*por Victor Guilherme
Não adianta negar: Todos nós formamos uma primeira impressão de tudo que nos aparece como estímulo. Essa impressão pode até ser inconsciente, mas ela é resultado de um processamento cognitivo (culpa do córtex) e é determinante para nossa empatia ou não com determinado estímulo.
No meu caso, quando escuto uma música pela primeira vez, tento sentir se aquilo que escuto é ou não verdadeiro para o artista (segundo minha opinião!). Parece subjetivo demais, mas a gente percebe quando algo é forçado, simplesmente não bate, não rola.
Uma coisa legal na música é que ela (seja qual for o estilo) é como os olhos de uma criança bem pequena: não consegue esconder nem mentir! Acho que é por isso que a primeira impressão que tive do compacto “Matéria Solúvel” do Murilo Salazar foi de empatia e interesse em continuar ouvindo: aquilo me pareceu verdadeiro e sincero.
Murilo não tem medo de soar óbvio, romântico ou piegas. A sinceridade nas letras e simplicidade nas músicas parecem tão verdadeiras que você rapidamente entra no universo que o tema das canções propõem.
Autobiográficas, as letras aos poucos vão concretizando a sensação que o título já apresenta de cara: o feito que se desfaz, a solidão que se refugia no amor, a busca pelo inatingível, e o contrário de tudo isso também. É uma sensação muito interessante, de linguagem romântica, bem humorada e que tem como principal característica o estilo do Murilo de colocar as palavras e brincar com as melodias, driblando o óbvio.
Em termos harmônicos, as canções são muito simples, o que me agrada muito. Conheço compositores que não admitem fazer uma música com base em quatro acordes simples, como se isso fosse uma ofensa ao seu “vasto” conhecimento ou capacidade. E isso é uma bobagem. Quando o compositor/artista chega a tal nível de julgamento, ele já não está permitindo que seu coração “fale” verdadeiramente através de sua obra. Infelizmente, quando isso acontece, a música passa a ser um objeto em vez de uma mensagem (algo bem comum hoje em dia).
“Matéria Solúvel” é um excelente debut, e me chamou a atenção principalmente pela assinatura do Murilo no estilo de escrever e de colocar sua voz. Com certeza espero ouvir mais desse compositor no futuro.
A produção, mixagem e masterização ficaram por conta de Felipe Melo (Templa), num processo que durou aproximadamente nove meses, desde as canções “cruas” em voz e violão até o lançamento. Participaram também deste projeto os músicos João Mateus da Rosa, José Neto, Carlos Schmidt e Samantha Mantovani Muniz. A fotografia da capa é de Yan Barcellos.
Foto: Yan Barcellos
*Victor Guilherme é compositor e se expressa por meio do projeto Tempestade Futura