando seriamente com profissionalismo e dedicação. Quase todos os dias vejo coisas novas, e de qualidade, sendo produzidas. Mantemo-nos otimistas. Bandas como a Blame, Califaliza, Caraudácia, Brass Groove Brasil, Skrotes, O Mundo Analógico e outros artistas como Jean Mafra e Felipe Melo, François Muleka, Felipe Coelho, Antonio Rossa e tantos outros, me deixam muito otimista em relação ao futuro artístico de SC.

Rifferama – A PNNC acabou de lançar o projeto de financiamento coletivo pro novo disco. É a melhor forma de viabilizar as produções?

Dijjy Rodriguez – Lançamos este financiamento coletivo por ser a forma mais independente e viável, no momento, já que o custo deste álbum será um pouco mais alto que os anteriores. É uma forma de aproximar o público do artista. O artista pode criar formas de estreitar a comunicação e distância de seus seguidores, através das recompensas oferecidas, como exemplo, temos a opção de um pocket show na casa de quem contribuir. Dispusemos de recompensas exclusivas para esta campanha também, só quem contribuir terá, como uma lembrança especial deste momento. Para facilitar a contribuição e abrir espaço para o maior número de pessoas participarem, os valores partem da contribuição simbólica de R$ 10 e se estendem a valores mais altos. Vai da condição de cada um. O mais interessante é poder ser parte direta no processo de produção de um trabalho que admira.

Estamos preparando uma produção grandiosa para este álbum, das mais densas da Ponto Nulo. Tem bastante coisa pronta e logo já anunciaremos a capa e o nome da criação. Estamos confiantes, pois já conseguimos tantas coisas com ajuda do público que nos acompanha, e este é mais um desafio. As últimas semanas têm se resumido a trabalharmos na composição do álbum e na divulgação da campanha, tamanha a importância. É necessário dizer aqui que sem o sucesso deste financiamento, ficará muito difícil de viabilizarmos este montante, portanto, sendo o mais transparente possível, quem puder, contribua. Será um divisor de águas. Prometemos a compensação artística de tudo isso em breve.

Rifferama – Nas duas músicas divulgadas se nota bastante diferença do “Brilho Cego”. A diminuição dos vocais guturais foi algo pensado? O que os fãs podem esperar da sonoridade do disco?

Dijjy Rodriguez – O Brilho Cego, último trabalho lançado com a antiga formação, é um disco memorável. Ainda hoje ouço, descubro detalhes do instrumental que ainda não havia percebido e penso: estes caras são foda! Foi muito bem composto. Com a troca de integrantes, decidimos reformular também o som. Na verdade, foi um processo de convergência de estilos até chegarmos a uma identidade bem definida. Houve um amadurecimento notável no modo de compor as músicas e a produção artística, decorre, naturalmente, da vinda de novas pessoas e também de uma nova fase que vivemos. As influências não são só musicais, estudei um tanto para escrever os sons, não só literatura, mas tudo relacionado a arte foi absorvido, dentro das capacidades possíveis no momento, e com referências bem variadas. Nos renovamos, trazendo elementos diferentes, tem uma brasilidade maior agora, e sem perder a essência PNNC. Fico esperançoso para que degustem logo menos.

Rifferama – Pra fechar, como o nome do blog é Rifferama, queria saber quais são os teus riffs preferidos?

Dijjy Rodriguez – Teria alguns pra dizer, mas vou elencar os dois primeiros caras que me vêm à cabeça quando se fala de riffs: Wes Borland, esse cara foi meu herói na adolescência e ainda acho genial. Parece um poço sem fundo de criatividade; o Tom Morello também é quase desumano.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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