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*por Matheus Jacques
A raiva (in)contida e liberada em um extravaso ruidoso, chocante, por vezes quase esquizofrênico. O puro sumo da catarse sonora que explode em um manifesto de angustiante criatividade e entrega, permeada por nuances incendiárias. Isso é um breve contexto e uma simples introdução ao que se eviscera com a audição de “Barulho 001”, o primeiro lançamento oficial nas plataformas digitais do power trio ilhéu Söödio.
Formada por Alexandre “Amexa” (guitarra e voz), Henrique “Gigante” (baixo) e Marcio Bicaco (bateria), a banda que já acumula um punhado de shows em sua carreira de Söödio, porém bem mais na soma de experiências em outros projetos musicais de seus integrantes, desvela com seu primeiro lançamento uma autêntica ode ao caótico e “noisy”, com quatro (relativamente) curtas faixas que, somadas, entregam pouco mais de 10 minutos de uma barulhenta experiência musical, conduzida por vertentes como o noise rock, o som undustrial e até o famigerado stoner.
“Barulho 001” é um construto sônico poderoso e divergente que é capaz de entreter e chocar, entre os urros primordiais e quase incompreensíveis (sem que em nenhum momento isso deponha contra a qualidade final da proposta do material) de Amexa, os sólidos e psicóticos riffs e a martelada incessante e determinada na bateria de Bicaco. O desapego à linearidade e ao previsível e facilmente constatável, em quebras de andamento e soma de distorções, ajudam a criar um painel bastante próprio da banda.
Gravado, mixado e masterizado no Um Lugar Estúdio (Rio Tavares) por Beto Fonseca, o material carrega a crueza e a energia necessárias para se apresentar como um digno e elogiável material de estreia de uma banda cujos membros trilham um nova senda em continuidade às suas próprias carreiras já estabelecidas com outros projetos e bandas, referenciadas por diversas influências musicais. As faixas, ainda que não criem uma distinção extremamente notável entre si próprias, em suas simplicidades e honestidades entregam uma verdade que reverencia o noise e a bagunça boa do som sem amarras e sem muitas classificações, ilustradas de front pela arte característica do artista visual Galvão Bertazzi.
Söödio e “Barulho 001” chegam de mãos dadas e com o dedo médio em riste para o previsível e “limpinho e bonitinho”, quem ousar que dê o play e descubra o universo maldito proporcionado pela banda.
*Matheus Jacques é produtor na Bruxa Verde, artista na Crochê Arretado e redator musical