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“Afago”: Aldiaz retorna em álbum sincero, fiel às raízes*

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*por Amcle Lima

Aldiaz é um quarteto do norte de Santa Catarina, mais precisamente da cidade de Jaraguá do Sul. A banda, que completa 20 anos de atividade neste 2022, não gosta de citar referências para a sua sonoridade. Entretanto, ouso dizer que o grupo tem um pé no que se convencionou chamar de post-hardcore: uma música que mantinha a intensidade e distorção do punk, mas com uma boa dose de melodia. Apesar disso, o som da banda não se limita a uma diretriz e alarga para outras referências do indie rock. É neste contexto sonoro que a Aldiaz lançou, no final de fevereiro, o álbum “Afago”, no qual os arranjos fazem tudo o que a criatividade pode fazer com os três elementos fundamentais do rock (baixo, guitarra e bateria) e as letras chegam como assinatura.

Sim: são as letras que colocam a Aldiaz num lugar só dela. O texto da banda se diferencia de outros grupos que também apostam nesta sonoridade e em geral acabam versando sobre crítica social ou relacionamentos (de acordo com a vertente, mais ou menos engajada, pela qual cada um opta). A Aldiaz, por sua vez, versa sobre algo mais abrangente e fugaz: a vida (essa incompreendida). E versa com maturidade. Só quem tem mais “processamento na historia”, como diz um conhecido meu sobre o fato de envelhecer, ou seja, quem tem bagagem de vida, compõe versos como: “Pra quem foge da verdade, o pulso teima em bater/Pra quem foge da maldade, o mau não deixa esquecer”.

O álbum começa de leve, com a canção “Fugimos”, que contém os versos acima, e vai crescendo e ganhando intensidade aos poucos. Na sequência, com a faixa “A Três”, a banda diz ao que veio. Você não ouvirá grandes metáforas ou jogos de palavras da Aldiaz: as letras são diretas. É na simplicidade, sinceridade e empatia cotidiana que está a pungência dos versos do grupo. “E o que é de mal ficou pra trás, eu vou viver/São só três pra ser feliz demais/Traz um disco bom do Maia, bota pra rodar na sala/Aperta o passo e não demora, corre aqui pra me beijar”, narra o dia a dia de uma família de três e a lenha diária para manter acesa a fogueira da felicidade na fase “boleto” da vida.

Pequenas alegrias da vida adulta: a canção “A Três” é perfeita para você montar um vídeo com as suas fotos mais legais de passeios com os amigos e a família na praia – e perceber o quanto você já é feliz. E o que é mais legal, sem tirar os pés do chão, pois não vivemos num comercial de margarina: “Estou aqui lavando os pratos, venha logo pra jantar/Porque eu preciso me deitar/ Logo cedo eu vou sair, te levar pra passear”. Porque a vida (essa incompreendida) é sol e mar, mas é também um trânsito do caramba até chegar na praia, no qual o carro vai queimando a gasolina de R$ 7 o litro, comprada no cartão de crédito. E o refrão vem pra nos lembrar que somos nós que fazemos o dia: “Vamos fazer um dia bem feliz e esquecer o que a gente perdeu/Vamos fazer o dia mais feliz e ver de perto o que aconteceu”. Pra cantar a plenos pulmões, naqueles momentos em que a vida te encalacrar num trânsito monótono e repetitivo, no dia a dia. Afinal de contas, “felicidade é viver”, e só, como diz a canção “A Três”.

E assim “Afago”, o álbum, vai te ofertando um verso tocante aqui e outro ali. “Que só a esperança sempre leva a outro lugar”, diz a faixa “Em frente”. “Já esperei demais, não dá mais pra fugir do erro, sem poder se machucar”, diz “Afago”, a música. “Cantei para o fogo, com os pés no chão/Abracei o furacão com as mãos no céu/Eu vou levando em meu caminho um grão de calma em cada mão”, versa a música “Amanhã”. “O abismo da alma deságua, quando chega no topo da vida, nada mais vai te fazer sofrer”, esbraveja o vocalista Evandro Fuechter na furiosa “Catarse”.

Descubra os demais versos ouvindo as 10 canções intensas (boas de ouvir/boas de cantarolar) de “Afago”, até o disco se acabar calmamente no final da faixa “O que ficou”. Se fosse definir o álbum, gravado no home studio da banda, em duas palavras: simplicidade e criatividade. Em uma só palavra: sinceridade. A Aldiaz é Evandro Fuechter, vocal e guitarra, Jean Andrighi, no Baixo, Henrique Barcarolo, guitarra, e Roger Loss na bateria. A banda, que ao longo da existência, já viveu períodos mais intensos intercalando com longos hiatos, retoma agora a carreira reformulada. Altos e baixos, coisas da vida (essa incompreendida). Mas não esqueça: “felicidade é viver”, do jeito que dá, e só.

Foto: Raphael Günther

*Amcle Lima é marido da Janice, pai da Alice, do Pedro e do Samuel, foi baixista na extinta banda “Dose do Dia” de 2008 a 2012 e desde então seguiu como compositor tendo parcerias com músicos catarinenses e gaúchos. Como jornalista, colabora com a Revista Francisca de Joinville e atualmente compõe a mesa do programa “Papo e Cinema”, de Nielson Modro, transmitido pelas rádios Udesc FM Joinville e Lages. Além disso é bancário e bacharel em Economia.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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