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O testemunho pungente de “Podridão”, álbum da Acidemia*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music e Mini Kalzone

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*por Matheus Jacques

Surgindo como um pungente e impactante registro dos tempos sombrios que vivemos, o primeiro álbum completo de estúdio da banda catarinense Acidemia, oriunda de Lages, é massivo. Dos riffs tétricos e lisergicamente ardidos ao vocal etéreo e aclimatado ao ambiente obscuro criado pelo grupo, todo o background de “Podridão” nos remete a uma “trip” pesada. Sufocante. Que à primeira vista, pode soar como um fator negativo, mas nem de longe é o caso no que se refere a esse trabalho de sete faixas lançado no final de Julho.

“Podridão” é um manifesto, talvez indigesto para alguns, mas quase que certamente bem recompensador para a grande maioria dos ouvintes das vertentes stoner rock e doom metal, da conduta e essência humana. Abordando temáticas como depressão e angústia e tratando dos “demônios internos” do ente humano, o material completamente composto em português apresenta um patamar em que o trio formado por Henrique Soares (baixo e voz), Mateus Varela (guitarra) e Thiago Granetto (bateria) se alinha de forma a elevar sua sonoridade a um nível deveras sólido.

Buscando influências em nomes como Electric Wizard, Windhand, Black Sabbath e Olde One, a Acidemia entrega uma profusão de riffs marcantes embalados por uma equilibrada cozinha. Gravado no estúdio Fatboo, em Lages, e mixado e masterizado por Steffan Duarte, o álbum dosa de uma forma bastante eficiente sujeira e compreensão, permitindo que o universo sujo, encardido e por vezes incômodo do material soe muito bem “mastigável” — ainda mais facilmente se você já for um iniciado desse tipo de sonoridade. Todas as faixas passam de seis minutos de duração, e delas destaco o ótimo single “Névoas de Ácido” (primeiro som lançado do disco e que também ganhou um videoclipe, a faixa-título “Podridão” com seus riffs demenciais e atmosfera sufocante, e claro, a derradeira “Cachimbo”, uma jam sem amarras e profundamente insana com mais de vinte minutos de duração.

“Podridão” pode não ser um material facilmente assimilável, um tanto intempestuoso e enervante em sua proposta e ácido por suas influências e bases. O trio absorve elementos bastante básicos do stoner/doom e “cospem” o resultado sem a mínima subserviência ao tradicional e sem pudor. Pode não ser o material que irá revolucionar ou tirar da manga uma nova camada para o gênero, um novo ciclo de originalidade, mas também passo longe de ser tão inocente a ponto de acreditar que essa era a pretensão da banda: em caminho oposto, vejo como uma expressão primordial, nua e crua, da essência humana. Áspero, verborrágico, impactante. É assim que me soa o ótimo “Podridão”, álbum que segue marcando o cenário catarinense despontando dentro das vertentes psicotrópicas.

*Matheus Jacques é produtor na Bruxa Verde, artista na Crochê Arretado e redator musical

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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