A música catarinense entrou na minha vida muito cedo. A Primavera nos Dentes, de Biguaçu, foi a trilha sonora da minha adolescência. Depois conheci o Dazaranha. Costumava dizer para os meus amigos que era a melhor banda do mundo. Tive bastante contato com o metal também. Era fã da Stormental.
Mas o que me fez despertar de verdade para o cenário independente de Florianópolis foi ter visto a Sociedade Soul ao vivo, em 2010. Enquanto muitas pessoas iam dançar ao som de Tim Maia e Jamiroquai, eu queria ouvir as músicas dos caras. Enchia o saco para que eles tocassem “Contradição”, a mais pesada do álbum de estreia, lançado naquele ano, e ia embora decepcionado quando não rolava. Segui os caras por um bom tempo.
Percebi que poder ter contato com um artista que eu admirava era o que me deixava feliz. E olha que incomodei. Não tinha um show que não ia puxar papo com o tecladista Diego Carqueja, um grande talento da Ilha, assim como os colegas Gustavo Barreto (guitarra e voz), Marco “Nego” Aurélio (baixo) e André FM (bateria e percussão, Alujazz). No ponto alto das apresentações, Barreto anunciava uma manifestação em que ele dizia que a música eletrônica deveria ser feita por seres humanos em vez de máquinas. A casa ia abaixo com a fritação instrumental guiada pelos synths de Carqueja.
Não sei se esses momentos ao vivo inspiraram o seu novo projeto, batizado de Carked, mas ouvindo as músicas cheias de groove, influenciadas pela nu disco, não tem como não lembrar do “manifesto eletrônico” da Sociedade Soul. Despreocupado com rótulos, Carqueja, que também tem entrada no samba e no hip hop (gravou com Cacife Clandestino e toca com os Reis do Nada), já tem seis composições lançadas. A última, “Finding Smoked Dust”, saiu em outubro do ano passado. Altamente recomendado para os apreciadores do estilo.