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Projeto Pancada mistura metal e HC no álbum “Caos Geral”*

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Habrok Music, Mini Kalzone e Orquestra de Baterias

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*por Marcelo Mancha

A primeira vez que ouvi falar do Projeto Pancada, foi quando um amigo me contou os detalhes sobre a formação da banda: “Sabias que os caras do Homem Lixo montaram um novo projeto?”. O quê??? É vero? “Verdade. O trio formado pelo vocalista e guitarrista Alex, o baixista Frank e o baterista Gabriel, é agora o Projeto Pancada. São ou eram ¾ da clássica banda Homem Lixo, que parece mesmo estar com as atividades suspensas”. Como eu já curtia o Homem Lixo, fiquei curioso e querendo ouvir o som dos caras, claro.

O Projeto Pancada é uma banda nova, safra 2021, mas formada por uma galera que tem história no underground de Rio do Sul e de Santa Catarina. Diferente da antiga banda, que era mais centrada no HC (hardcore), o som do novo/experiente trio, busca com mais urgência referências em alguns subgêneros do metal, gerando uma pegada bem crossover.

Para quem não é muito familiarizado com crossover metal, vale a curiosidade. O crossover é um estilo musical que nasceu (quase) junto com o thrash metal. Ambos surgiram e se desenvolveram nos anos 80, utilizam da mesma matéria-prima para criar música, mas com doses diferentes e resultados bem distintos. O thrash surgiu primeiro, quando as bandas de metal começaram a incorporar influências de hardcore e punk. Já o crossover veio um pouco depois e fez o caminho inverso, ‘metalizando’ as bandas de hardcore punk. Aquele som mais direto e de letras ácidas, ganhava as palhetadas, o peso e o groove do metal.

O Projeto Pancada vai na linha de um crossover mais atual, praticando uma mistura abrangente e que em muitos momentos é difícil de ser classificada. Não que isso tenha alguma importância no produto final, mas o exercício do estudo é interessante. A banda que na raiz é hardcore, circula com desenvoltura por outros estilos da música pesada e da música pesadíssima, agregando influências e misturas nesse “cruzamento”.

O álbum “Caos Geral” (Velvet Discos 2021) é um trabalho de estreia especial. Principalmente porque a banda aproveitou da experiência adquirida em outras temporadas na estrada e nos palcos e organizou o lançamento de forma planejada. Lançou quatro singles na sequência, todos acompanhados de videoclipes, e na virada de setembro para outubro disponibilizou o álbum completo com dez faixas (os quatro singles + seis inéditas + dois novos clipes) nas plataformas e também no formato CD, numa tiragem especial de 100 cópias. A capa do álbum ficou nas mãos de Daniel Ete Giometti (Muzzarelas e Bong Brigade). Respect!!!

Vale dizer que toda essa dedicação ao lançamento faz ainda mais sentido quando o som começa a rolar nos fones de ouvido. A gravação, as músicas, os arranjos, as letras, ou seja, a parte principal disso tudo, também “chega chegando” em high quality sonora. “Pode anotar mais um ponto pros caras”. Fato. O disco é muito bom. O material foi gravado em Rio do Sul pela própria banda e mixado e masterizado em Santos (SP) por Léo Mesquita, guitarrista e vocalista da banda Surra.

A abertura do álbum com “Pancada” já mostra a vibe pesada da banda, com dois bumbos, guitarras rápidas, vocal gritado e as participações nos vocais de Anie e de Quique Brown, integrante da banda Leptospirose. A ordem das músicas no álbum serve para o ouvinte, aos poucos, ir entrando no universo da banda. “País de Merda” e “Pé de Flor” chegam acrescentando balanço e soltando a metranca na batera com uns blast beats que encaixaram bem nas ideias do Projeto. A faixa “Hoje Não” tem só 18 segundos de duração e ficou perfeita. É isso, recado dado.

E é justamente nesse ponto que a audição do álbum atinge níveis altíssimos da fusão entre hardcore e metal. “Comércio Popular”, “O Invisível” e “Setembrino”, respectivamente faixas 6, 7 e 8 do disco, são os pontos altos da obra. É aqui que a banda consegue melhor equilibrar os elementos (que são muitos), de forma original, encontrando a alquimia certa para a música do trio. As boas letras em português carregam aquele humor cáustico (herança dos pioneiros do crossover) e seguem corroendo temas de um Brasil pandêmico que insiste em não mudar há mais de 500 anos. Política, crimes reais, cheiros podres, pesadelos, histórias vividas, produtos da China e falsa felicidade são alguns dos assuntos gritados com fúria pela banda.

A ideia dos caras é lançar ainda mais quatro clipes para completar as dez músicas do álbum, demonstrando uma percepção apurada da necessidade nos dias de hoje, de uma produção audiovisual conjunta com a parte musical propriamente dita do trabalho. Cada faixa do álbum vai ser representada também por um videoclipe. Valorizei ainda mais a obra. Na lista dos lançamentos pesados de 2021, “Caos Geral”, já entra no top 10. Na cotação das estrelas leva 4; nos números, a nota é 9.

Foto: Doug Theiss

*Marcelo Mancha é jornalista, músico e baixista do Eutha (desde 1992)

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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