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Rifferama Entrevista: Perpetual Dreams

Foto: Makila Crowley

Quantas bandas de heavy metal catarinenses você conhece que têm três discos lançados? Com quase 20 anos de estrada, o Perpetual Dreams, de Blumenau, está divulgando o DVD gravado no festival River Rock, em 2010, em Indaial, mesma edição que a Rhestus filmou o seu show.

O Rifferama conversou com o guitarrista Deny Bonfante (o primeiro da direita para a esquerda), que é proprietário do estúdio RVB e lançou recentemente um álbum solo chamado “The Midnight Star”, que fará parte de uma trilogia instrumental. Nesse longo bate-papo, Deny fala sobre as suas influências, o atual momento da banda e as dificuldades em manter uma banda independente.

Rifferama – A notícia mais recente da banda é o lançamento do DVD ao vivo no River Rock. Assim como a Rhestus, vocês também filmaram o show no festival. Quais são as lembranças daquela apresentação, que é de 2010, e o qual a sua opinião sobre o resultado final?

Deny Bonfante – Foi um show especial! Depois daquela edição, nossa região ficou por dois anos sem o River Rock, e havia muitos rumores na época de que aquele seria o último festival. Felizmente, o River voltou com tudo em 2012. Tivemos um grande apoio da organização, que nos possibilitou ter um tempo legal para a apresentação e boas condições técnicas para a gravação do áudio e do vídeo do show. Também tivemos um grande apoio do pessoal da Rhestus, aos quais também devemos um agradecimento muito especial por este trabalho. Decidimos gravar o DVD somente no dia, então até a véspera, seria um show comum. O que ocorreu é que a Rhestus resolveu gravar durante aquela semana, e me contataram para fazer a captação do áudio do show. Como tocaria no mesmo dia, seria inviável. Como toda a estrutura já estava lá montada, e como o nosso show seria logo antes do da Rhestus, decidimos filmar e lançar aquele material. A finalização do áudio dos dois DVDs foram feitas por mim e pelos integrantes das bandas.

Curti muito esse esquema de termos decidido na última hora, pois estávamos bem tranquilos e não ficamos “pilhados” pela gravação. Na verdade, essa gravação nos pegou de surpresa e nem tivemos tempo para nervosismos. O resultado foi que conseguimos fazer um show absolutamente natural e tivemos uma ótima performance no dia. Queríamos algo absolutamente honesto, sem edições ou recursos de estúdio, apenas um retrato fiel da banda ao vivo. Não há truques ali. Somos exatamente aquilo e temos orgulho de nosso trabalho como banda! Então posso dizer tranquilamente que ficamos muito contentes com o resultado. Ficamos tão satisfeitos que resolvemos inclusive lançar este trabalho também como um CD ao vivo. Além disto, aproveitamos a oportunidade para incluir um documentário contando um pouco do dia a dia da banda, com cenas de bastidores de shows, entrevista com os integrantes, etc. A sessão de extras está cheia de conteúdo e informações, o que agrega ainda mais valor ao trabalho!

Deny Bonfante tem um disco solo.

Deny Bonfante tem um disco solo.

Rifferama – O último disco da banda, “Eternal Riddle”, de 2010, teve uma aproximação maior com o hard rock do que os dois primeiros. Essa é a direção que a banda pretende seguir? Existe algum plano para o lançamento de um novo disco?

Deny Bonfante – Realmente, o “Eternal Riddle” tem toques bem fortes de hard rock e talvez momentos bem marcantes dentro deste estilo. Mas também colocamos coisas mais pesadas e densas, tanto na parte instrumental como nos temas das letras de algumas músicas. Acho o resultado mostrou de maneira mais ampla as nossas influências. Quando fizemos a seleção do repertório percebemos que realmente existia esta diferença entre as músicas, mas decidimos colocá-las juntas no mesmo disco mesmo assim. Nossa intenção com a banda foge do lado comercial das coisas.

