Dazaranha foi formado em 1992. Foto: Divulgação/Dazaranha

“Daza” e a crise criativa do Dazaranha

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Tive duas reações completamente diferentes quando ouvi “Daza”, quinto disco de estúdio do Dazaranha. É muito bom ver a banda, patrimônio cultural de Santa Catarina, lançando material novo após sete anos, mas o problema é justamente esse. A expectativa criada em torno desse trabalho era tão grande que alguns fãs não devem ter ficado satisfeitos com o resultado. E não estou falando de qualidade.

O álbum, produzido por Carlos Trilha, é tecnicamente impecável. Não preciso dizer o quanto os músicos do Dazaranha são bons. Tenho duas críticas a fazer a “Daza”. Os dois últimos discos, “Nossa Barulheira” (2003) e “Paralisa” (2007) traziam 17 e 16 faixas, respectivamente. O novo trabalho tem “apenas” 11, pouco pelo tempo de espera, acredito.

Outro ponto a ser destacado é que boa parte das composições não é inédita. “Rastaman”, uma das melhores músicas de “Daza”, e “Dizem que só”, saíram no disco solo de Moriel Costa, principal compositor da banda. Mesmo caso de “A vida é pra viver”, faixa de abertura de “Pra Ficar”, álbum do guitarrista Chico Martins, que assina outras duas canções – “Se você for”, gravada por Diana Dias e Saulo Fernandes (aquele mesmo) e “Fé menina”. Sem falar em “Desarmados”, divulgada há dois anos. Ou seja, cinco das 11 canções já eram conhecidas do público.

Gazu também se aventurou no mercado como artista solo. Sem o nome do grupo por trás, não foram tão longe como o esperado, por isso talvez resolveram aproveitar parte do material para o Dazaranha, que é imbatível com as letras de Moriel, os riffs e solos de Chico e o vozeirão com sotaque de Gazu. Poucas bandas têm uma identidade musical tão forte como o Daza. Bastam alguns segundos para reconhecer o som do grupo, que conta com instrumentistas de primeira linha como Fernando Sulzbacher (violino), Adauto Charnesky (baixo), Gerry Costa (percussão), JC Basañez (bateria), além dos metais.

A participação do baterista como compositor, aliás, é a grande surpresa de “Daza”. Basañez contribui com “Pelo mar”, sonzeira que abre o disco e captura com perfeição a essência do Dazaranha, e “Céu Azul”, primeira música de trabalho desse álbum, que ganhou uma capa e encarte caprichados feitos por Murilo Martins. Ainda que esperasse mais desse trabalho, por tudo que escrevi aqui, fico feliz em ver a maior banda de Santa Catarina sendo produtiva após tanto tempo na estrada. Que não demorem mais sete anos para gravar novamente.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

16 Comentários

  1. Concordo em partes com a crítica, realmente o tempo foi muito grande, e que a Banda pode ter lançado algumas coisas solo, mas ainda acredito que o grande público do Dazaranha, não conhecia boa parte das músicas do vídeo novo. Na minha opinião, o Daza conseguiu manter a sua característica musical muito viva no disco, apesar de algumas letras serem mais "amorosas", mas ficou uma trilha legal nesse novo Disco. Claro, todos nós sabemos, que é difícil para um banda que ficou 7 anos sem lançar nada, lançar um disco novo assim, ainda mais no tempo de hoje, que a música brasileira está sofrendo uma quase falência criativa, e felizmente o Dazaranha não faz parte desta trupe, eles têm uma excelência criativa, que poucas banda ainda possuem nos dias atuais,.

    • Concordo, eu simplismente amo esse CD, desde que comprei ele, em dezembro de 2014, ele nao sai do meu carro, escuto do começo ao fim, uma vez atras da outra. As musicas sao incriveis, e as letras falam para a alma!! Show!!

  2. Na minha percepção, Daza esta realmente com letras mais acessíveis, e até românticas como muitos comentaram, algo que realmente quebra a característica mistica ilhéu marcante do Dazaranha do início.
    Talvez seja uma tentativa de se lançar mais em outros públicos, e se lançou com bela qualidade.
    Basañez mandou bem, deixa as portas abertas para este cara fluir em novos trabalhos.
    Para um novo trabalho, é importante ter faixas com o suingue e letras raízes "para fazer caldo de peixe com música" e agradar a nostalgia saudável dos que conhecem a origem desta respeitosa banda.

  3. Acho "engraçado" que ainda nos tempos de hoje as pessoas (músicos, críticos, público,etc) se limitem a rotular a arte por territórios. É ridículo expressões como "a maior banda da Santa Catarina" ou "a pior música de fulano".
    Em outras palavras: Não há vantagem nenhuma estar no pódio de um Estado sem identidade cultural no que diz respeito à música.
    Digam-me algum disco (ou trabalho) interessante que surgiu no Brasil desde 2010?
    Assim, a suposta crise de criatividade ou simplesmente não ter o que dizer em arte não é uma exclusividade do Dazaranha.

    • Interessante a tua reflexão, Márcio. Mas não sou tão pessimista assim. Tem bastante coisa boa surgindo aqui no Brasil e em Santa Catarina.

      Abraço

  4. Com todo respeito aos grandes e talentosos músicos da melhor banda catarinense da história, na minha humilde opinião de fã, o som da Dazaranha perdeu um pouco daquela personalidade "atentada" que tinha nos primeiros trabalhos. Aquele som único, ousado, divertido, e que às vezes podia ser misterioso, bruxólico e pesado. Aquela caldeirada musical que fervia e empolgou toda uma geração ilhoa (e catarinense) nos anos 90 e 2000 deu uma esfriada. Parece agora mais uma banda comum entre dezenas que tocam no rádio. Mas, gosto é gosto. eu prefiro o som da primeira década da carreira da banda

  5. kkkkkkkkkkkkkkk MEO DEOS, QUEM É Rauli Tainha? kkkkkkkkkkkkkkkkk

  6. Simplesmente uma bandinha que marcou época para alguns na ilha do desterro. Não tem que esperar grandes coisas, Daza é apenas nostalgia barata.

