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Zaia Freire lança “Uma Mulher”, EP de ritmos brasileiros

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*por Amcle Lima

Um EP de MPB de “raiz”, recheado de belas composições e uma produção de encher os ouvidos. Assim estreou Zaia Freire com “Uma Mulher”, que traz como tema o feminino. A capa logo revela: o busto de uma mulher nua fumando, te encara de forma penetrante, exalando poder e sensualidade, numa ilustração da artista visual Carol Silva. Izaias de Souza Freire é paranaense, filho de migrantes nordestinos, radicado em Joinville SC desde os anos 1990. Além de professor da rede pública estadual é doutorando em história e músico. Autodidata, em termos musicais, seu violão e sua mão são da música brasileira. Sua escola foram as apresentações e os espaços de samba da cidade de Joinville (sim, também se samba aqui). Em sua estreia, Zaia traz a mulher, ora a partir de um olhar masculino que venera, ora a partir da alteridade, colocando o eu lírico na voz feminina.

Homônima ao EP, a primeira música é “Uma Mulher”: uma bossa nova clássica, cujo arranjo de cordas do produtor e violinista Gabriel Vieira, do estúdio Araruna, é um deleite que contrasta com a letra da canção. À primeira vista a composição pode ser interpretada como o brado de uma mulher contra a arbitrariedade masculina. “Você é mais que indelicado, nem coras a face em tentar me calar”, dizem os versos. Entretanto, em seu material de divulgação Freire sugere uma interpretação política para sua canção, que traria na verdade a voz da democracia, e ressalta pontos que fazem referência ao atual momento de anticientificismo, negativismo histórico e arroubos autoritários. A sugestão do compositor confere uma dupla leitura à música e um desfrute a mais ao ouvinte.

A segunda canção, “A moça que passa”, entrega um dos trunfos do disco: o acordeon de Bebê Kramer. Em ritmo de xote, o acordeonista gaúcho passeia com elegância, enquanto a letra bem humorada fala de um amor marcado por uma diferença de idade. “Motivo de samba” é um samba-rock que aborda um romance leve, no qual a mulher alegre é inspiração. “Ela me deu motivo pra fazer um samba”, diz a letra, que narra também uma caminhada por uma avenida joinvilense. O destaque da produção fica para os arranjos de metais executados pelo saxofonista catarinense Braion Johnny. Os sopros também são a marca de “Stela”, a canção que fecha o lançamento discorrendo sobre a beleza feminina e se abrindo, sem medo de ser feliz, para o samba.

Antes disso o ouvinte recebe a cereja do bolo. Quarta música do EP, primeira a ter sido lançada em single, “Valsinha, No.2” é uma joia. Vários trunfos aqui: a leveza da composição e interpretação de Zaia Freire, a voz da cantora Rafaela Antonioli e a simplicidade do arranjo do violão de Gabriel Vieira em parceria com o acordeon de Bebê Kramer (um show à parte). Com certeza a melhor do EP. A estreia de Freire, assentada sobre a música brasileira clássica, fica marcada pela qualidade da produção e a participação de músicos de excelência como o pianista Fabio Oliveira, o baterista Rafael Vieira e o percussionista Jean Boca, além dos já citados. Se ainda não conhece o trabalho de Zaia Freire, procura lá na tua plataforma de streaming. Com certeza terás o deleite de um biscoito fino.

Foto: Diego Mattos

*Amcle Lima é marido da Janice, pai da Alice, do Pedro e do Samuel, foi baixista na extinta banda Dose do Dia entre 2008 a 2012 e desde então seguiu como compositor. Como jornalista colabora com a Revista Francisca e divide com o músico Ricardo Ledoux o papel de entrevistador no projeto “Reverbera em Casa”. Além disso é bancário e bacharel em Economia.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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