Mimimi. Foto e edição: Julian

Rifferama Entrevista: Adam e Juliette

Foto: Julian Brzozowski

O som da Adam e Juliette é como um soco no estômago. Cansados do que viam e ouviam, Julian Brzozowski (vocal e guitarra), Danilo Mello (baixo), Gabriel Dutra (bateria) e Daniel Postal (sintetizador) se reuniram em abril de 2010 para fazer música, mas só em 2013 que começaram a aparecer, de fato, com o lançamento do disco “Tutatis/Belenos”, que saiu apenas no formato digital, via SIC Music. Influenciados por Frank Zappa e Mars Volta, a Adam e Juliette é a grande revelação do rock em Florianópolis nesse ano. O Rifferama conversou com Daniel Postal, que revelou detalhes de toda essa doideira. Confira.

Rifferama – Li uma entrevista da banda e achei vocês “bizarros”, tanto nas ideias como musicalmente. Quando surgiu a Adam e Juliette?

Daniel Postal – Começou em 2010, mas faz um ano que estamos trabalhando mais “profissionalment”. Primeiro que adoramos fazer música, é o jeito de aguentar a vida, e depois achamos escroto como a maior parte da música é feita, porque ela é feita, então acabamos criticando isso musicalmente. Confundir é um dos objetivos.

Rifferama – Como descreves essa mistura que a Adam e Juliette faz e qual a recepção que o som de vocês vem recebendo? Acha que muita gente ficará sem entender a proposta da banda?

Daniel Postal – Está sendo muito bom. Um cara no Ufsctock falou o seguinte: “vocês me fizeram perceber como o rock é feito de clichês“. É exatamente o ponto da coisa toda. Perceber que as pessoas estão recebendo dessa forma é muito massa. A maioria das pessoas fica meio sem saber o que fazer, parece. E não sei como definir também, a gente brinca que é “prog pauleira”, mas nada oficial. Gostamos de descobrir bandas o tempo todo, então as influencias estão sempre aparecendo. Não entender diz muito sobre o que fazemos. Não entender ou não gostar é tão profundo quanto se apaixonar pelo som, diz muita coisa. Estamos aqui para provocar.

Rifferama – Podemos dizer que o Ufsctock foi o primeiro “grande teste” para vocês? Como foi a reação do público?

Daniel Postal – Tivemos vários testes antes, mas o Ufsctock foi um tipo de consagração do momento. Foi muito foda ver o pessoal com cara de “meu deus, o que está acontecendo?” ou “nunca vi disso” e rolou umas 70 curtidas na nossa página depois do festival. Serviu para sabermos como está nosso “produto”. A maioria das pessoas recebe muito bem as músicas. Minha mãe disse: “é diferente, mas também dá para ouvir sem compromisso”. Acho que dá para ler que tem a doideira, o progressivo, mas também tem a pentatônica com o tema “bonito”. Isso facilita.

Rifferama – Como foi a gravação do disco? Ele é diferente de tudo o que já foi feito aqui praticamente.

Daniel Postal – Foi um processo demorado, começou há dois anos e foi se estendendo até agora. Foi feito no Pimenta do Reino (que fez um preço lindo e teve muita paciência para que a doideira pudesse acontecer) e produzido pelo Julian (compositor das coisas) e pelo Rafael Pfleger. Acompanhei um pedaço do processo e era muito legal: as músicas tinham um esqueleto que depois foi sendo trabalhado, adicionando detalhes, efeitos (o Rafa é tipo mestre dos ableton). A ideia foi explorar ao máximo o que podia ser feito no estúdio, tanto é que no nosso show nem toca as músicas do álbum, tem algumas delas que nem sabemos tocar ainda… O fato de ser muito diferente é meio inevitável. As concepções políticas da banda, no que diz respeito à produção musical, não permitiriam que fizéssemos “roque”. Acontece que quando a gente compõe sai isso aí.

Rifferama – “Tutatis/Belenos” foi lançado somente na Internet (pela SIC Music). O que vocês acham desse tipo de iniciativa?

Daniel Postal – O disco grátis pela web é uma opção porque é o jeito mais barato e independente de se lançar qualquer coisa. Também pensamos em não colocar 15 pilas entre nós e os possíveis ouvintes, garantindo que pessoas como nós mesmos (que praticamente só ouvem música que se possa encontrar no Pirate Bay) possam nos conhecer.

Rifferama – Quais são os planos da banda agora?

Daniel Postal – Queremos chegar em Los Angeles, Berlim, Tokio e Mogadíscio antes que Fukushima transforme essa vontade em uma aventura pós-apocalíptica. Acreditamos no poder da doideira! Ah, importante dizer: o clipe foi todo feito por nós. Digo isso porque esses dias alguém comentou: “porra os caras devem ter investido uma grana”. Gastamos uns 100 pila contando a locação daquela biblioteca.

Rifferama – Tens algum riff preferido?

Daniel Postal –  O riff preferido da banda é aquela gravação do canto dos grilos desacelerado (sério, tu já viu isso? é bizarramente foda). E o meu riff preferido é aquele que ainda não foi dito daquela forma, inaudito. Pode ser que eu crie ele no banho ou que eu ouça numa festinha por aí… (não me entrego fácil).

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

Um comentário

  1. Me encantou.

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