*por Bruno Kohl
A impressão que se tem ouvindo “Amores milenares”, o mais recente EP de Wagner Éffe, é de uma despretensão calculada. As cinco canções, exploradas de uma forma mais crua do que seus trabalhos anteriores, estão sob melodias que moram no inconsciente coletivo de qualquer um que tenha mais de 30 anos. Letras e harmonias que fogem da dissonância e não se arriscam a perfurar além de declarações de amores urbanos.
Os timbres escolhidos servem não só para apoiar a proposta, mas são cuidadosamente inseridos para evitar um estranhismo que atrapalhe a fluidez da experiência. Apesar da sua aparente unidade, Éffe procura estabelecer em cada canção uma atmosfera própria, como se cada uma delas tivesse seu lugar marcado em tempo e espaço: A liquidez de “Bons amigos”, contrastando a ambiência-rádio de “Canção pequena” e as roupagens lúdicas de “O tempo de nós dois”, divergindo com a batida folk de “Nós e o abraço”.
A memória afetiva do trabalho funciona como um filtro que identifica imageticamente cada sentimento produzido (ou inspirado). Mais do que as letras, que soam atemporais, a presença de um delay exagerado na percussão ou três notas de um piano, nos convidam para a imersão particular das personagens de cada canção .
“Amores milenares” trata-se quase de uma aventura em baladas Jovem Guarda sem entrar na armadilha de uma releitura que tirasse o foco essencial – mostrar que uma canção pode ser apenas uma canção, “Entrer crer e duvidar, eu prefiro caminhar”, como explica “A nossa canção”. Mais que um álbum de músicas de amor, tem-se aqui a naturalidade de um compositor que quando quer fazer, apenas faz. E isso muitas vezes é o que basta.
Foto: Grace Medeiros
*Bruno Kohl é poeta e compositor, membro do projeto MIMO