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AKANOÁ — Uma ideia nesse mundo!
AKANOÁ é uma banda diferente. O quarteto formado por João Thibes (voz e violão), Matheus Barbi (guitarra), Anderson Oliveira (baixo) e Caetano Cainã (bateria) faz um som moleque. A base é o rock, mas o grupo tem influências diversas, do ska à música brasileira, algo entre Sublime e Cazuza, e mesmo quando carrega na crítica, como em “Escravos da corrupção” ou “Conflito”, segue por um caminho divertido. O som despretensioso e o show cheio de energia têm conquistado um público fiel em Florianópolis para o grupo, que participa de um coletivo para movimentar a cena local.
Ninguém rima como Karine Alves, a Ka47, Ka Alves ou ALKA, em Santa Catarina. “Sikluz”, segundo EP da artista paranaense que começou a carreira em Florianópolis (hoje vive em São Paulo), apresenta uma maturidade artística em relação a “Tríade” (2018). O salto é estético, na produção comandada por Bruno Paks, Bani e Soulionel, com uma roupagem jazzística, que traz o baixo de Erika Gonzalez, o violino de Charles Espíndola e os scratches e colagens de DJ Nato PK, e também lírico. Versando sobre os ciclos da vida, ALKA se afirma como a melhor rapper do estado. Fica a curiosidade em saber o que a artista poderia fazer com mais recursos, pois o talento é inegável.
O EP de estreia da cantora e compositora Anis de Flor, de Florianópolis, é primoroso, um dos melhores trabalhos do ano em nível nacional, citado na lista da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Com produção de Dessa Ferreira e direção musical de Marissol Mwaba, que trabalharam juntas com a artista no grupo Grupo IMANI, presente na lista de 2021 do Rifferama, “Fértil” é uma ode à ancestralidade. Com base na música brasileira e toques de reggae, o material é percussivo e privilegia a voz poderosa de Anis, que é rodeada por convidados especiais, incluindo a própria Marissol e François Muleka em “Forte”, destaque do repertório, e o bruxo Alegre Corrêa na faixa título.
O cantor e compositor Breno Branches é paraense, mas escolheu Joinville para estabelecer a sua estrada na música, que começou em 2015 com “Que bolero”. “Transitar”, terceiro EP do artista, manifesta uma mudança de gênero em relação aos seus trabalhos anteriores. Em vez do folk e das canções no formato violão e voz, Branches aposta no indie rock nesse novo material, com as guitarras dando o tom. Parece que, depois de anos buscando uma identidade própria, o músico encontrou a sua verdade com essas seis faixas. Impossível não pensar em “Alma”, último trabalho de Phill Veras, ao ouvir “Não consigo dizer não”, com sua pegada pop e um groove irresistível.
Budang — Astrologia, destino & salmos
A Budang, de Florianópolis, é possivelmente a banda que mais evoluiu nos últimos anos na cena independente de Santa Catarina. Com uma performance insana ao vivo, o quarteto formado por Guilherme Larsen Güths (voz), Vinícius Lunardi (guitarra), Pedro Sabino (baixo) e Felipe Royg (bateria) desacelerou e apresentou novas influências e um som mais trabalhado em “Astrologia, destino & salmos”. O hardcore visceral ainda está presente, mas a banda recorre a outras influências como o post-rock no instrumental viajante de “Morar no bar” e até a música eletrônica, no encerramento com “Punts éun”. Promissor é pouco pra descrever essa raça.
Dirty Grills — Faz teus corre, irmão
Jéssica Gonçalves (voz e guitarra, Cigarkills) e Mariel Maciel (bateria, Petit Mort), fazem um casamento perfeito no duo Dirty Grills. “Faz teus corre, irmão”, é um EP barulhento, com riffs raivosos e uma bateria pesada, com letras em inglês, apesar de os títulos das faixas serem em português, para passar uma ideia sobre o tema das músicas. Amigas há bastante tempo, Jéssica e Mariel passaram por momentos difíceis durante a pandemia e formar a banda foi o jeito que as duas encontraram para extravasar as angústias desse período. A sonoridade furiosa produzida pela Dirty Grills carrega elementos do rock alternativo dos anos 90, algo entre o punk e o grunge, e a gravação obtida para o EP, mais crua, feita apenas em um dia, retrata fielmente a pedrada que é ouvir essas duas no palco.
