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Os melhores álbuns lançados em Santa Catarina em 2024

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Adorável Clichê (Blumenau) — “Sonhos que nunca morrem”

A Adorável Clichê vive um momento especial. Seis anos após o lançamento do primeiro álbum, “O que existe dentro de mim”, que chegou longe no cenário independente brasileiro, a banda passa com folga na prova do disco, com “Sonhos que nunca morrem”. O registro, produzido pelo guitarrista Marlon Lopes da Silva, apresenta uma evolução no aspecto técnico, de gravação, mas também de sonoridade: o grupo de Blumenau, que é formado por Gabrielle Philippi (voz e composição), Felipe Protski (guitarra, sintetizador e voz) e Gabriel Geisler (baixo), também soa mais maduro, com a já conhecida mistura de shoegaze e dream pop.


AMARINA (Chapecó) — “Brisa de domingo”

No seu primeiro álbum, a cantora e compositora AMARINA (Marina Pelizza) repete a parceria com Giba Moojen (Nossa Toca) e Vitor Kley: além do trabalho de gravação em estúdio, o trio assina as canções “Açaí”, “Banho de mar” e a faixa título. “Brisa de domingo”, em comparação com o EP “Coisas de você” (2023), soa mais pop e brasileiro — a pegada folk ainda está presente, representada na inclusão de duas músicas do seu registro de estreia. A aproximação da artista com o samba e as letras românticas são características marcantes desse trabalho, que tem ótimas melodias vocais, refrãos pra cantar junto e uma produção de alto nível. Destaque para a balada “Pudim”, com a participação de Carol Biazin.


Bárbara Kristensen, Marcela Backer e Natália Pereira (Navegantes/Itajaí) — “Rezo”

Em 2021, Bárbara Kristensen e Natália Pereira começaram um projeto de pesquisa de repertório de cultura popular. Desse estudo, que foi reforçado com a adesão da violonista Marcela Backer, surgiu “Rezo”, álbum produzido e arranjado (em parceria com o trio) pela cantora, compositora e também pesquisadora de ritmos e tradições regionais Ana Paula da Silva. Em sete faixas, incluindo “Cangoma me chamou” (Domínio público), Bárbara, Natália e Marcela se inspiram nas cantigas das manifestações brasileiras, em especial às realizadas por mulheres, e na tradição oral, como boi de mamão, terno de reis e ratoeira, para encantar com as suas vozes. “Rezo”, viabilizado pelo Edital Vilma Mafra, da Fundação Cultural de Navegantes, é um tesouro. Viva a cultura popular.


Beli Remour (São José) — “Noites em azul profundo, 1993”

A cada novo trabalho fica cada vez mais difícil classificar o que faz o produtor Beli Remour. O artista de São José há tempos transcendeu a estética do rap, ainda que “Noites em azul profundo, 1993” tenha muito do estilo, trazendo participações do quilate de FBC (em duas faixas), Terra Preta, Murica e do fiel parceiro Makalister, com quem lançou o álbum “A volta da esperança” neste ano. 2024 ainda trouxe mais um álbum solo e uma mixtape (EP), mas Beli, perspicaz, deixou o ouro para o final. Senhor da sua própria arte, o rapper e produtor apresenta muitas das suas melhores rimas sobre um instrumental refinado e melancólico em “Noites em azul profundo, 1993”: “Sob a luz da lua de papel” é daquelas músicas que fazem a gente encarar o vazio. Que obra.


Casagrande & Hanysz (Santo André/São Bento do Sul) — “Liminal”

“Liminal”, primeiro álbum da dupla Eloy Casagrande (bateria) e João Flávio Hanysz (guitarra), é um trabalho mais completo e maduro que o EP “Edge of Chaos”, lançado em 2021. A sonoridade continua progressiva e pesada, com aquele toque de djent, mas outras influências foram adicionadas à mistura, como a levada brasileira de “Hereditário”. O catarinense Hanysz, de São Bento do Sul, entrega riffs e solos de muita criatividade e bom gosto, enquanto Casagrande justifica o título de melhor baterista de metal do mundo na atualidade, segundo a revista Modern Drummer. A performance do integrante do Slipknot é avassaladora. Um disco indicado para quem gosta de música instrumental moderna.


Felipe Coelho (Florianópolis) — “Creative Sessions”

O novo álbum de Felipe Coelho, “Creative Sessions”, traz muitas surpresas. A primeira, e mais substancial delas, é a troca do violão pela guitarra. Com o seu sexteto, formado por Tiê Pereira no baixo, Elio Lorenzo no saxofone tenor, Gabriel Barbalho no trompete, Maycon de Souza no saxofone alto e Rodrigo Porciúncula na bateria, o compositor e arranjador expande as possibilidades que começou a explorar em “Unamasi” (2020), álbum que já flertava com elementos modernos e traz Coelho cantando pela primeira vez. O álbum, que tem nove faixas, não abandona o jazz brasileiro, pilar da sua obra autoral, mas incorpora outros gêneros ao seu repertório, como o hip hop e o rock, fazendo com que “Creative Sessions” entre para a seara da world music.


