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*por Marcelo Mancha
Fazer música pesada em qualquer lugar do mundo é sempre uma tarefa complicada. No Brasil, então, sobram inspiração e obstáculos, e felizmente temos grandes bandas em atividade nos quatro cantos do país. Em Barra Velha, norte de Santa Catarina, a Soco HC equilibra hardcore, metal e boas letras com maestria, criando no novo trabalho uma narrativa perfeita para o momento vivido no país. “Diferente do Combinado” é o segundo lançamento oficial do grupo, que já tinha soltado em 2023, também no formato EP, “Filhos da Pandemia”. O novo material apresenta uma banda muito mais madura em seu crossover. Nas letras e no instrumental, o quarteto formado por Renã Gregory (voz), Murilo Ramos (guitarra), Zero Oito (baixo) e Montanha (bataria), conseguiu um som pesado e coeso em estúdio, representando muito bem o que eles costumam apresentar ao vivo.
O trabalho abre com “É tudo nosso”, com uma curta intro no sampler, antes de se transformar num caos sonoro que lembra os bons barulhos de DFC, Surra e Lobotomia, já mostrando o recado dos caras. O versátil vocal de Renã, intercalando momentos guturais e mais gritados, soam como uma assinatura da banda. Na sequência vem a pedrada “Sonhos em escombros”, que chega reafirmando o já citado equilíbrio entre os estilos. Aqui a guitarra e a bateria são os destaques. Riffs certeiros de Murilo Ramos e bateria do jeito que a raça gosta, naquela pegada NYHC, ou seria BVHC (Barra Velha Hardcore)? A letra aborda as consequências de uma guerra, um assunto que muitas vezes é batido nesse tipo de som, mas aqui, o tema ganhou força e frescor. Mais atual, impossível.
A próxima é “Chorem malditos”, que caminha pelas mesmas estradas da fase thrashzera “Anarkophobia” (1991), dos Ratos de Porão, influência assumida da banda. Introdução arrastada que se desdobra em uma pancadaria musical. A roda punk agradece a canção. “Poder de escolha” é a mais curta e ligeira do EP. A letra é afiada e dispara um míssil para questionar ‘o poder do voto’, representando mais um capítulo desse Brasilzão de manchetes diárias. “Você pode mudar o mundo, ou o mundo muda você”. Sem mais. ‘Somos comprimidos” encerra o disquinho em alta rotação. Grande candidata a melhor do EP. Muito bem arranjada, a música tem novamente um grande trabalho vocal de Renã e do baterista Montanha, que dá um show na batucada, com velocidade e precisão. Thrash brazuca com letra falando sobre a dependência em remédios e depressão.
O Soco HC em cinco músicas dá uma geral no Brasil e no brasileiro versão ‘hoje’. No estilo curta-metragem crossover, o grupo gravou uma trilha sonora para nossos tempos atuais. Como outras bandas fizeram nos anos 80 e 90, o pessoal de Barra Velha registrou em música, história e conteúdo. Ouve quem quer, chora quem pode. Em 2050 a galera vai ouvir esse EP para entender como era a Brasilândia em 2024/2025. Me chama pra roda, que eu vou!
*Marcelo Mancha é jornalista, músico e baixista do Eutha (desde 1992)
Muito bom !