Não queremos seguir tendências e procuramos não nos influenciar por fatores externos. Queremos apenas fazer nossas músicas, do jeito que achamos que devem ser, sem este tipo de preocupação. Nosso objetivo é exclusivamente artístico, por isso não premeditamos as coisas desta maneira. A única coisa que decidimos conscientemente antes de começar um disco, é a identidade que ele terá. No “Eternal Riddle” buscamos timbres mais pesados, afinações mais graves e letras mais densas. Nos damos a liberdade de tocar qualquer coisa que traga influências do hard rock ao thrash metal.

Sobre trabalhos futuros e o seu direcionamento, é uma questão difícil. Temos várias ideias para músicas novas, mas não vamos definir um direcionamento, pois antes precisamos fazer uma pré-seleção de um repertório para um possível novo disco, e somente depois teríamos condições de determinar uma direção ou conceito que se encaixe neste novo trabalho. O que quero dizer é que não somos nós que decidimos, são as músicas. Parece brincadeira, mas é sério! As músicas sempre sugerem uma direção para o trabalho e para a sonoridade. Apenas procuramos fazer uma seleção criteriosa de repertório. Por enquanto temos várias ideias de novas músicas, que certamente já poderiam ser um novo álbum, mas isso não deve ocorrer em curto prazo. Temos outros planos para a banda em 2014. A divulgação do DVD é uma prioridade neste momento. Talvez em 2015 estejamos mais perto de começar os trabalhos para um novo álbum, mas não temos nada programado por enquanto.

Rifferama – Como tem sido a repercussão do teu disco solo, o Midnight Star? Tens a intenção de gravar outros álbuns?

Deny Bonfante – A aceitação do “Midnight Star“ está sendo muito boa. Tenho tido ótimos comentários e ótimas resenhas sobre o disco. Confesso que fiquei até surpreso com essa aceitação. Mas tenho que lembrar que este é um disco indicado para quem gosta de música instrumental. E nem todas as pessoas que ouvem metal gostam de discos instrumentais. Em geral ainda existe muito preconceito com esse tipo de música. Muitas pessoas que ouvem e curtem o álbum são músicos e tocam em outras bandas! É muito legal ver que este público está curtindo o seu trabalho. O que me deixa mais contente é saber que muitas pessoas que não estão habituados a ouvir este tipo de trabalho ouvem o disco e curtem também. Isso é realmente importante, pois representa o rompimento de uma barreira, de um preconceito.

Sobre gravar outros álbuns meus, tenho muitos planos em mente. Inicialmente, pretendo fazer uma trilogia no formato “banda”, com guitarras, baixo, bateria e teclados, mas cada disco terá conceitos diferentes. Depois estudarei ideias para os trabalhos seguintes. Dentro da trilogia inicial, o “Midnight Star” foi o primeiro, é mais rock, direto e voltado para a guitarra. O próximo se chamará “Spirit of Light”, já está gravado e em fase final de mixagem, e será lançado ainda este ano. Será um disco mais leve, voltado para a composição e para o arranjo, e será um disco bem menos focado nas guitarras e mais afastado da virtuose, tendo inclusive algumas músicas sem guitarras. Já para o terceiro álbum desta trilogia pretendo fazer algo mais agressivo, pesado, virtuoso e técnico, e já tenho algumas composições prontas e pré-produzidas. Devo começar a gravá-lo para valer assim que lançar o meu segundo disco.

Rifferama – Você é produtor e tem um estúdio. Isso ajuda ou atrapalha quem tem banda? O Perpetual Dreams poderia ter feito mais discos nesse período?

Deny Bonfante – Trabalho como produtor musical há 10 anos no meu próprio estúdio, onde já gravei, produzi, mixei e masterizei mais de cem trabalhos dos mais variados estilos. Creio que isso ajude a banda. Facilita bastante na questão das gravações, condições, etc., mas na verdade não é só isso que conta. Não basta você ter um estúdio à disposição da banda. É certo que isso facilitaria muito em uma série de coisas, mas além disso, é preciso que cada integrante tenha dedicação à banda, aos ensaios, à composição e todos os demais aspectos que envolvem um grupo. No caso do Perpetual Dreams, se nós tivéssemos nos dedicado exclusivamente às composições e gravações, certamente poderíamos ter feito mais outros álbuns neste tempo. Optamos por ser uma banda “de estrada”, lançar um disco a cada período de tempo, e depois promovê-lo tocando estas músicas ao vivo.