Maria Beraldo (Florianópolis) — “Colinho”

A manezinha Maria Beraldo é uma das artistas catarinenses mais prestigiadas no cenário da música brasileira. Tocou e gravou com nomes como Arrigo Barnabé, Elza Soares (1930-2022), Tom Zé, Tim Bernardes, entre outros, faz parte do conjunto instrumental Quartabê e também do grupo vocal Bolerinho, e fez a sua estreia solo com o aclamado “Cavala”, eleito por diversas publicações como um dos melhores álbuns daquele ano. “Colinho”, seu segundo trabalho, deve ser reverenciado na mesma medida. O disco, produzido em parceria com Tó Brandileone (5 a Seco), tem quase metade do repertório com letras em inglês, e traz uma sonoridade experimental, que percorre influências diversas. Pop brasileiro da melhor qualidade.


Nnay Beats, Yurifluente e Mermo (Blumenau/Gaspar) — “Algumas questões”

“Quintais, ruas e costumes EP”, colaboração entre o grupo Quarto Cômodo, de Blumenau, e Nnay Beats, de Gaspar, foi escolhido um dos melhores trabalhos de 2023 pelo Rifferama. Yurifluente e Mermo, integrantes da banca (que ainda conta com Trinda, Higggs e o beatmaker Guinotz), continuaram se reunindo no estúdio para criar e as sessões sem compromisso resultaram em mais um EP de alto nível. Nnay Beats atua em duas frentes em “Algumas questões”: na produção e nas rimas com o alter ego Dimi CL. Com sete faixas, o material traz outra estética em comparação ao boom bap de “Quintais, ruas e costumes EP”. Apesar do resultado artístico que foi obtido, o projeto não deve seguir adiante, infelizmente.


Piloto Astral (Joinville) — “Piloto Astral em Agricultura Celeste”

O álbum de estreia da Piloto Astral, que começou a ser escrito em 2012, após o término da Reino Fungi, se apoia em dois pilares. Tiago Lanznaster (voz, guitarra e violão) deixou de lado a Jovem Guarda para se aprofundar na fase soul e brasileira de Erasmo Carlos. “Agricultura celeste”, que conta também com Vitor “Ramatís” Torres (baixo e voz) e Eduardo Coelho (bateria e percussão) traz muito do regional, de Zé Ramalho a Dazaranha, mas também Lenine, Orquestra Armorial e Quinteto Violado, e coisas mais experimentais, como a turma da Tropicália, principalmente Os Mutantes, e Beatles. O discurso é a outra ponta que amarra o repertório. O disco fala muito sobre personagens da família, como a tia Iracema, que foi uma inspiração para o teor percussivo que o material tem.


Skrotes (Florianópolis) — “Matadeiro”

A principal novidade em relação a “Matadeiro”, quarto (e melhor) álbum dos Skrotes, na verdade, é uma certeza. Enquanto Igor de Patta (teclas), Chico Abreu (baixo) e Guilherme Ledoux (bateria e percussão) tocarem juntos, a magia acontece. Mas o sucessor de “Tropical Mojo” (2017) também avança em questões como sonoridade e performance. O trio aprendeu a curtir mais os temas e a música da banda está soando menos frenética, sem aqueles sintetizadores distorcidos que eram marca registrada dos Skrotes. Outro ponto que o novo trabalho se destaca é a busca por reproduzir o que a banda faz ao vivo, deixar o som mais próximo da experiência que é assistir os Skrotes. As nove faixas do disco expandem a paleta sonora do grupo, com a psicodelia e a brasilidade de mãos dadas. Esteticamente, “Matadeiro” soa limpo, mais orgânico e percussivo — e tecnicamente impecável.


Tijuquera (Florianópolis) — “Quera+”

Em 2023, o Tijuquera lançou um álbum ao vivo gravado na Praia da Joaquina, em Florianópolis, para apresentar a nova formação da banda, com Ammora Alves (voz), André FM (percussão), Luciano Bilu (guitarra), Márcio Costa (baixo), Marco Mibach (bateria) e Maurício Peixoto (guitarra e voz). “Quera+”, o primeiro de desde 2010, foi produzido por Carlos Trilha e tem dez faixas, sendo cinco inéditas, três escritas por Márcio Da Vila, ex-vocalista e principal compositor do grupo, duas de Moriel Costa (Dazaranha), além do single “Nijinsky”, de Mauricio Pacheco, e regravações de “Banho de mar”, “Vem meu bem”, “Vista do canal” e uma versão hip hop de “O céu é mais além”. Se por um lado “Quera+” tem um gostinho de nostalgia, o Tijuquera conseguiu atualizar o seu som, com uma estética pop para a mistura de rock com reggae e ritmos brasileiros.


Victor Pradella (Florianópolis) — “Do mato e da estrada”

Em uma das muitas sessões como músico no Nossa Toca, do produtor Giba Moojen, em Balneário Camboriú, o cantor, compositor, multi-instrumentista Victor Pradella, que também atua como produtor, foi provocado pelo amigo. Quando ele teria um tempo na agenda para se dedicar a um trabalho seu da mesma forma ao projeto que estavam ligados naquele momento? E assim nasceu “Do mato e da estrada”, primeiro álbum de estúdio do artista, que também ganhou um documentário com direção de Filipe Matos. Além do single “1º de janeiro”, o disco traz mais oito faixas, sendo duas voz e violão, remetendo aos trabalhos recentes de Pradella, mais folk, e o restante com banda, e um certo retorno ao rock, com Giba Moojen tocando bateria e percussão, e responsável pela produção musical, mixagem e masterização, Beiss Costa (baixo e voz), Petter Ferrera (guitarra) e Elieser de Jesus (teclados).

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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