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Locks e sua arriscada originalidade em “Fórmas em teMp0″*

O Rifferama tem o apoio cultural da 30 Por Segundo e Habrok Music

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*por JP Rodrigues

Devo confessar que à primeira vista o trabalho me caiu quase que como um grotesco tapa na cara. Isso certamente porque eu não estava preparado para o que viria… No geral, o álbum parece permeado por um sentimento de autoindulgência. Um caos disponibilizado propositalmente de início aos ouvidos e que, pouco a pouco, toma os demais sentidos. Lentamente (após algumas audições), as imagens começam a aclarar e o que se percebe é uma sutil desconstrução. E é essa desconstrução sonora que se espraia por “Fórmas em teMp0”. A obra alterna momentos ternos com climas delirantes (no que se poderia chamar de “derretimento de harmonias”), quedas vertiginosas, alegorias esvoaçantes, melodias inesperadas e mudanças de tempo milimetricamente caóticas — culminando em uma arriscada originalidade.

“Ida e volta e ida” remete a uma lembrança de infância. Lúdica, porém não resta dúvida que exala atualidade quando parece nos carregar por dentro de fantasmagóricos loopings que vão ficando cada vez mais intensos e desesperadores [brincar de roda já não é tão legal porque pode-se morrer…]. Enquanto que “Pituã” soa como uma crítica à rejeição para novas ideias na sociedade, ainda que funcione também como uma ode à fidelidade… Simultaneamente, o instrumental provocante lança o ouvinte a um redemoinho incerto de emoções. Já, a aparentemente despretensiosa, “Ele e eu” pareceu-me um olhar sobre memórias afetivas compartilhadas de um passado (onde o que parecia importar era a sinceridade: Nós, já fomos mais nós…). Os últimos instantes da faixa se apresentam como uma espécie de ruptura, ou mesmo uma despedida.

“Metalografia nº 173” o nome sugere um olhar atento e próximo próprio à microestrutura dos detalhes e ao mesmo tempo uma visão geral da situação. Traz aquela atmosfera eminentemente espacial. A faixa ascende em direção ao cosmos e no meio do caminho regressa para se perder em algum córrego de águas calmas. “Iara” musicalmente é a faixa mais vibrante, colorida e absurdamente carregada de nuances com carga suficiente para deixar o ouvinte mais desavisado um tanto quanto atônito. “Incursão ao Ganges” é uma jornada que, em linhas gerais, trata de autoconhecimento, abnegação e amadurecimento espiritual.

O tema inicial de “Teus olhos com lágrimas me deixam cansado” é melancólico e complexo, mais à frente se transmuda em um feixe de tensão, angústia e cinismo. A atmosfera espacial e a letra evocando lembranças de outros planetas/galáxias oferece uma matiz ainda mais gélida à solidão retratada. Além disso, surge a ausência de esperança no futuro por conta de uma egocêntrica estupidez e o inevitável sentimento de absoluta culpa por tudo que não tenha dado certo, nesta que é (na minha opinião, claro!), a melhor música do álbum… Digo mais, essa música define o álbum “Fórmas em teMp0.

*JP Rodrigues é advogado público, guitarrista, fundador da banda Jeremias sem Cão e torcedor do Figueirense

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

2 Comentários

  1. Valeu galera!

  2. Sensacional, adorei a descrição :)

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