Foi uma opção consciente, pois gostamos da energia do palco, do encontro com o público. Mas isso exige que disponibilizemos tempo para os ensaios e para os shows, além é claro de tempo para outras atividades da própria banda e atividades particulares dos integrantes. Então, na prática acaba sendo difícil focar o seu trabalho apenas em novas composições. As bandas dos anos 70 lançavam um disco por ano. Acho isso fantástico e gostaria muito poder fazer o mesmo, mas essas bandas tinham muito suporte de gravadoras e empresários. As coisas eram muito diferentes naquela época e não existe lucratividade efetiva no underground. Isso acontece com a maioria das bandas hoje, então todos acabam tendo que se desdobrar em diferentes funções, reduzindo a produtividade de uma banda. Pretendemos fazer novos trabalhos, mas teremos que fazer dentro das nossas condições de tempo.

Rifferama – Como manter uma banda de metal em Santa Catarina por tanto tempo? Qual a tua opinião sobre a cena no Estado? Quais são as bandas que recomendas?

Deny Bonfante – Com muita amizade, respeito, dedicação e raça. As coisas não são fáceis para nenhuma banda do underground, nem em Santa Catarina, e nem nos outros estados. Existe uma série de dificuldades, mas o que importa é ter realmente vontade de fazer música e encontrar pessoas legais. Conseguimos essas grandes vitórias, que são nossos três discos de estúdio, mais um CD/DVD ao vivo. Isso é bem mais do que a média que as bandas costumam conseguir. Eu já conheci muitas bandas, e posso dizer que 50% nem grava um primeiro disco, 90% grava apenas um disco, 95% chega ao segundo, e menos de 5% chegam ao terceiro álbum. É uma realidade muito triste. Infelizmente é assim, mas estamos muito contentes e orgulhosos de termos feito nossos álbuns e nosso DVD.

Sobre a cena, temos dificuldades. As coisas estão ficando muito regionalizadas, mas esta é uma dificuldade que todas as bandas estão passando. Por outro lado, em Santa Catarina temos ótimos eventos como o River Rock, o Natal Metálico, o Brothers of Metal, o Taki’o Festival, o Fortaleza Festival, o Iceberg Festival, e vários outros. Posso garantir que isso dá uma moral acima da média para o nosso estado. E também temos excelentes bandas aqui, dos mais variados estilos, como a Rhestus, o Steel Warrior, o Before Eden, o Symmetrya, a Infektus, o Vlad V, Syntz BC, o Pain of Soul, o Sodamed, o Masterpiece e o Agony Voices! Provavelmente estou esquecendo de várias, mas existem muitas outras com certeza.

Rifferama – Queria saber quais são as tuas influências e se tens alguns riffs preferidos para citar aqui.

Deny Bonfante – As minhas principais influências na guitarra são Yngwie Malmsteen, Jason Becker, Ritchie Blackmore, Jake E. Lee, Vinnie Moore e Richie Kotzen. Curto muito o trabalho deles. Todos esses caras têm muitos riffs muito legais e fica até difícil dizer quais seriam os preferidos, mas vou citar alguns que me vêm na cabeça agora: “Vengeance”, do Malmsteen, “Man on the Silver Mountain”, “Temple of the King”, “Black Masquerade” e “Knocking at Your Back Door” do Blackmore, “Bark at the moon” e “Rock ‘N’ Roll Rebel” do Jake E. Lee, “Go Faster” e “Still” do Kotzen, “Altitudes” e “Air” do Jason Becker, e “Rain” e “The Healing Garden” do Vinnie Moore!  Existem muitos outros guitarristas e riffs que eu curto bastante, daria para escrever um livro.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

3 Comentários

  1. Ah, muito bom. Descobri o Perpetual no começo do ano passado e a banda simplesmente me deixou de boca aberta.
    Ótimas letras, um instrumental forte do estilo que eu gosto. Ótima entrevista e boa sorte para a banda.

    Ah e venham fazer show aqui em Minas, haha, temos grandes bandas aqui e claro que vocês conseguiriam algum suporte para tocar em algum festival da região.

  2. Boa ano novo!
    pra variar uma entrevista bem feita, com uma relevante banda nacional. Parabéns!

    minerva pop

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