O guitarrista e produtor musical Jackson Carlos, de Blumenau, não se contenta em apenas compor, gravar e apresentar as suas canções. Nas suas parcerias, o músico apresenta um trabalho bastante variado, do jazz ao rock, da MPB ao samba-funk, sempre com excelência. Mas é na sua atuação solo, iniciada com o projeto “Bordões” (2021), que o músico vai além das seis cordas, fazendo uma arte de convergência. O EP “AfroEu” une a música instrumental de Jack, ao lado do trompetista Bruno Soares, com esculturas de Jean Tomedi. O material foi inspirado na comunidade quilombola Sertão do Valongo, em Porto Belo, um dos 11 refúgios de escravos reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares no estado.
Lella Strobelt — Carrego sonhos
No dia 20 de dezembro de 2021, Lella Strobelt, de Itajaí, fez a sua estreia como artista solo, com o lançamento do videoclipe de “Escultura”, canção de William de Souza Carvalho. O pop brasileiro e refinado e a voz cativante já estavam ali, mas faltava apresentar a sua identidade. O EP “Carrego sonhos”, divulgado em maio deste ano, traz cinco composições que servem como um espelho para refletir um ser em constante autodescoberta. As músicas, produzidas por Elieser de Jesus (instrumental, captação e mixagem) falam sobre as experiências pessoais, a fé e as dores e os amores de uma pessoa que se identifica como não-binária. O trabalho de estreia de Lella foi masterizado por Marcelo Fruet (Mulamba, Dingo, Chimarruts, entre outros).
2021 serviu para o cantor e compositor Luis Canela, conhecido pela participação nos projetos Felixfônica e No Dorso do Rinoceronte, voltar aos holofotes. A estreia em EP veio em setembro, com “Canela”. O material traz duas composições em parceria com Emilio Pagotto, além de “Apertem os cintos, o redator sumiu”, de sua autoria. Exigente com a própria obra, o cantor e compositor mexeu e remexeu nessas músicas até chegar ao resultado que se escuta em “Canela”. Um trabalho de arranjos sofisticados, com raízes na música brasileira e que passeia por samba-canção, marcha-rancho e até o rap, como em “A curva do rio”, que fala sobre as inquietações e desilusões, os medos e sonhos vividos pelo cantautor.
Marissol Mwaba tem um currículo impressionante. Poucos artistas de Santa Catarina chegaram no território em que a cantora e compositora está pisando. Marissol divulgou o seu primeiro EP (já tem dois álbuns lançados, em 2015 e 2018), “NDEKE”, que marca a sua estreia oficial como contratada da editora e gravadora LAB Fantasma. E “Ndeke”, que significa pássaro que sabe renascer e voar com liberdade, tem tudo a ver com o momento pelo qual Marissol Mwaba está passando. A inédita “Parece azul”, uma das três faixas do material, que tem produção musical, synths e beats de Iuri Branco (Marina Sena), segue essa temática. A artista, que já participou de trabalhos de grandes nomes da música brasileira como Emicida, Luedji Luna, Rincon Sapiência, Mano Brown, Chico César, entre outros, trouxe essa comunhão para o EP, repleto de participações especiais.
Para 2022, a Posh, de Brusque, tinha o objetivo de lançar o primeiro álbum, “Methodd & Madness”. Mas as músicas que Vítor Zen (voz e guitarra), Gustavo Visconti (baixo) e Gustavo Gamba (bateria) estavam produzindo eram tão diferentes umas das outras que a banda decidiu dividir o material em dois EPs, “Methodd” e “Madness”. A primeira parte saiu em janeiro e apresenta um som voltado para o rock progressivo, com bastante groove, enquanto a segunda, mais pesada, deve sair nos próximos meses. No meio desse processo foram saindo composições instrumentais, feitas no Guitar Pro (entendedores entenderão), que não tinham muito a ver com o restante do repertório. Surgiu aí “?”, um terceiro EP, divulgado em agosto. A música que a Posh faz é difícil de classificar. Também é difícil imaginar onde que o som do grupo pode chegar.
Torvelim — Quem me dera não sentir
Se Brusque é a terra do rock catarinense, com Posh, Ruínas de Sade, Buzzard, entre outros, Luiz Libardo (voz e guitarra) é um dos compositores mais promissores do estado. O músico provou o seu talento com a banda Stall the Örange, com o seu indie rock de canções em inglês no álbum “Colours Are Distorted” (2021), mas foi com a Torvelim e seu EP homônimo que o músico disse a que veio. Com uma sonoridade voltada para o pós-punk, guitarras guitarras melodiosas, letras escritas em português e muita melancolia, o grupo fala sobre temas como depressão, política, opressão e pensamento crítico.