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Os melhores álbuns lançados em Santa Catarina em 2022

O Rifferama tem o apoio cultural de 30 Por Segundo, Mini Kalzone, Camerata Florianópolis, Bro Cave Pub, Lord Whisky Distillery, e Biguanet Informática


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Aldiaz — Afago

O retorno da Aldiaz, de Jaraguá do Sul, foi uma das gratas surpresas do ano. Primeiro lançamento da banda desde 2006, “Afago” é um álbum de rock intenso que se destaca pelas letras simples, mas cativantes, entoadas pela voz única do vocalista Evandro Fuechter, que também toca guitarra e é acompanhado por Jean Andrighi (Hauser) no baixo, Henrique Barcarolo na guitarra e pelo monstro Roger Loss (Cäbranegrä) na bateria. Outro ponto positivo desse trabalho é a qualidade da gravação, dessa vez à altura do som praticado pelo grupo, que tem mais um álbum e um EP no currículo.


Beli Remour — Enterre o meu coração na curva dos teus olhos

Há tempos o cantor, compositor e produtor musical Beli Remour deixou de ser colocado na prateleira do rap, se é que algum dia se encaixou em um rótulo apenas. O que mais impressiona na música feita pelo artista de São José, além da consistência do trabalho (lançou mais sete singles durante 2022), é a identidade estética que atingiu. “Enterre o meu coração na curva dos teus olhos” bebe de diversas influências, mas tudo soa como uma versão melhorada do que Beli Remour já fez. Um álbum elegante, com participações que agregam de fato como Matéria Prima, Maydana, Makalister, FRAJ, Reis do Nada e mais.


Coletivo Tapera — Andantino caiçara

Em um estado tão diverso musicalmente quanto Santa Catarina, em que se produz literalmente de tudo, ter grupos como o Coletivo Tapera é de suma importância para se entender o que é a música catarinense. “Andantino caiçara”, lançado com um livro ilustrado, canta o pescador, o boi de mamão e as religiões afro-brasileiras em uma roupagem atual, que une o popular com estilos como o rock, o funk e ritmos latinos. A banda, que é de Itapema, aponta para o novo, mas não deixa de celebrar as raízes da nossa cultura, com destaque para as duas faixas com a participação do grupo Raiz da Terra, que fez o seu primeiro registro profissional em mais de 50 anos de história.


Clara Poema — Todas as plantas

“Todas as plantas”, primeiro álbum da cantora e compositora Clara Poema, carioca radicada em Blumenau há mais de dez anos, pontua os muitos ritos de passagem do ser mulher, entre nascer, crescer, se apaixonar, gerar, parir, separar, encerrando numa epifania de si mesmo. Gravado na Chapa dos Veadeiros (GO) entre 2020 e 2021, o trabalho de estreia da artista em carreira solo, foi masterizado por Braz Torres (Carne Doce, Rodrigo Alarcon, entre outros) e traz uma sonoridade inspirada no rock psicodélico dos anos 60 e na Tropicália. Um trabalho repleto de convidados, mas que soa profundamente pessoal, com ótimas guitarras e a voz doce de Clara, que se mostra por completo nesse repertório.


Da Cor do Canto — Arcoirizar

Os cantores e compositores Cassiani Tasca e Rafaelo de Góes conseguiram uma façanha. O primeiro álbum do duo Da Cor do Canto, de Itajaí, trouxe um frescor para a chamada nova MPB. Produzido por Elieser de Jesus (teclados, arranjos, produção musical, gravação e mixagem), o nome do momento, “Arcoirizar” reúne um timaço de músicos, como o mestre Arnou de Melo no baixo e Willian Goe na bateria e percussão, soa moderno, sem esquecer da brasilidade. O samba divide espaço com o pop e também com o experimental — a cítara em “Solta livre” apresenta um toque oriental
inusitado. As poesias declamadas tornam “Arcoirizar” um trabalho ainda mais surpreendente.


Eva Figueiredo — Cria

“Cria”, título do primeiro álbum da cantora, compositora e clarinetista Eva Figueiredo, tem inúmeros significados, assim como a própria palavra. É um trabalho que fala sobre ela mesma, mas também com relação a criar o seu filho, Luba, fruto da relação com o companheiro e igualmente autor de canções Paulinho Brandão, e no que diz respeito “a tantas outras coisas que a gente cria: canções, utopias, amores”. A música contida em “Cria” pode ser rotulada como brasileira e popular, mas ganha contornos suaves e coloridos pela relação com a Ilha, mas tem uma aura cosmopolita da cidade grande, tudo permeado por arranjos de muito bom gosto.


