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Murdock se revigora com primeiro EP “Entre tigres e lobos”*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music e Mini Kalzone

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*por Matheus Jacques

O apelo de rebuscar as sonoridades primordiais, as raízes setentistas do heavy rock e do blues presentes nos mais inesperados e maravilhosos recônditos sonoros, é algo inerente em todo um universo de bandas em nosso atual momento. Retrô, vintage, toda uma sorte de alcunhas atribuídas a esse numeroso grupo. Em alguns casos, feito de forma atrativa e inspirada. Em muitos outros, resultando em um pastiche inócuo e falho. E ao primeiro grupo, aglutinando o old school com elementos mais contemporâneos, soma-se a Murdock, de Tijucas.

Formado no ano de 2019 como um trio essencialmente mais guiado à sonoridade psicodélica e alternativa, inspirado por nomes como Tame Impala e outros análogos, o (agora) quarteto veio desde então refinando sua musicalidade de forma a abraçar as vertentes mais duras, retumbantes e enérgicas do rock and roll, apelando ao stoner, doom e heavy blues para moldar seu lascivo painel sonoro, alimentado por um sólido e eficiente trabalho de guitarras, por uma cozinha entrosada e pelo diferenciado e afiado vocal de Guilherme Sezoski.

Para as músicas presentes no EP intitulado “Entre tigres e lobos”, vale dizer que a atual presença da segunda guitarra do também produtor Rafael Rau somou uma camada extra na composição no material, o que agregou apenas positivamente no trabalho. Sezoski exerce com zelo e capricho seu trabalho na dianteira da formação, mas certamente a entrada de Rau vem entregar uma energia adicional que muito complementa o EP.

Somado a isso, temos a pulsante e elétrica presença do baixo de Pholl Gregorio preenchendo as lacunas e ditando o bom andamento dessa caminhada, enquanto Guilherme Franco exerce seu trabalho por trás do kit de bateria com muita correção e eficiência. Os quatro elementos interligados proporcionam uma experiência de rock and roll de primeira linha com composições em português, exaltando e reverenciando nomes que vão de mestres internacionais como Black Sabbath e Led Zeppelin a medalhões nacionais como Patrulha do Espaço.

Entre os destaque do material, além é claro da produção que por si só confere uma maturidade e personifica as boas decisões e empenho da jovem banda, certamente pode-se pontuar os singles previamente lançados: “Irônico maldito” e seus luciféricos riffs de heavy rock complementados pelo baixo de Pholl estralando; “Olhos sinistros”, primeira faixa lançada em detrimento desse novo lançamento, aqui com uma repaginada muito bem-vinda e exalando um heavy blues de grande categoria; e o mais recente “Vingança das bruxas”, uma serpenteante canção versando sobre uma colérica revanche das bruxas contra seus algozes.

Aliás, que se deixe claro também a temática: Murdock encarna com vontade o lirismo sobrenatural, de horror e fábulas soturnas em suas faixas. E as outras três canções, intituladas “Ser”, “Entre tigres e lobos” e “Pesadelo acordado”, também nos atraem com seus próprios méritos, complementando esse ótimo material desenvolvido em solo catarinense, algo que vem somar no recente panteão de stoner e heavy rock que vem surgindo em nosso estado.

“Entre tigres e lobos” é, acima de tudo, o manifesto de uma banda que atinge com primor seu potencial e o transpõe para a realidade. Transpirando vontade, expelindo energia pelos poros, na base da garra e de boas referências, a Murdock não se furta e não tem vergonha de encarnar em sua música suas influências, inspirações, mas adicionando seu próprio toque pessoal e harmonizando o clássico e o novo com sabedoria.

Foto: João Sgrott

*Matheus Jacques é produtor na Bruxa Verde, artista na Crochê Arretado e redator musical

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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