disastercities-rifferama

Disaster Citiers se desprende do stoner em “Erasing Karma”*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Mini Kalzone, Camerata Florianópolis e Biguanet Informática


Contribua com a campanha de financiamento coletivo do Rifferama no Catarse

*por Arthur Rodrigues

Muita coisa mudou desde 2018, quando a Disaster Cities lançou seu álbum de estreia, “LOWA”. A banda passou por algumas mudanças em sua formação, com a entrada de Daniel “Bacon” Araújo Brito na bateria e Júlio Miotto no baixo, com os fundadores Rafael Panegalli e Matheus Andrighi permanecendo no vocal e guitarra, respectivamente. Além disso, a própria sonoridade da banda se transformou. Se no trabalho que apresentou o grupo tínhamos o stoner rock como ponto de partida e maneira mais rápida (e talvez preguiçosa) de rotular o que o Disaster Cities fazia, em “Erasing Karma” temos diversos elementos trazendo uma roupagem mais moderna, com auxílio de muitas linhas de sintetizador, melodias mais pegajosas e um senso de urgência mais latente.

Na verdade, até o próprio “Erasing Karma” mudou um bocado desde sua gênese. O segundo disco começou a ser gravado ainda em 2019, com o primeiro single, “The Best Way You Used to Know”, sendo lançado no mesmo ano. De lá pra cá muitas das canções foram revisitadas, rearranjadas, regravadas, com o período de isolação da pandemia servindo até mesmo para ressignificar algumas delas, num longo período de gestação que pode ter sido um ponto chave para a qualidade do resultado final da obra, repleta de detalhes que se revelam a cada nova audição. A faixa de abertura, “Automatic” é um excelente cartão de visitas, mostrando que, por mais que a banda tenha se esforçado para chegar num resultado mais acessível e até mesmo comercial, o peso cavalar encontrado em “LOWA” não foi abandonado, tendo ganhado no sintetizador um grande aliado para intensificar a massa sonora dos riffs, sempre poderosos e memoráveis.

Daí pra frente a banda nos traz inúmeras surpresas faixa após faixa. “Holes” traz uma melodia sinuosa acompanhada de um beat moderno que flerta com o trap antes de entregar mais um refrão pesado e potente, com excelente performance performance vocal de Rafael Panegalli e movimentos melódicos inesperados. “Slow Burning In a Dancing Room” abusa dos sintetizadores e das camadas de vozes para criar uma atmosfera interessantíssima na sua introdução antes de nos presentear com mais um riff cavalar, além de contar com uma seção percussiva avassaladora mais perto do seu final que soa como uma “micro-bateria-de-escola-de-samba-que-tomou-cinco-latas-de-Red-Bull”. A dobradinha “Erasing Karma” e “Quando a Cidade Te Engolir” traz um sabor quase pós-punk através de seus timbres de guitarra cheios de chorus, com ambas as canções trazendo refrãos belíssimos, com um trabalho melódico muito bem construído.

“Ghost in the Mirror” e “Bad Advice” voltam a apostar no peso, trazendo um contraste interessante com as faixas anteriores e mantendo a sensação de frescor no desenvolvimento do álbum, com a primeira delas contando com vocais rasgados que trazem um tempero especial para a faixa. O álbum se encaminha para o fim com a já mencionada “The Best Way You Used to Know”, que soma ao caldeirão sonoro um pré-refrão quase eletrônico que deságua em mais um refrão pesado e memorável. “Erasing Karma” encerra de maneira lindíssima e melancólica com o quase samba de “Lamento”, abrilhantada pela participação de Mateus Romero no pandeiro e Fabio Cadore na percussão, contando ainda com um emocionante solo de guitarra executado por Miotto que dialoga com as frases do contrabaixo fretless de maneira bonita e cuidadosa, numa espécie de dança sinuosa que poderia durar pelo menos mais dois minutos. O segundo álbum do quarteto ainda traz como faixa bônus uma releitura de “Automatic”, dessa vez numa roupagem cheia de groove, com destaque pro baixo pulsante e o piano elétrico, fazendo o ótimo trabalho de acentuar características diferentes das que se sobressaem na versão original.

Na soma de todos os fatores, “Erasing Karma” mostra uma banda disposta a evoluir e procurar uma identidade mais própria, se desvinculando de um subgênero talvez um pouco saturado como o stoner rock e abraçando cada vez mais elementos modernos, resultando numa boa dose de frescor e genuinidade. Além disso, as duas faixas cantadas em português mostram um potencial enorme a ser explorado pela banda em futuros lançamentos, com letras muito bem escritas que ressoam com o público de maneira mais imediata. Fico aqui na torcida para que o Disaster Cities se enverede cada vez mais por esse caminho e nos traga mais pérolas como “Quando a cidade te engolir”, que é possivelmente a melhor música do disco.

Foto: Renan Casarin

*Arthur Rodrigues é vocalista, guitarrista e tecladista da banda de rock progressivo AlphaJorge e um eterno defensor da música contemporânea. Fala de música no YouTube no canal Nômade Musical

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

DEIXE UM COMENTÁRIO.

Your email address will not be published. Required fields are marked *