Foto: Filipe Nevares
“Pintando Quadros do Invisível”, segundo álbum da Ponto Nulo no Céu, lançado no dia 28 de abril, pode ser encarado de duas formas. Quem escutou “Brilho Cego”, de 2011, percebeu a mudança estética, resultado da troca nos integrantes – apenas o vocalista Dijjy Rodriguez permaneceu da formação que gravou o debut, obra-prima do metalcore nacional.
Os novos fãs conheceram um grupo que ainda mantém uma identidade, mas aposta em influências modernas, transformando a sua música em algo mais acessível para alcançar um público maior e diverso, mesmo que não tenha sido de forma intencional.
A principal virtude de ambos os trabalhos está no conteúdo lírico. A capacidade de Dijjy para escrever letras pertinentes à realidade parece inesgotável. Frases como “Se, ao invés do ego, toda prece evocasse a limpeza de qualquer linha que trace fronteiras imaginárias nos mapas, impedindo que liberdade por ali passe…”, mais importante do que emocionar, faz pensar. Vale destacar também que, além da consciência social, a PNNC não tem medo de se posicionar publicamente sobre o que acontece no país.
Os irmãos Taboada, Felipe (guitarra) e Lucas (bateria), ex-Prólogo, e o baixista Fau levaram o som da Ponto Nulo no Céu para outra dimensão. Algumas passagens são ainda mais pesadas do que em “Brilho Cego”. A falta de solos é compensada pela habilidade do guitarrista, que criou grandes riffs e texturas para as composições. O groove conferido pela cozinha também tem papel fundamental na cara que este álbum ganhou. Mas a principal diferença está nos vocais. Os guturais aparecem em menor escala, para não dizer que foram abolidos, motivo de críticas por parte dos fãs mais antigos. A mudança favoreceu ao vocalista, que comprovou a sua versatilidade como cantor e também valorizou as letras que escreveu.
As participações em “Pintando Quadros do Invisível” podem ser chamadas mesmo de especiais e demonstram o prestígio da banda no cenário nacional. Começando por DJ A.N. (Experimento Vinte) em “Por Entre os Dedos”. A dupla Keops e Raony, do Medulla, canta em “Sob o Mesmo Sol”. O guitarrista Vini Castellari (Project 46) faz o único solo do disco, em “Dormência”. A Project 46 também aparece em “De São Paulo a Xangai”, com Caio MacBeserra nos berros. O saxofonista Julian Brzozowski (Orquestra Manancial da Alvorada) toca em “O Sonho é uma Ilha” (que outro!), um encerramento surpreendente para este álbum, que foi mixado e masterizado por Adair Daufembach em Los Angeles (EUA).
Sempre que uma banda altera o direcionamento musical existe uma divisão entre o público. Quem acompanha o grupo desde o começo (lá em 2007) tem todo o direito de torcer o nariz, mas a nova Ponto Nulo no Céu é muito mais arte e relevante. E o caminho, que sempre foi cheio de obstáculos, será aberto com os dois pés com a qualidade deste disco, que põe a PNNC entre as maiores da cena independente do Brasil.