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*por Daniel Silva
Tenho pensado todos os dias no Gringo (Cesar Heinzmann). Lembro histórias, revejo fotos e assisto vídeos com uma mistura de tristeza e felicidade. É estranho, mas quando o assisto tocando e cantando não posso deixar de sorrir. Era impossível ficar bravo com ele por muito tempo. O Gringo era tipo um super-herói pra mim. Sempre fui muito fã de música, mas nunca tive paciência para aprender a tocar um instrumento. Talvez eu não tenha o dom mesmo, coisa que ele tinha de sobra — o cara fazia som com qualquer coisa que dessem na mão dele: virou até matéria em jornal.
O palco era a segunda casa dele. Gostava tanto de tocar que chegou a ter várias bandas ao mesmo tempo e ainda se escalava para cantar/tocar nos shows dos amigos. Profissional dedicado e comprometido com os colegas, não fechava uma data sem que fossem cumpridas as suas exigências mínimas. Se a casa não tivesse uma estrutura de som decente, por exemplo, ele mesmo levava. Ele queria sempre o melhor para todos. Imagina se os músicos respeitassem o seu trabalho como o Gringo fazia…
No começo do ano recebi uma mensagem dele com o arquivo de uma música que ele tinha terminado no estúdio com o Rafael Pfleger. O Gringo, bem daquele jeitão dele, humilde pero no mucho, veio pedir a minha opinião. Trocamos alguns áudios, lembro que tinha gostado muito do baixo fretless (o bicho tocava pra caralho) e da vibe festinha. Era como se a Blackout tivesse gravado um som. Foi um momento bem legal que vou guardar com carinho.
Essa música se chama “Verdade”. Eu só fui descobrir o nome dela ontem (terça-feira, 7). Senti uma vontade inexplicável de ouvir aquele som de novo e fui atrás do Rafael Pfleger, que tinha trabalhado com ele no Pimenta Produções Artísticas. Ele não só me cedeu os arquivos como enviou esse depoimento sobre as gravações. Obrigado por isso. Também queria agradecer ao Omar Aarón por ter me dado a honra e permissão de compartilhar essa canção com o mundo.
— Foi bem tranquilo trabalhar com o Gringo, uma curticeira. Lembro que um dia eu estava sem a chave do estúdio e ficamos esperando o Marcio (Pimenta) chegar e abrir. A geladeira estava na rua e começamos a tomar umas, aí quando começamos a gravar de fato não deu nada certo, ele disse que gravava sem guia, mas não se achava, teve que voltar no outro dia. Foi bem engraçado. Eu gostava muito dele e ultimamente a gente estava bem próximo. Ele estava comprando uns equipamentos para a Blackout, a van que ele plotou era minha. Nunca assinamos um papel, foi só no aperto de mão, era uma pessoa que dava para confiar.
“Verdade”
Cesar Heinzmann – voz, guitarra, baixo fretless, teclados e bateria
Rafael Pfleger – guitarra, captação, mixagem e masterização
Mayer Soares – Artes
Estúdio Pimenta Produções artísticas, 2019
Letra
Eu bebi, não lembro mais
O que eu falei, do que eu senti
Agora imagina se eu vou me lembrar do seu rosto
Já caí, não levantei, bem que eu tentei me comportar
Da noite passada na boca só ficou o gosto
Relaxa que eu não vou mais te incomodar
Com as besteiras que eu não realizei entre nós
A história que temos foi pura nunca foi tão óbvio
Se o dia termina e a noite não vem
Percebo que parei no tempo, meu bem
Só ando pra frente porque tenho medo do ócio
Pensa comigo, anda comigo, chora comigo, vive comigo
Quem dera eu tivesse do seu lado pra sentir a sua respiração
Briga comigo, joga comigo, fica comigo, sou seu amigo
O tempo cura tudo
Jogue um sorriso, me olha de lado, olha o meu peito sempre vazio e sujo (que pena)
Eu já cansei de limpar esse chão
Enfeitei as paredes, pintei de lilás no escuro (então venha)
Quanto sarcasmo dentro do espelho
Olho o meu rosto e vejo que eu larguei tudo (que pena)
Me sinto jovem, um velho quebrado, além de vazia na cabeça tem um furo (mas que droga)
Eu acho que foi por ali que escaparam as minhas ideias
Eu me enganei, sei que eu errei, te machuquei, botei tudo a perder
Pensa num cara que botou a cara no mundo
Não vou cansar, vai demorar, eu sempre vou repetir que
Tudo o que eu fiz, foi pra mostrar e te provar que eu sempre fui verdadeiro
Lembra de mim, tenta pensar e acreditar que eu sempre fui verdadeiro
Tudo o que eu fiz, foi pra mostrar e te provar que eu sempre fui verdadeiro
Lembra de mim, tenta pensar e acreditar que eu sempre fui verdadeiro
[…] o primeiro trabalho autoral de Cesar Heinzmann — ele chegou a finalizar uma composição, “Verdade”. Os Plugados convidaram Antônio Rezende, ex-companheiro de Gringo na Blackout, para se juntar ao […]