*por Thiago Ishiy Fukahori
Me ofereci para fazer uma crítica de um disco para o Rifferama e, na primeira conversa com o Daniel, pensei em pedir um trabalho difícil, que me fizesse sair da minha zona de conforto. Nem precisei. Começa aqui a crítica misturada com crônica de “Impermanência Constante”, terceiro álbum da Tempestade Futura.
Primeiramente, vamos falar sobre o nome da banda. Na mesma conversa inicial, fui informado que não é uma banda, é um cara: Victor Guilherme. De qualquer forma, tratarei como banda. Tempestade Futura é um excelente nome, lembra aquela imagem das nuvens se formando ao longe e o céu escurecendo; o barulho do trovão, o vento e aquela sensação de que seria bom estar em casa quando a chuva chegasse.
Tenho fascinação pelo peso das palavras. Na faculdade, me deparei com uma frase do escritor norte-americano Mark Twain, que dizia que a diferença entre a palavra quase certa e a palavra exata é enorme; tal qual a do vagalume e do relâmpago. Acredito que os nomes, tanto da banda quanto do disco, foram escolhidos levando em consideração essa diferença.
Começo a escutar a primeira música no carro, no caminho para a minha casa. Pouco trânsito, mas uma chuva intermitente me acompanha. Já na primeira música, penso que não me soa como uma produção primorosa, mas sigo escutando em prol da crítica. Entram as vozes de “Mistérios”, canção que abre o disco. Presto atenção nas letras e penso em avançar para a próxima faixa. Não precisei, ela acabou e começa “O Caminho Perfeito”.
Acredito que aqui seja necessário fazer um enorme parênteses, muito embora não vá usar nenhum no texto, e dentro desses parênteses não literais, uma crítica a mim mesmo. Sou uma pessoa que não tem muita paciência, em especial para escutar artistas novos, admito. Por isso desejei, mesmo que secretamente, que me fosse oferecida uma oportunidade de prestar atenção em algo que normalmente passaria batido.
Comentei com o Daniel que o álbum tem uma inocência que incomoda; não estamos mais acostumados a isso. Somos uma sociedade de cínicos, concordamos. Essa epifania veio a mim e despedaçou o telhado da minha morada de crenças. Decidi me desarmar e abraçar a impermanência que estava por vir. Fecha parênteses.
Nas dez músicas que compõem o trabalho, é possível escutar ecos de Ludov, Video Hits e Vanguart. Tudo permeado por um diálogo que fala sobre amor, relacionamentos, sentimentos, alegrias, decepções e expectativas dessa nave louca que é a vida cotidiana. Logicamente, nada disso importa se você não está aberto a refletir um pouco sobre a vida; ou seja, sem a minha prévia reflexão, essa crítica teria exatamente um parágrafo.
Esse diálogo alterna entre duas vozes que, como em qualquer conversa, perguntam, respondem e concordam em algumas coisas. O movimento é interessante e me dá a impressão que as músicas do disco são muito mais uma vontade de registrar um determinado momento, como uma fotografia, do que uma obra fonográfica propriamente dita. Em outras palavras, não soa como um trabalho comercial. O que não é, de forma alguma, demérito ou preconceito, mas uma constatação técnica da produção e dos arranjos.
Conforme avancei na audição das faixas, percebi um potencial grande e que pode ser refinado a ponto de se tornar um nome interessante na música, que carece de gente disposta a não ter vergonha de sincera. Sem dúvidas, eu escutaria o próximo lançamento da Tempestade Futura; na esperança de ser surpreendido com uma produção mais fina e ousada.
Foto: Guilherme Meneghelli
*Thiago Ishiy Fukahori é videomaker e integra a banda Les Savons Superfins
Muito legal a resenha!