*por Alessandro Bonassoli
Se você sonha em viver da música autoral – ainda mais em Santa Catarina – saiba que é uma missão complicada. Se a sua praia é o heavy metal, então, prepare-se para dificuldades maiores. Raras são as rádios que topam divulgar o seu som, poucas são as casas de espetáculo que abrem as portas para você se apresentar e o público, muitas vezes, prefere investir uma pequena fortuna para viajar até outros estados assistir velhos medalhões do que apostar nos iniciantes. A opção para buscar o espaço, cada vez mais, é o mundo virtual. O Threzor, quarteto de Florianópolis, sabe disso e escolheu as plataformas digitais para divulgar o seu trabalho e aparecer.
Pelo que se ouve no EP “Liberty Denied”, tenho certeza, é mera questão de tempo para Lucas Souza (voz e guitarra base), Gabriel Theofelo (guitarra solo), John Kuntze (bateria) e Matheus Prusse (baixo) ultrapassarem as fronteiras catarinenses. São somente três faixas, mas o que se ouve é um thrash metal de qualidade acima da média nacional. As influências de Testament, Metallica, Exodus e Flotsam & Jetsam, ou seja, os gigantes norte-americanos do estilo, são nítidas. O bom é que, ao contrário do que faz a maior parte de grupos iniciantes, o Threzor não tenta ser um clone dos originais. Bebem da fonte para conseguir a força e a energia revigorante para procurar o seu próprio estilo.
“Silent Execution” abre o EP com uma pegada baseada na velocidade. A cozinha de Kuntze e Prusse conduzem com qualidade os arranjos para os riffs de Souza e Theofelo que fazem sorrir os apreciadores do thrash metal. Em seguida, “S.U.S.” é daquelas para deixar dolorido o pescoço do headbanger. O uso preciso de backing vocals e o refrão marcante ajudam a incluir a faixa como uma das melhores produzidas pelo metal catarinense em 2017. Por volta dos 2 minutos e 34 segundos entra uma mudança de andamento, onde a pancadaria e os solos remetem a outros nomes do thrash mundial como Toxik, Overkill e Whiplash.
O nível se mantém com a empolgante “Enslaved”, que conclui o EP. Sem experimentalismos e sem tentar ser mais do mesmo, o Threzor renova a cena metálica de Santa Catarina com qualidade e dignidade. Mantém em alta a bandeira erguida por conterrâneos como Red Razor e Rhestus, citando apenas dois dos muitos bons nomes que o thrash do Estado oferece. Agora, três músicas apenas é pouco. O sentimento de “quero mais” domina os ouvidos e a mente de quem escuta “Liberty Denied”.
*Alessandro Bonassoli é jornalista e colaborador da revista Roadie Crew