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Rifferama Entrevista: Black Drawing Chalks

Fotos: Tiago Rossi

O Black Drawing Chalks é uma banda que faz acontecer. Formado em Goiânia em 2005, o quarteto tem três discos gravados (mais um ao vivo) e impressiona pelo profissionalismo. Eles vendem os próprios shows, produzem os videoclipes e, principalmente, sabem para onde querem ir. O Rifferama conversou com o guitarrista Edimar Filho, que falou sobre o rótulo stoner, visão de mercado, os amigos que fizeram em Santa Catarina, entre outros assuntos.

Rifferama – No ano passado a banda lançou o “No Dust Stuck On You”, o primeiro contigo, que tem uma concepção diferente, um balanço entre o lado mais pesado da banda com músicas mais suingadas. Como foi essa mudança de direção?

Edimar Filho – Foi natural. O último disco de inéditas é de 2009. O “NDSOY” foi gravado em janeiro de 2012. Nesse período entre um disco e outro, a banda viajou o Brasil inteiro e para alguns lugares fora do país também. Só isso já muda as referências na hora de compor, porque nesse tempo todos os integrantes foram expostos a experiências e referências novas, tanto pessoal como artisticamente. Quando entrei na banda, no fim de 2011, as músicas que o Victor estava mostrando já caminhavam para uma fase mais diferente. Acho que é um disco mais para ouvir do que para tocar em festa.

Ele soa mais maduro, mas nada pensado no sentido de “vamos direcionar o disco para esse lado”. Só percebemos a mudança na pré-produção em estúdio. Gravamos todas as músicas sozinhos, ao vivo, em 45 dias, testando timbres, andamentos e dinâmicas. Quando o Gustavo Vazquez e o Fabricio Nobre chegaram, após uns dez dias, já tínhamos pronto o que queríamos. Eles ajudaram a lapidar isso e chegar ao resultado que tivemos. O disco entrou em dezenas de listas de “Melhores do Ano de 2012”. Isso nos deixou bem feliz mesmo. Não pelo hype de estar nas listas, mas por isso ter dado um fôlego para pegarmos essas músicas e viajar o país todo de novo.

Black Drawing Chalks – Vocês já estão na batalha desde 2005. Com três discos nas costas, podemos dizer que esse é o melhor momento da banda? O que vem pela frente?

Edimar Filho – Complicado dizer melhor momento, mas com certeza é o mais maduro, o momento em que a banda está mais ciente do que quer e do que não quer em termos artísticos e de mercado. Temos um escritório que vende os shows e negocia oportunidades para a banda, mas fazemos nossas camisetas, participamos de tudo nos clipes, desde a produção a roteiro e edição; vendemos os nossos discos na Internet e nos shows; eu trabalho com a Eline, nossa produtora, fechando os shows da banda também. Tomamos conta de todo o processo e tudo o que envolve a banda.

Isso nos deixa mais tranquilos para apontar um rumo que achamos interessante. Se algo der errado a culpa nossa, já que escolhemos e fizemos tudo. Planejamos um monte de coisas sempre, para ver qual será viável, e qual está no momento certo. O Fabricio Nobre, nosso manager, também sempre vem com ideias, e ajuda em tudo, assim como a Eline. Mas por agora, final de ano, estamos focados em fechar a agenda de shows já marcada, e concentrados em compor material novo. Não temos previsão para um disco novo por agora. Estamos começando ainda a escrever e ainda é cedo para programar algum lançamento.

Rifferama – Como foi o começo e quais são as influências da banda? O que vocês acham do rótulo stoner rock?

Edimar Filho – A banda começou basicamente como a grande maioria das bandas do mundo: Amigos de faculdade querendo montar uma banda. O Victor, Douglas e o Marco (primeiro vocalista) estudavam juntos na faculdade de design e começaram com a banda. Ficaram um ano só ensaiando, depois um ano fazendo música, até começar a fazer os primeiros shows e viagens. As influências no começo da banda eram mais “rock de roqueiro”. MQN, Led Zeppelin, Kyuss, Eagles of Death Metal, QOTSA, e várias outras coisas dessa linha, e rock clássico.

Hoje essas influências continuam e se misturam com sons desde Tame Impala, MGMT e White Denin, até Björk, PJ Harvey, Alain Johannes e um monte de outras coisas. Ouvimos bastante coisa. Bem mais do que ouvíamos antes. O rótulo de stoner rock não nos incomoda. Gostamos de stoner rock e tem coisa que é impossível negarmos que tem essa referência. Mas não é um direcionamento estético, é algo que vem nas músicas por uma referência. Acho que o “NDSOY” é menos stoner que os outros discos.

Victor Rocha é designer gráfico e tatuador nas horas vagas.

Victor Rocha é designer gráfico e tatuador.

Rifferama – Hoje está acontecendo um resgate, se podemos dizer assim, de bandas cantando em português. Porque vocês decidiram escrever as letras em inglês? Já foram criticados por isso?

