monteresina-rifferama

“Nem era”, o caos pungente e indispensável de Monte Resina*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Mini KalzoneCamerata FlorianópolisBiguanet InformáticaTUM Festival e Desterro Autoral


Contribua com a campanha de financiamento coletivo do Rifferama no Catarse

*por Matheus Jacques

Tentar “rotular” a sonoridade da instituição de som pesado ilhéu nomeada Monte Resina é quase tão fácil quanto tentar entender o significado por trás da aparente jocosidade a respeito do nome das faixas de seu material. Vivências? Piadas internas? É virtualmente impossível presumir esses significados sem um conhecimento de causa do grupo, mas é bem mais que virtualmente obrigatório conhecer o universo musical dessa banda, que após sete anos do lançamento de seu último registro, “Aluado Bulimor” nos traz sua nova obra, “Nem era”.

Industrial, quebrado, por vezes atrelado ao stoner, ocasionalmente ao progressivo, ao post-metal e ao post-hardcore, mas sempre criativo e demonstrando fugir do esperado, o som instrumental da banda conduz por caminhos imprevistos, sem amarras, martelando com riffs convictos e faiscantes. A construção musical das suas faixas, baseadas principalmente nos referidos riffs e, também, em um trabalho envolvente e impecável de bateria, é caótica, surpreendente, se lançando sobre o ouvinte que ousa adentrar seu universo como um leviatã sonoro. Demonstrando ser inspirada por bandas como ISIS, Helmet, Neurosis, Truckfighters e outras, o grupo navega solto em “Nem era” sobre essas referências.

“Hum na Mão”, com sua incessante quebra de ritmos e andamentos, entregando tudo e mais um pouco no quesito “quebrar o acordo com a harmonia”, e “Le Cloner”, são os primeiros pontos de destaque do novo álbum, com sua já citada implacável entrega de riffs verborrágicos e incendiários aliados a uma surra daquelas na bateria. É sempre bom ver um baterista que sabe, de forma equivalente, descer a lenha e também, entregar uma construção técnica e criativa. As primeiras faixas já demonstram nesse material essa caminhada pela senda dos “posts” (post-metal e post-hardcore) um fator bem reconhecível de quem já é habituado ao som da banda, mas que facilmente deve também entregar aos incautos uma estranha, porém recompensadora sensação de estranheza e surpresa. Monte Resina cria uma atmosfera cativante, tanto para os novatos quanto para os ouvintes habituais.

O repertório segue com mais faixas de alto nível: “Afanador Disqueiro” já se desvela com a tradicional união de espancamento e demonstração de criatividade na bateria, convidando o ouvinte a uma generosa dose de “quebraceira de pescoço” ao ritmo de seus passos tortos; “Ceifa Marreta” traz mais dos riffs metálicos e “robóticos” tradicionais do grupo, proporcionados por Paulo Tefili com louvor e afinco; e “Década”, com sua aura atmosférica mais suave e reconfortante, vem como um ponto fora da curva para iniciar o fechamento do material de forma assertiva, aprazível, entregando para “Palácio do `Pastor” encerrar a jornada com mais um lampejo de caos e imersão.

“Nem era” marca o fim do ciclo de espera por um trabalho inédito da Monte Resina, e sucede “Aluado Bulimor” de um forma que nem os mais ousados e esperançosos ouvintes da banda ( e apreciadores de uma boa música instrumental no geral) poderiam desejar. O material é honesto, orgânico, magnético, recebendo o ouvinte como um soco no peito e uma marretada no cérebro, ou um prego cravado no cérebro, entregando o melhor material lançado pelo grupo até hoje. Audição indispensável.

Ficha técnica

Paulo Tefili: Guitarra e composições, exceto “Aldo Cocoroca” (Paulo Tefili, Cainã Almeida e Roger Benevenutti)
Cainã Almeida: Baixo
Roger Benevenutti: Bateria
Captação: Júlio Miotto e Paulo Franco no Ouié Studio
Mixagem: Júlio Miotto
Masterização: Fernando Delgado e Bruno Martuchello
Arte da capa: Rafael Ruzza e Alexandre Mil
Produção: Júlio Miotto e Monte Resina

*Matheus Jacques é produtor na Bruxa Verde, artista na Crochê Arretado e redator musical

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

Um comentário

  1. Esse novo disco amadureceu sem perder a essência da banda ! Gostei e muito! Parabéns ao Paulinho e ao grupo. Top demais. Ansioso pelo terceiro!

DEIXE UM COMENTÁRIO.

Your email address will not be published. Required fields are marked *