Há pouco mais de um ano, Hugo Deigman largou tudo em Timóteo (MG) para assumir o posto de vocalista e baixista do Khrophus, uma entidade do death metal nacional. Neste sábado (5), o músico volta ao seu estado natal para participar de um evento TEDx no Teatro Zélia Olguin, em Ipatinga. O tema da sua palestra será “A tranquilidade de ser laico”.
Deigman foge de qualquer estereótipo ligado ao metal. Chef especializado em culinária vegana integral e funcional (Anarcozinha) e poeta, o frontman se surpreendeu com o convite feito pela organização. A experiência de palestrar na TEDx em Ipatinga será ainda mais especial por estar a 20 quilômetros da cidade onde nasceu. O músico teve de bater o pé para manter o assunto escolhido.
– Ser laico é não professar nenhuma fé ou crença como verdade de maneira que isso intervenha na organização pública. Acredito que uma pessoa possa escolher ou não participar de uma fé e, a partir disso, ela pode se limitar a fazer certas coisas, mas não pode limitar outras pessoas. É o direito que as pessoas têm de fazer escolhas sem levar em consideração a fé das pessoas em seu entorno. Em princípio tentaram me persuadir para não tocar em temas como política e religião, mas quem me conhece sabe como eu lido com minha vida e minha forma de me expressar nas artes. Seria impossível não tocar nesses assuntos. Mas vou falar de mim, afinal, não sou eu quem quer impor coisas às pessoas, o próprio Estado e a religião já o fazem.
Sobre o Khrophus, Deigman vive uma dicotomia. Enquanto o fascismo da cena metal o incomoda, o trabalho e relacionamento com os companheiros de banda Adriano Ribeiro (guitarra) e Carlos Fernandes (bateria) não poderia ser melhor. No momento, o grupo trabalha na produção do quarto álbum de estúdio e tem shows marcados em Florianópolis, Rio Negrinho, Bento Gonçalves (RS) e Indaial nos próximos meses.
– Quando vi que o Alex (Pazetto, baixo e vocal) havia saído eu larguei a vida em Minas e vim sem pensar muito. Não é tão fácil se adaptar assim, não. O fascismo na cena daqui é na cara do que em Minas. Lá é menos conservador, como tem que ser. Aqui parece mais “normal”, mas ainda assim é uma minoria. Nunca tinha vindo ao Sul antes. Em contrapartida, as pessoas que respeitam e curtem o Khrophus têm demonstrado uma reação positiva para comigo que eu nunca senti tocando em nenhuma outra banda. Além de ser incrível tocar numa banda assim, posso dizer, também, que o convívio com o Adriano e o Carlos tem me feito evoluir muito como pessoa e como músico. Tocar no Khrophus me fez acreditar em mim de novo, que posso fazer o que quero: viajar, tocar, compor e levar isso adiante, como algo que me dá motivo para viver. Todo o resto – músicas, discos, turnês – são consequência, mas temos trabalhado bastante para concretizar essas coisas.