  7. Já comentei seu post no facebook e faço questão de comentar aqui também. Primeiramente gostaria de parabeniza-lo pelo post que certamente foi muito difícil pra você devido a sua aproximação com o Daza e com os músicos da banda. A resposta da assessoria da banda é um reflexo de tão significante é o seu Blog. Sobre o disco, é impossível questionar a qualidade dos músicos. A questão é que nós fãs esperávamos algo do nível daza que conhecemos, para quem sabe ficarmos mais sete anos fascinados aguardando por mais um disco, mas não foi isso que aconteceu.
    Achei a introdução da primeira música do Álbum sensacional. Mas quando começo a prestar atenção nas letras vou perdendo um pouco do encanto e, a junção do violino com a guitarra do chico já não são o suficiente pra fazer a minha cabeça. Prefiro ouvir um cd do Dazaranha das antigas. Ouvir Cama Brasileira, Deixa e tantas outras..

    Sobre a resposta da assessoria da banda, ficou claro que musicalmente falando o investimento não é a chave para o sucesso, pois pra muitos fãs assim como eu os melhores cds do daza continuam sendo "seja bem vindo" e "tribo da lua"

    Abraço, 12!

  8. Ganhei esse cd do Daza autografado por um sorteio e ja tinha todos os outros albuns deles. Bom pelo que conheço do daza de fã eles seguiram a mesma característica só que com musicas mais românticas e já deu pra perceber que é um daza mais maduro mesmo... Gostei mais das faixas "pelo mar" "ceu azul" "caminho reto" e "som de tamborim". "Pelo mar" pra mim foi a melhor do album e concordando com o amigo que comentou tambem acho que deveria ser o nome do album mesmo e pelo tempo de espera tambem acho que deveria ter mais musicas. Espero que seja lançado logo outro cd do daza. Um abraço de um grande fã

  9. O problema do daza nos ultimos anos é o que acontece nas principais bandas espalhadas pelo mundo, trabalhos solos. Chico, Moriel e Gazu tem trabalhos paralelos e isso estraga o andamento da banda, um álbum com 11 faixas sendo uma conhecida a cerca de 2 anos e mais outras que foram retiradas dos trabalhos solos. E por último mas não menos importante, que raio de nome do álbum hein? Creio que não seja falta de criatividade e sim preguiça. "Pelo Mar" foi a melhor faixa do disco, poderia ter sido o nome do álbum.

  10. A assessoria da banda mandou uma resposta à crítica. Vamos lá:

    "Em resposta a resenha publicada no Rifferama sobre o disco "Daza" gostaríamos de esclarecer alguns pontos, que para a banda são relevantes e, que esperamos, esclareça a sua opinião não tão positiva sobre o disco, respeitando claro sua opinião pessoal:

    1. O que não faltou no processo de criação do disco foi criatividade. Tínhamos 50 músicas para escolher, mas optamos inicialmente em fazer um disco com 10 composições para ser um CD ágil, fácil e rápido de ouvir. Ao final do processo de gravação no R3, gravamos 13 e 11 delas entraram no disco.

    2. Para algumas pessoas pode ter parecido repetitivo a inclusão de algumas músicas dos projetos solos dos nossos músicos. Mas para muitos fãs não é. Muitos não conhecem os projetos solos e temos muitos talentos na Banda. Foi uma decisão coletiva de reconhecer e homenagear o Chico, Gazu e Moriel, afinal sabemos que o Daza é o que é graças aos talentos individuais, que só tem força por estarem juntos.

    3. Por fim, o trabalho é o disco com maior "investimento" e cuidado para mostrar a individualidade e qualidade musical de cada um dos nossos 7 músicos. Por isso recorremos a um dos melhores estúdios existentes, estudamos, discutimos e conversarmos. E é ai que está a nossa criatividade, em mostrar algo novo, estruturado, buscando sempre a qualidade musical que marca a trajetória do Dazaranha".

  11. Bom, posso dizer que já ouvi muito os álbuns do Daza!! E já ouvi algumas vezes o novo CD Daza. Este ultimo é diferente, mostra um Daza mais maduro! Musicalmente é um dos melhores, em termos de letras, o álbum mostra música mais românticas, mas com muita qualidade, qualidade está que poucas bandas atuais no Brasil produzem! E pra chegar a este nível, toda sua trajetória criativa culminaram neste belo disco. Particularmente creio que este é o último com inéditas! Talvez logo teremos um acústico!!!

  12. Vou comentar sem ter ouvido o disco todo ainda. Mas ainda que não goste do material completo, uma coisa é certa para nós, fãs da banda: vida longa ao Daza!

  13. É, amigo. Concordo principalmente sobre a crise de criatividade. Uma das minhas principais observações é que o estilo da banda é uma coisa, semelhança entre as canções é outra totalmente diferente. Infelizmente, para mim, os últimos álbuns do Dazaranha tem soado sempre igual, sempre a mesma pegada, etc. Não tem mais aquela diversificação característica que tanto marcou a banda. Claro que em time que está ganhando não se mexe, mas a mesmice está começando a querer empatar o jogo.

    Parabéns e grande abraço!

  14. É mais ou menos esse o sentimento que tenho. No mais, "Daza" é indiscutível a melhor banda. Parabéns pela análise e trabalho, meu querido!

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