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Explícita, MC Clandestina combate preconceito na cena funk

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A cantora e compositora Suzi Oliveira, que se apresenta como MC Clandestina, não tem papas na língua. Natural de Maringá (PR), a artista militou inicialmente no movimento hip hop, participando da organização da Batalha das Mina, em Florianópolis, responsável pelo surgimento de muitas rappers e coletivos como o Trama Feminina. Nos últimos anos, Clandestina vem migrando para o funk e trazendo outros assuntos para as suas músicas, como o a sexualidade, mas sem perder a veia contestadora e o humor ácido. Com 12 singles lançados desde 2017, a MC está preparando o seu primeiro EP, com cinco faixas — “Posso levar?” e “Peludona” foram divulgadas em julho e novembro do ano passado, respectivamente. Gravado no Akasha Floripa, o material tem beats de FAL e Jay Gueto, responsável pela mixagem e masterização, e mistura o funk com o rap. “Até para não tirar 100% das minhas origens. Esse trabalho é uma transição para mostrar que eu posso fazer funk, uma mistura dos dois trabalhos”, comentou ao portal.

Para MC Clandestina, cantar é uma forma de resistir. Em um gênero dominado majoritariamente por artistas homens que, na sua maioria, falam sobre as mulheres de uma forma pejorativa e violenta, num papel de submissão, falar de sexo sempre atrai olhares contrários. Em dezembro, a artista participou de um show da MC Versa, em Florianópolis, e percebeu a reação do público quando começou a mandar as suas rimas. “Quando cantei “Posso levar?” basicamente todos os caras saíram da pista, ficaram só as minas e os parças. Eu faço música para incomodar, a arte não está aí só para satisfazer, ela está aí para gerar reflexão”, lembrou. Nada que faça a MC perder o rumo. Pelo contrário, só reforça a decisão de seguir esse caminho de contestar os padrões impostos. Em contato com o Rifferama, MC Clandestina falou sobre o conceito do EP e as suas letras explícitas.

— A minha ideia mesmo, principalmente no funk, é passar esse olhar feminino, empoderador, trago uma reflexão para quem escuta e um poder de uma palavra com mais autonomia, mais corpos livres. Eu poderia cantar qualquer coisa que está na moda, mas escolho cantar o que vai fazer as pessoas refletirem, com um toque de humor ácido, como em “Peludona”. É complicado falar sobre coisas explícitas, principalmente quando é uma mulher falando. Sempre tenho algumas portas fechadas, muita gente não gosta ou deixa de me chamar pra shows por isso. Eu entendo, às vezes não é a proposta do evento ou artista, mas quantas vezes os caras também falam coisas explícitas, tanto no rap quanto no funk, e não taxam eles da mesma forma que nós somos julgadas? O funk também não abraça nós mulheres, é muito mais difícil ver uma mulher falando de um ponto de vista que vai satisfazer ela em primeiro lugar e ser ouvida pelo público masculino. Sempre faço esse questionamento. Parece que a gente está avançando, mas ainda tem muito preconceito na cena.


Foto: Aline Mazzante

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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