Gaia Wilmer Sexteto

Gaia Wilmer Sexteto leva o jazz ao sertão de Mário de Andrade

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*por Rodrigo Schwarz

Mário de Andrade (1893-1945) fez pela música folclórica brasileira o que Alan Lomax realizou pelo blues, nos Estados Unidos. Seu minucioso trabalho de documentar cantigas rurais, na década de 1930, não só ajudou a preservar um tesouro cultural como também ainda inspira artistas contemporâneos. É o caso do álbum “Epiderme desvairada”, lançado pelo Gaia Wilmer Sexteto. As composições de “Epiderme Desvairada” são inspiradas nas pesquisas e melodias transcritas por Mário — além de conter uma canção composta pelo próprio poeta, “Viola quebrada”. As demais músicas foram escritas pela líder do grupo, a saxofonista Gaia Wilmer (e a faixa “Maria mangangá” em parceria com Paulinho Brandão).

Os temas de Mário deram origem a um jazz moderno que encapsula num só álbum a riqueza da música instrumental brasileira, canto e afiados improvisos. Essa é uma das marcas das composições de Gaia, costurar melodias bem trabalhadas e memoráveis (como já atesta a música de abertura, “A Viagem da Tristeza”) com momentos em que os instrumentistas são liberados para improvisar — afinal, é um disco de jazz. É o caso da faixa “Meu amor por onde está”, onde um hipnótico riff circular e um loop com cânticos folclóricos servem de base para o sexteto criar um clima que lembra o vodu de Miles Davis em “Bitches Brew”. “Uma coisa que me interessa muito é a improvisação, com certeza. Mas tem também essa coisa de quando você não sabe bem o que está escrito e o que é improviso. Sempre que eu escuto música e tenho essa sensação, eu fico muito intrigada. É algo que eu busco e está em todos os meus discos”, explica Gaia, que formou-se em Jazz Composition na Berklee College of Music.

E Gaia reuniu um grupo de exímios instrumentistas e vocalista para vagarem com ela nessas indefinidas fronteiras entre notas na partitura e improvisos. Participam do álbum Maiara Moraes (flautas), Josué dos Santos (sax tenor e flauta), Fábio Leal (guitarra), Fi Maróstica (baixo), Cleber Almeida (bateria) e Lívia Nestrovski (voz) — além da própria Gaia no sax alto e teclados. “Esse é um grupo que montei logo quando vim morar novamente no Brasil, em 2019. Eu não queria só trazer músicas que eu escrevi para outras pessoas. Queria realmente compor com essa intenção mais brasileira, para pessoas daqui. Eram músicos que eu já conhecia, uns mais e outros menos, mas que eu admirava muito o jeito de tocar”, diz Gaia.

A gravação de “Epiderme desvairada” também merece destaque. Ele foi produzido por Gaia e mixado por Thiago Rabello no Estúdio da Pá Virada, em São Paulo. O álbum tem uma sonoridade que lembra as produções de Egberto Gismonti no selo alemão ECM, mas com texturas modernas, graças ao bem dosado e elegante uso de efeitos sonoros. “Cada vez mais as pessoas estão misturando coisas e no jazz não é diferente. Tem muita gente juntando pop, R&B, rap e influências regionais com o jazz. O que eu faço não é muito diferente disso. Eu tinha essa vontade de mesclar um pouco com música eletrônica e nesse trabalho tive essa oportunidade, já que ele é a mistura de algo mais tradicional, que foi a fonte de pesquisa, com algo contemporâneo. O uso de efeitos propicia isso, mais descaradamente”, aponta Gaia.

Foto: Dani Gurgel

*Rodrigo Schwarz é jornalista e também guitarrista e letrista da banda Lado Errado

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

Um comentário

  1. Fiquei com vontade de ouvir!

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