Ouça a playlist exclusiva com os melhores lançamentos de 2018
Dandara Manoela – Retrato falado
A cantora Dandara Manoela é uma força da natureza. Unanimidade no cenário autoral de Santa Catarina, a compositora, que também atua em outros grandes projetos como as Cores de Aidê e a Orquestra Manancial da Alvorada, usa a sua voz como instrumento de transformação em “Retrato falado”. Dandara narra a sua luta e conta a sua história de forma visceral – sem meias palavras. Mas nem tudo é denúncia no álbum, a balada “Peixe”, que conta com a participação de Fábio Mello no saxofone, é um dos melhores momentos desse trabalho, um discaço.
Disaster Cities – LOWA
Em seis meses, a Disaster Cities, de Chapecó, apareceu do nada e se consolidou como a principal novidade do rock catarinense nos últimos anos. O álbum “LOWA”, gravado em São Paulo (SP), onde hoje a banda está fixada, foi lançado em março e as suas músicas somam mais de 1,5 milhão de execuções nas plataformas digitais. O quarteto não economiza no peso – com exceção da acústica “White Lines”, é pedrada do começo ao fim. Classificar o grupo como stoner é muito pouco para o som poderoso que a Disaster Cities apresenta. Para ouvir de capacete.
Gloire Ilonde – Sambole
“Sambole”, primeiro trabalho do cantor e compositor Gloire Ilonde, é único. Cantado em português, francês e lingala, dialeto da sua terra natal (República Democrática do Congo), o disco sustenta a sua base nos ritmos afro-brasileiros e congoleses, mistura que não tinha como dar errado. Os arranjos da Brass Groove Brasil são dignos de nota, como sempre, e só destacam a voz especial de Ilonde, que viveu os últimos sete anos em Florianópolis. Um álbum de muitas cores, sonoridades, sensações e tecnicamente impecável.
Letícia Coelho – Brota
“Brota” é um álbum forjado por muitas mãos e vozes. Gravado no renomado estúdio Magic Place, o disco de estreia da cantora e compositora Letícia Coelho explora uma infinidade de estilos. Altamente percussivo (ela tocou mais de 20 [!] instrumentos nesse registro), o trabalho flerta com o rock em “Terminal” e “Peito fora” – a guitarra do virtuose Tom Cykman é um dos pontos altos desse trabalho, que envolveu mais de 40 pessoas na sua produção. “Brota” nos desperta para algo novo a cada audição. Um belo exemplo do que está sendo feito na música brasileira.
Makalister – Mal dos Trópikos, Construindo a Ponte da Prata Roubada
O rap catarinense se divide em antes e depois de “Mal dos Trópikos, Construindo a Ponte da Prata Roubada”. Falo com tranquilidade. Makalister é um fenômeno. O que diferencia o rapper de São José dos demais é a complexidade das suas linhas, tema bastante discutido entre os seus seguidores. Jovem Maka rima com eloquência, tem uma bagagem cultural e vocabulário impressionantes para um artista da sua idade (24 anos). “Mal dos Trópikos” é um clássico que coloca Makalister entre os grandes nomes do estilo no Brasil. E é só o começo.
Molitium – Progeny
Desde o lançamento de “Precession”, do Symbolica, em 2012, eu não me empolgava tanto com uma banda nova de metal. A Molitium, de Laguna, não é exatamente o que podemos chamar de novata. O grupo, que respondia por Diemordinate, trocou de nome e integrantes e gravou um verdadeiro petardo. O carro-chefe de “Progeny”, que tem uma produção moderna, são as guitarras de sete cordas e os solos insanos gravados por Renato Campos. A voz de Egvar Hermann também se destaca: nos seus melhores momentos remete a David Draiman (Disturbed). O metal catarinense vai muito bem, obrigado.
Monte Resina – Aluado Bulimor
“Aluado Bulimor”, primeiro álbum do Monte Resina, faz jus ao potencial da banda. O trio avançou muito em questão de sonoridade e qualidade de gravação em relação ao EP de estreia, homônimo, que saiu em 2014. O stoner rock instrumental guiado pelos riffs do guitarrista Paulo Douglas Tefili Filho, que assina todas as composições, não caminha para a psicodelia como grande parte dos grupos do estilo – é lenha o tempo inteiro. Um disco caótico, pesadíssimo, que faz frente a qualquer lançamento do estilo neste ano. Não perca tempo e ouça.
Orquestra Manancial da Alvorada – Via Várzea
Se tivesse de escolher um adjetivo para descrever a Orquestra Manancial da Alvorada, não pensaria duas vezes. O que o maestro Julian Brzozowski e companhia atingiram em estúdio é assustador. O difícil é não partir para o elogio gratuito diante de um álbum como “Via Várzea”, um trabalho que se aproxima da perfeição e será cultuado por anos e anos. É emocionante poder viver na mesma época em que Julian, Dandara Manoela, Marissol Mwaba, Rafael Pleger, Fábio Cadore, Paulo Zanetti, Leonardo Schmidt e Gabriel Dutra. Obrigado pela obra.
Somaa – O mundo quer te enganar
Com três EPs, dois singles, um split com a Sylverdale e um DVD ao vivo, a Somaa, de Joinville, já tinha uma discografia de respeito nesses sete anos de estrada. A trajetória do trio formado por Rafael Zimath (voz e guitarra), Nedilo Xavier (baixo) e Tiago Pereira (bateria) alcançou outro patamar com o lançamento do primeiro disco, “O Mundo Quer te Enganar”, que saiu pela icônica Monstro Discos, de Goiânia. Gravado no estúdio Costella, em São Paulo, o álbum tem um som “grande”, polido, mas sem esquecer de carregar no peso: é rock do grosso.
Tin Tin Dao – Transit
O sexteto Tin Tin Dao, de Rio do Sul, começou a compor para “Transit”, primeiro disco do grupo, quando inscreveram o projeto para a gravação de um álbum autoral no Prêmio Nodgi Pellizzetti de Incentivo à Cultura. O jazz é a matriz sonora da banda, mas “Transit” tem de tudo um pouco – afrobeat, rock, ska, bolero, soul, entre outros estilos. Tudo dosado com extremo bom gosto e competência. Santa Catarina teve grandes trabalhos de música instrumental em 2018 (Luiz Gustavo Zago, Pavel Kazarian & Gabriel Vieira, Leo Garcia, Gandhi Martinez, Soonanda, entre outros), mas o Tin Tin Dao saiu na frente pela irreverência.
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