O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music e Mini Kalzone
*por Amcle Lima
Guto Ginjo é vocalista e guitarrista da banda joinvilense Fevereiro da Silva, com quem segue casado e tem dois filhos: os discos “Posso ser o autor” de 2011 e “O Baile Sonhador” de 2015. No mesmo 2015, ele fez uma despretensiosa incursão solo num EP intitulado “Guto Bemposta”, no qual registrou algumas canções em estilo indie lo-fi. Ele chega agora às plataformas de áudio com “Sobre o que tem pra depois”: álbum com dez faixas inéditas e produção mais robusta, custeada por financiamento coletivo realizado em 2019. Ginjo assina sozinho oito das dez músicas, tendo apenas duas parcerias nas composições.
Se, no primeiro voo solo, ele se afastou das terras da Fevereiro da Silva (que tem sonoridade marcada pelo uso de um naipe de metais e canções energéticas) pelo clima intimista, agora, ele vai além, mesclando suavidade, energia e uma banda em grande conexão. A maior parte do instrumental do disco tem a assinatura do quarteto Guto Ginjo, no vocal e guitarras base, Júnior Gonçalves na guitarra solo, Julay JB no baixo e sintetizadores e Tiago Luis Pereira (vocalista da banda Mosaico Adulto, de Joinville) na bateria. Tiago assina a produção do álbum com Ginjo. Julay, por sua vez, é o diretor do estúdio WeCanDo, no qual foram feitas as gravações, e é também o responsável pela mixagem e masterização do disco.
“Sobre o que tem pra depois” abre com a canção “Boa-nova” fazendo clima com percussão, distorção e sintetizadores. Na sequência um riff de guitarra e depois um violão pop por cima de um baixo pulsante para as estrofes citarem Baudelaire e Belchior. A combinação inicial da primeira faixa é a carta de apresentação do disco: detalhes bons de ouvir, guitarra solo inspirada, simplicidade na alma e letras que entregam poesia. A segunda música, “Constelar”, segue a mesma estrada, na qual uma guitarra límpida ressalta o vocal de Guto que entoa: “Abra o peito, fecha os olhos, com coragem estende a mão”. Parece descrever a coragem necessária à jornada para longe das terras conhecidas, para a qual ele partiu vestido de astronauta, como mostra a capa do disco.
O violão brejeiro de “Desacelera”, terceira canção, lembra o Guto do primeiro EP. A letra por sua vez remete a uma conversa sincera, daquelas em que se diz verdades duras em voz tranquila: “Culpar o outro é solução ingênua de tentar / não ser também fração desse quadro”. E o disco segue assim mesclando momentos mais intensos com outros mais tranquilos, como ondas indo e vindo na praia do ouvinte. Destaque para a bateria elegante de Tiago Luis Pereira e a guitarra marota de Júnior Gonçalves em “Breve”. Também para o arranjo inspirado de “Conto do Vigário”, que tem crítica à política atual cifrada nos versos “Bolso vazio, nada na cabeça / Rota sem destino, onde vamos parar”.
Além do quarteto principal, contribuem para o instrumental Lucas Machado, baterista da Fevereiro da Silva, fazendo as percussões, Parffit Jim Balsanelli, baixista das bandas Os Depira e Cachorro do Mato, nas músicas “Breve” e “Conto do Vigário”, e Magdiel Lopes, tocando trompete em “Turbilhão”. Nas parcerias das composições estão Lauro Brandão, da banda Voluttá, na letra de “Turbilhão” e Daniel Moura, baixista da Fevereiro da Silva, coautor de “Constelar”. Eles completam o cinturão de amigos que acompanham Guto Ginjo nessa jornada, de se mostrar em letras sinceras e se arriscar longe da zona de conforto do quintal de casa. Vale o seu play.
Foto: Gabriel Silva/Madrigal Filmes
*Amcle Lima é marido da Janice, pai da Alice, do Pedro e do Samuel, foi baixista na extinta banda Dose do Dia entre 2008 a 2012 e desde então seguiu como compositor. Como jornalista colabora com a Revista Francisca e divide com o músico Ricardo Ledoux o papel de entrevistador no projeto “Reverbera em Casa”. Além disso é bancário e bacharel em Economia.