Grillo e os Mosquitos — Baga elétrica

A produção instrumental de Santa Catarina é de excelência. Essa lista poderia conter 12 álbuns apenas de trabalhos desse segmento tranquilamente, mas o objetivo do Rifferama é apresentar a diversidade musical do estado, então muita coisa de alto nível fica pelo caminho, como os discos de bandas e artistas como Confluência, Edu Ribeiro, Gaia Wilmer, Iva Giracca & Roger Corrêa e Matheus Ferreira, todos ótimos. A escolha por “Baga elétrica”, da Grillo e os Mosquitos, se dá pela exuberância técnica do trio formado por Pedro Germer (guitarra), João Peters (baixo) e Gustavo Grillo (bateria), claro, mas também pela irreverência e energia do material, que mistura com perfeição o rock com a música brasileira, o jazz, o reggae e outros ritmos.


Jean Mafra — ainda

O cantor e compositor Jean Mafra é um artista único. Poeta do nosso tempo, Mafra sintetizou nas canções de “ainda” o país pós-golpe e pandêmico. Um trabalho plural que reflete a sua trajetória na música, com letras que revelam um homem sensível, que carrega dores e incertezas. E dizer que por pouco não tivemos a oportunidade de ouvir esse álbum, que ficou guardado esperando o momento certo de vir ao mundo. “ainda”, uma amálgama do artista Mafra, faz uma ponte entre o eletrônico com o Brasil profundo, guiado por sintetizadores e percussão, só poderia ser lançado em 2022. Um disco que deixa a gente meio puto, meio triste e com vontade de rebolar.


JUNE — Crying for Attention

JUNE, alter ego da cantora e compositora Julia Sicone, é um dos nomes mais interessantes da música pop brasileira. “Crying for Attention”, o seu segundo álbum, atesta essa afirmação. Com direção musical de Lucs Romero (Tuyo, Jade Baraldo, Marissol Mwaba), o disco foi masterizado por Felipe Tichauer, que soma 12 troféus do Grammy Latino no currículo. Gravado no primeiro ano da pandemia, “Crying for Attention” chama a atenção pela produção caprichada, tipo exportação, e pela força do repertório: todas as 11 faixas têm cara de single. “Front Door”, por exemplo, tem aquele refrão que poderia ser cantado a plenos pulmões por milhares de pessoas num estádio. Potencial é o que não falta.


Outros Bárbaros — Interlúdio na beira do caos

O segundo álbum dos Outros Bárbaros coroa uma caminhada na música de mais de 20 anos do cantor, compositor e guitarrista Maurício Peixoto (Os Berbigão, Aerocirco, Della/Peixoto, Babba e Tijuquera). “Interlúdio na beira do caos” traz as melhores canções já escritas por Peixoto, que conseguiu estabilizar o time com Diego Stecanela (teclados), que se destaca pelo bom gosto nos arranjos, e uma cozinha firme, formada por Eduardo Lehr (baixo) e Quinho Mibach (bateria). O som que os Outros Bárbaros fazem é enraizado no rock, mas traz uma forte (e bem-vinda) influência da música brasileira.


Trovão Rocha Trio — Sobre a lua e os passos

“Sobre a lua e os passos”, primeiro trabalho do baixista Trovão Rocha como líder, é algo para ser apreciado. Um álbum que traz uma música viva, com uma banda que soa como uma coisa só, tipo uma simbiose de três partes, com o saxofonista Sebastian Cavallaro somando nas melodias de forma refinada e Victor Bub quebrando tudo como sempre na bateria. Dono de um jeito particular de tocar, o virtuoso Trovão Rocha não se esquece de criar belos temas no meio de acordes e notas do seu baixo de seis cordas, que por vezes chega a lembrar uma guitarra. Destaque para “Onze dias” e seus nove minutos que soam como um mantra.


Vince — Austral

“Austral”, primeiro trabalho da Vince desde 2010, é o melhor disco de rock deste ano. Simples assim. Na necessidade de classificar, é possível rotular a banda de Rio do Sul no gênero post-hardcore, uma sonoridade ao mesmo tempo agressiva e melódica. A produção de Rafael Rossetto, que acabou entrando para a banda como guitarrista, trouxe vida para as composições do grupo, em que se destacam os refrãos grudentos, a voz poderosa de Grazzus Cunha e os riffs pesados. As letras escritas em português, que apesar de tratarem de temas como raiva, medo e tristeza, passam uma mensagem de esperança, superação e amor, e representam um processo de cura para os integrantes do grupo.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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