Edimar Filho – Criticados pesadamente não. Sempre tem um comentário ingênuo do tipo “tá no Brasil tem que cantar em português”. Cantamos em inglês porque música tem intenção, não idioma. “Hey Jude” pode ser canta em javanês que continuará sendo boa. Cantamos em inglês por questões estéticas.

Achamos mais legal para o estilo de música que fazemos e que soa melhor do que em português. Falamos inglês e sentimos um certo conforto em escrever no idioma, e não vemos problema algum. Esse resgate acho que nem chega a ser um resgate. Acho que sempre teve mais banda cantando em português do que em inglês.

Rifferama – O que vocês lembram dos shows aqui em Florianópolis? Quais bandas vocês gostam?

Edimar Filho – Tem umas bandas que conhecemos e que já tocamos por aí várias vezes. Tem o The Rocktunes, que tocou da última vez, que é do nosso amigo Ciro, aqui de Goiânia. Tem os Skrotes que é bem foda, o Cassim & Barbária, os incríveis e sensacionais Ambervisions do Zimmer, Atomic Mambo All-Stars, que também é mais uma das loucuras do Zimmer. E o Motel Overdose, que coloca todo mundo para cantar “Leandro Fama, corta o cabelo pra caralho!” (risos). Lembramos demais do último show aí (em agosto de 2012). Ficamos três dias em Floripa. Um tocando e dois curtindo.

Rifferama – Vocês trabalham muito bem a questão dos videoclipes. Ainda vale a pena investir na produção desse tipo de material?

Edimar Filho – Se a banda não está a fim de investir, ela pode tocar na sua cidade, e fazer um monte de coisas legais ainda, mas não dá para esperar muito. As pessoas passam o dia na Internet hoje, no laptop ou em celulares, e assistem vídeos o dia todo no Youtube. Se você não se faz presente nessas plataformas, ok, mas não dá para reclamar depois que ninguém ouviu falar em você. Sem contar que somos fãs de videoclipe. Achamos legal fazer e gostamos do resultado quando nos envolvemos no processo. Eu acho que se a banda acredita no que faz e tem algum tipo de pretensão maior do que tocar em festas da faculdade, ela não tem outra escapatória: Ou investe, ou desiste, ou reclama na Internet. Só existem essas três opções.

Rifferama – Como vocês veem o rock no Brasil hoje?

Edimar Filho – O lance do “rock no Brasil hoje” eu acho que nunca esteve tão bem. Tem gente que é saudosista. Gostava daquele sofrimento de ter que esperar um ano para ver um show, num lugar fedido e com o som ruim. Ter que pegar dois ônibus pra ir na casa do único cara do colégio que tinha TV a cabo (em Goiânia não era todo mundo que tinha) para poder copiar fita e conhecer música nova através dos clipes. Esse lance de nunca conseguir acesso a equipamentos e não existir lugar para tocar. Não tem como ter saudade disso.

Hoje existem centenas de blogs/sites/revistas/ que divulgam o trabalho de bandas em todos os níveis, rádios online, apps que você pode colocar sua música como o Rdio, Deezer, iTunes, Soundclound, GrooveShark, Last.FM… uma infinidade de plataformas. Antes não existia estúdio para você gravar um disco de rock. Não tinha amplificador valvulado nos lugares e, quando tinha, o cara do estúdio quase dava pulo na cadeira por causa do volume.

As facilidades para se fazer música hoje, o crescimento das cidades, e as plataformas para divulgar a música na Internet tornaram a coisa mais acessível para todo mundo. Hoje em dia, se você não consegue fazer sua música chegar às pessoas, ou é porque é ruim mesmo, ou é porque trabalha muito pouco. Oportunidade e espaço estão é sobrando.

Rifferama – Gostaria de saber qual é o teu riff preferido, seja a banda ou qualquer outro.

Edimar Filho – Acho que da banda, talvez o riff do início de “My Favorite Way” seja o mais simbólico, porque foi a música que fez as pessoas conhecerem a banda. Mas escolher um riff de guitarra é covardia. Como guitarrista vou deixar aqui quatro nomes. Pode ser qualquer riff desses quatro caras: Jimmy Page, Jimi Hendrix, Tony Iommi e Pete Townshend.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

6 Comentários

  1. Excelente entrevista. Talvez, a melhor do blog.

    Parabéns ao Rifferama, que vem se tornando uma grande referência nos blogs de música. Acompanho-o sempre. Todas as matérias são interessantes.

    O blog prioriza mais relevância, ao invés de visualizações a qualquer custo.

    Muito bom.

  2. Esse clipe é muito show!!!

  3. Eu tenho uma preguiça danada de um papo furado tão grande, de alguém tão insignificante, que fala, fala, fala e não diz nada.

  4. Essa banda é demais! Muito autêntica e honesta quanto às suas pretensões e quanto ao seu estilo. Concordo com a opção deles de compor em inglês. Aliás, vocal em inglês bom é melhor que o lixo industrial cantado em português que Bonadio nos empurra anualmente.

  5. Além de muito talento, os caras tbm são muito esclarecidos quanto aos planos da banda e as oportunidades do mercado. Parabéns pra eles :D

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