O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music, Mini Kalzone e Orquestra de Baterias
A cena de música independente de Santa Catarina (e do país) perdeu um grande incentivador no último domingo (28). Faleceu aos 56 anos, em decorrência de um câncer, o ambientalista Ivair Nicocelli, proprietário do Curupira Rock Club, lendário espaço para shows fundado em maio de 1992, em Guaramirim. Pelo local, que colocou a cidade do norte catarinense na rota de bandas brasileiras e internacionais, passaram nomes como Ratos de Porão, Cansei de Ser Sexy, Dead Fish (foto), Garotos Podres, Autoramas, Rotting Christ (Grécia) e muitos outros.
A partida de Iva, como era conhecido, gerou grande comoção nas redes sociais e, a pedido do Rifferama, o produtor cultural Kélson Marcelo, baterista das bandas Fly-X (recordista em shows no Curupira) e Rec On Mute, enviou o depoimento que transcrevemos abaixo:
O Ivair foi um visionário e sempre gostou de música. Com a ajuda de mais pessoas o Curupira foi tomando forma, conseguindo colocar cada vez mais shows. Todas as bandas da época queriam tocar ali, o nome ganhou proporção em nível nacional e todos os eventos eram focados na música autoral e independente, era isso que ele gostava e sempre prezou e dá pra ver isso muito bem nos depoimentos dele no documentário (“Onde o pai cura e o filho pira”) que foi produzido pelo Gustavo Kaly.
Ele estava sofrendo de câncer, que veio a prejudicar muito a coluna dele, tinha perdido o movimento das pernas. No dia em que ele ganhou alta do hospital, a irmã dele colocou ele para gravar um áudio pra mim lembrando da nossa história juntos, que guardo com muito carinho. Foi um privilégio ter sido amigo dele e uma baita honra ter produzido vários shows lá, sozinho ou em parceria com o Pierre, e ter frequentado esse lugar tão legal onde fiz vários amigos. O Curupira ajudou a moldar o gosto musical de muita gente e fortaleceu a música independente. Tinha um clima único.
O Ivair deixa essa história. Muita gente queria montar banda para tocar no Curupira. Era um cara muito humilde, gostava muito da natureza, tinha uma associação ecológica, fazia shows no Dia Mundial da Árvore, e o próprio nome do Curupira (defensor da natureza no folclore brasileiro) veio disso. Ele era querido por muita gente e nunca desistiu desse sonho dele. O Curupira foi um enorme sucesso, entre altos e baixos, sem ajuda financeira de ninguém, tudo na camaradagem das bandas, do Edson, que fez por muito tempo a parte de aparelhagem pra ele. É muita história pra contar. O Ivair vai fazer muita falta e merece todas as homenagens possíveis.
Foto: Raphael Günther