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O cantor, compositor e engenheiro de mixagem Murilo Ribeiro vive há dois anos em Toulouse, na França, e, como imigrante, sofreu discriminação. A experiência trouxe lembranças de preconceito vividas no Brasil e motivou uma transformação na sua carreira. Agora como Damian, sobrenome do meio da família, o artista, que até o ano passado vinha lançando trabalhos solo numa estética pop, mas já participou de bandas de rock (Plano dos Alces) e música regional (Cabana do Som) em Tubarão, sua cidade natal, recomeçou do zero. Além da nova identidade, o produtor musical está se aventurando em outro estilo. O single “I Take Your Money”, divulgado no dia 16 de maio nas plataformas digitais, inaugura a face rapper de Damian que, influenciado por nomes como Sabotage, Instituto, Daniel Ganjaman e Belchior, está produzindo um álbum de sete faixas que se chama “A palo seco” e será apresentado ainda neste ano.
O vídeo de “I Take Your Money” abre com a icônica fala de Lázaro Ramos no filme “Ó pai, ó”, de 2007, e expõe as consequências da relação entre o racismo e o capitalismo na vida de um homem negro brasileiro em versos como “algumas coisas me irritam, nada vira, mas teu racismo imundo tem tempo pra virar. Alucinado de capetalismo, trampando sorrindo, encarando o abismo com as contas pra fechar. Quem tem boca vaia Roma, soltar raiva no meu disco, tá na hora de cobrar”. E a forma que Damian encontrou para colocar o dedo na ferida foi abraçar o boom bap. “Quando emigrei e comecei a trabalhar as pessoas me tratavam como uma folha em branco, sem cultura, ideologia e vontades, como se eu não tivesse pai nem mãe. Essa realidade me levou a procurar ajuda psicológica, mas também a compreender a hostilidade do capitalismo. E foi aí que comecei a escrever essas músicas”, explicou. Em contato com o Rifferama, o músico comentou sobre as mensagens do álbum e essa reviravolta artística.
— Começar do zero é uma questão que foi bastante importante pra mim. Queria remodelar as coisas, mostrar esse outro lado do meu quintal, de expressar o que na verdade eu já sabia que estava ali, com todos os preconceitos que já sofri no Brasil e que aqui eles despertaram, me fizeram sentir dor de novo. A minha esposa sempre me vê estressado por causas geopolíticas e falou para eu compor algo sobre isso, mas não era verdadeiro falar sobre o que não aconteceu comigo ou ao meu redor, então comecei a escrever sobre racismo, que é o que presenciei, até dentro da família. E a escolha pelo rap foi muito natural, sempre esteve dentro de mim. Estudei bastante métrica, os grupos e a história do hip hop tudo de novo, dessa vez com um olhar mais científico mesmo, sobre a questão musical. Será um álbum sobre essas dores, com muita palavra e mensagens diretas.
Foto: Jessica Cardoso