Ouça a playlist exclusiva com os melhores lançamentos de 2019
AlphaJorge — Storm Ahead
O álbum de estreia da AlphaJorge é impressionante. Em quatro anos de formação, a banda liderada por Arthur Rodrigues (voz, guitarra e teclados) passou por mudanças de integrantes e, no meio do caminho, encontrou a sua sonoridade. O rock progressivo de “Storm Ahead” não tem companhia equivalente no Brasil e, sem exageros, faz frente a qualquer lançamento do gênero em 2019. Duvida? Ouça a épica “Halfway to the Light” e tente não ficar de queixo caído – mudanças de andamento inesperadas, solos floydianos e um vocal inspiradíssimo de Rodrigues, que emociona na reprise da faixa ao piano no encerramento do disco.
Blue Lips — Dancing by the Cliff
A Blue Lips é aquele tipo de banda que, como dizem, chega com os dois pés. Emanuella Cividini (voz), Paulo Henrique (guitarra), Alexandre Palácio (baixo) e Matheus Boaventura (bateria) começaram a compor em 2018 o material apresentado no excelente “Dancing by the Cliff”. O álbum, produzido por Júlio Miotto, faz um som vigoroso, com influências que vão do post-punk ao rock alternativo dos anos 90, passando pelo blues, como em “Lunar Trip”, faixa que conta com a participação de Mauro Fontoura (Muñoz) na guitarra. Revelação do ano.
Capim — Capim
A duradoura parceria entre Luminoso (voz e violão) e Didi Maçaneiro (vocais) nos palcos se transformou em um dos principais produtos da música catarinense. Desde o lançamento do primeiro single, “Minha oração”, em dezembro de 2017, o Capim prometia fazer algo especial. Só não esperava tanto. O disco de estreia do duo de Brusque, gravado em São Paulo (SP), é uma obra-prima, um trabalho que inspira sensibilidade. É música feita com o coração, do fundo da alma, para semear o amor. Um dos melhores álbuns da década, certamente.
Di Fulô — Di Fulô
O primeiro álbum da Di Fulô abre com “Pro Bituca”, uma instrumental furiosa que mostra as credenciais do grupo – percussão marcante, violão sinuoso e o toque especial do violino. “Liberte-se” explora a riqueza da música brasileira, em especial o forró: tem muito xote, xaxado e baião. A combinação das vozes de Natacha Vieira e Fabio Sung faz a audição transcorrer de forma leve e gostosa. As letras são variadas, da romântica “Bem agarradinho” ao grito de liberdade “Não posso calar”. Belo trabalho.
Futuro Sujo — Ressonância
A maior satisfação em fazer a curadoria dos lançamentos em Santa Catarina, além de deixar um documento para pesquisa, é descobrir novos sons, como o Futuro Sujo. Pouco se sabe a respeito desse projeto de Blumenau, que parece avesso às redes sociais. “Ressonância” soa como um ritual de purificação. O álbum traz letras existenciais sobre batidas adornadas por samples de piano, numa linha bem jazzy. Em um ano com tantos trabalhos incríveis no rap pelo estado, o Futuro Sujo se destacou com disco tranquilo, que surpreende pelo bom gosto.
João Gabriel Rosa — Alariba
É impossível não se lembrar de Yamandu Costa ao ouvir o trabalho do lageano João Gabriel Rosa. “Alariba”, segundo álbum do violonista, é um primor. Virtuoso na medida, Rosa concentra a sua energia nas melodias – mais composição, menos improviso. O único defeito do disco é ter apenas 25 minutos. Eu poderia ouvir músicas como “Voo raso”, “Fierro” e a faixa-título por um dia inteiro. A aura nativista, reforçada pelo acordeon, traz um charme a mais para “Alariba”, que coloca João Gabriel Rosa entre os grandes da cena instrumental catarinense.
Muñoz — Nekomata
A trajetória do Muñoz é curiosa. Nascidos em Mineiros (GO), os irmãos Mauro (voz e guitarra) e Samuel Fontoura (bateria) formaram a banda em Uberlândia (MG) em 2012. Radicados em Florianópolis desde 2016, o duo apresenta uma bem-vinda mudança estética no terceiro álbum, “Nekomata”. Ainda há um resquício do stoner rock blueseiro praticado nos trabalhos anteriores, os ótimos “Nebula” e “Smokestack”, mas o novo Muñoz se tornou mais relevante com “Nekomata”, recheado de efeitos e com uma pegada psicodélica. Um disco transcendental.
Red Razor — The Revolution Continues
Quatro anos depois do lançamento de “Beer Revolution”, a Red Razor repetiu a parceria com o produtor Alexei Leão em “The Revolution Continues”. A banda soa mais brutal e complexa no segundo disco, trazendo influências do death metal. Os vocais de Fabrício Valle melhoraram muito em relação ao primeiro álbum (grande variação e alcance) e são uns dos destaques do álbum, ao lado das letras, cada vez mais politizadas, como em “R.I.P. Democracy”. O posicionamento do grupo, inclusive, causa tanto orgulho quanto a pancadaria que sai dos alto-falantes.
Tarrafa Elétrica — Cardume
O grande trunfo do Grupo Cultural Tarrafa Elétrica, de Itajaí, é fazer uma música com fortes traços regionais numa roupagem moderna. “Cardume” é um trabalho tão rico e importante que merece ser reverenciado. São tantas referências a nossa cultura, seja no som ou nas letras, que o sentimento de identificação bate de imediato. Costurado com os fãs nas redes sociais, desde o projeto gráfico às composições, o álbum mistura viola caipira, heavy metal e até rap em “Cardume” que, acima de tudo, é catarinense na raiz. Necessário.
Wolken — Sono de inverno
“Sono de inverno”, da Wolken, é uma das surpresas do ano. Formada em Benedito Novo, município do Vale do Itajaí com pouco mais de 11 mil habitantes, a banda lançou o seu primeiro registro em 2016. A diferença do álbum de estreia para o EP “Caos calmo” é gritante. A Wolken soa bem melhor com letras em português, acredito, pois o dream pop feito pelo quarteto é ideal para sentir, ouvir de olhos fechados e curtir cada detalhe. Um disco bonito, relaxante, com boas linhas de vocal e guitarra, com potencial para ir mais longe.