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No One Spoke foge do metal sinfônico clichê em “Nine Mirrors”

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Quando músicos altamente competentes se reúnem para gravar um álbum, a expectativa é tão grande quanto o talento dos envolvidos. E era essa a pergunta que me fiz antes de ouvir “Nine Mirrors”, disco de estreia da No One Spoke, lançado na última sexta-feira (26): “Será que o material estará à altura da banda?”. A resposta é sim. O sexteto de Florianópolis entregou um trabalho que surpreende, com arranjos interessantes e de qualidade técnica indiscutível, tanto na execução quanto na sonoridade — mais uma obra que traz a assinatura de Renato Pimentel, do Magic Place, responsável pela captação, mixagem e masterização.

Um dos requisitos para fazer um álbum marcante é abrir com uma faixa de impacto. E “Bridge to Sanity” acerta em cheio, pois funciona como uma espécie de guia para o som da No One Spoke. O grupo apresenta um metal com forte influência da música erudita, que se destaca no canto lírico da vocalista Carla Domingues e no violino de Iva Giracca, ambas integrantes da Camerata Florianópolis, além do tecladista Thiago Gonçalves, que faz um trabalho primoroso quando acionado. O trio André Medeiros (guitarra e vocais de apoio), Artur Cipriani (baixo) e Gabriel Porto (bateria) se mostra bastante criativo e garante o peso necessário para um disco desse estilo.

Carla Domingues, que também escreveu as letras, é a estrela da companhia em “Nine Mirrors”. O uso da sua voz natural em grande parte das músicas torna a audição bastante equilibrada, reservando o canto lírico para momentos-chave, como se fosse um recurso especial (e como é), então, sempre que aparece é uma surpresa. Um bom exemplo disso ocorre no encerramento arrebatador de “Sigh”, primeiro single divulgado pela No One Spoke, em julho de 2019, e uma das duas faixas com crédito de composição para o ex-guitarrista Marcelo Rosa. A segunda é “Milonga para las Reinas”, único clipe da banda.

Outro ponto que vale ressaltar são os arranjos. Ao decorrer do disco, cada composição adiciona um elemento diferente, reforçando a presença de um ou mais instrumentos: “Blue Way” e suas vozes dobradas, mais os vocais de apoio de Medeiros criam um belo efeito; “Rise Again”, a faixa mais direta e progressiva do álbum (minha preferida), tem um baixo na cara, bem expressivo, com solos de guitarra, violino e teclado, relembrando os bons momentos do Dream Theater; a balada “Trust Yourself” e seu começo no violão; são várias as partes que saltam aos ouvidos.

“Nine Mirrors”, que tem o projeto gráfico assinado por Daniel Meurer, terá versão física em CD. É um trabalho feito por músicos que estão há muito tempo na estrada, sabem o que estão fazendo e merecem reconhecimento. Um disco que pode agradar até quem não é familiarizado com o metal. E por falar em reconhecimento, o álbum traz uma versão para “Rainbow In the Dark”, clássico de Ronnie James Dio, com a participação do baixista Rudy Sarzo, que foi integrante de bandas como Ozzy Osbourne, Quiet Riot, Whitesnake e da própria Dio.  Que ganhe o mundo.

Foto: Tóia Oliveira

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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