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Rifferama Entrevista: Scalene

Foto: Divulgação

Olhe bem para esses caras, pois você está diante da maior revelação do rock brasileiro dos últimos anos. A Scalene, formada em 2009, em Brasília, tem na mão um candidato fortíssimo a melhor disco do ano. Real/Surreal, que será lançado oficialmente no dia 11, no Teatro Nacional, é uma obra-prima, um sopro de esperança em meio a toda essa mediocridade que assola a nossa música. O Rifferama conversou com o guitarrista Tomás Bertoni (o primeiro da esquerda para a direita), que falou sobre a ascensão da banda no cenário nacional.

Rifferama – É impressionante a maturidade do som de vocês em Real/Surreal. Como foi o processo de composição e gravação do disco? Quanto tempo levou? Foi intencional dividir as músicas em dois discos?

Tomás Bertoni – Estamos sempre compondo, então logo após lançarmos o “Cromático”, ano passado, já tínhamos músicas novas sendo feitas. Em agosto (de 2012), decidimos fazer um álbum duplo e estávamos desenvolvendo o conceito dele. Tínhamos composto umas 30 músicas até esse ponto e por volta de setembro que realmente sentamos pra escolher quais entrariam no disco. Começamos a gravar em dezembro. Nunca vamos pro estúdio com tudo 100% pronto. Fazemos algumas letras e arranjos na hora e vamos construindo tudo a cada etapa de todo o processo de gravação, ou seja, não tem como te dizer exatamente quanto tempo demorou. Gravamos aqui em casa mesmo, o que sem dúvida foi uma ótima ideia. Valeu muito a pena.

Rifferama – Como vocês avaliam o som de vocês e a diferença entre “Real” e “Surreal”? Quais são as influências de vocês e que participação elas têm na música da Scalene?

Tomás Bertoni – O “Real” não é tão distante do que já havíamos feito no “Cromático”, apesar de ser muito melhor na minha opinião (risos). No “Surreal” buscamos explorar tudo que tínhamos vontade. É bem mais denso e abstrato. Nossa versatilidade provém em grande parte do nosso gosto eclético. Algumas das nossas influências que sempre presentes são Thrice, Metallica, Beatles e Alexisonfire. Ultimamente temos ouvido bastante Queens of The Stone Age, Radiohead, O’Brother, que passaram a nos influenciar bastante também.

A obra-prima "Real/Surreal". Arte: Petra Pétterfy

A obra-prima “Real/Surreal”.
Arte: Petra Pétterfy

Rifferama – Como está sendo a recepção tanto do público quanto da crítica para esse trabalho? Vocês têm noção que têm na mão um disco de qualidade inédita no Brasil?

Tomás Bertoni – Muito boa! Todas as resenhas foram positivas, muito elogios de colegas de outras bandas e o público tem gostado bastante. É empolgante ver a galera tão empolgada!

Rifferama – Já li gente comparando “Real/Surreal” com o “Infinito”, último disco da Fresno, principalmente pela produção grandiosa. O que vocês acham disso?

Tomás Bertoni – Sinto que o “Infinito” foi em grande parte uma catarse do Lucas após a saída tensa da gravadora e etc. As letras falam de coisas diferentes das nossas, a sonoridade não se assemelha com exceção de uma faixa ou outra (até porque são duas bandas de rock), as intenções e mensagens em geral são diferentes. A produção é grandiosa, mas essencialmente o “Real/Surreal” não tem muito a ver com o “Infinito”. São dois ótimos álbuns de rock e quem gosta dos dois acaba comparando.

Rifferama – Além da venda do disco, vocês liberaram o download gratuito dele. Qual foi a intenção?

Tomás Bertoni – A liberação do download e das vendas foi no mesmo dia. Disponibilizamos o download de graça com a intenção que muitas pessoas baixem e nos ajudem a divulgar. Apesar disso, muita gente compra o CD mesmo assim, digitalmente ou o físico na loja online.

Rifferama – No release da banda diz que vocês já rejeitaram convites de gravadora para manter a “liberdade criativa”. Vocês não têm vontade de ser representados por uma grande gravadora?

Tomás Bertoni – A carreira de muitos artistas é destruída por causa de gravadoras. Hoje em dia ser de gravadora não significa nada. Pode ser bom ou ruim, é apenas mais uma opção a se seguir. Pode ser que um dia recebamos uma proposta boa de gravadora e queiramos assinar, não sei, mas as que recebemos até hoje não nos interessou.

Rifferama – Tens um riff preferido?

Tomás Bertoni – Riff favorito da história impossível dizer, tenho curtido muito os riffs de Curl of the Burl do Mastodon!

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

10 Comentários

  1. Eu conheço os integrantes. Eles surgiram de uma purgação da cena de Brasília. É um novo paradigma que coaduna com o momento político do país. Não é mais um Legião Urbana.

  2. Desde que o Vinícius disse para o Dani que Scalene, no mínimo, merecia ser ouvida com carinho, comecei a dividir com o querido esse som.
    É demais. Dá pra acreditar que esse vocalista (muito fofo por sinal) faz o único grito fundo da garganta que eu curti?! Eu pseudoimito e tudo, muito massa.
    Hoje o Dani disse que estava orgulhoso, eu curtindo Rock.
    Mas essa banda, da pra não curtir?!
    Já tenho umas 5 músicas preferidas e foi tenso escolher qual estaria no player do blog. Quero show em Floripa!

    Beijo, querido.

  3. como músico e alguém que vive "de e para" a música desde sempre, pois nasci entre palcos, gravadoras, viagens e afins do mundo da música, deixo meu depoimento não concordando em parte com o texto/release que foi postado aqui...

    a música e principalmente o rock, não dá cotoveladas e nem joga pá de cal em ninguém. O rock é libertino, é jovem, é autêntico e ousado... o rock talvez seja o único gênero que não precisa ser explicado. O rock não julga...

    Os maiores talentos, os melhores músicos, as mentes mais criativas, quase todas estão neste gênero (há exceções!). Como explicar o talento do Legião Urbana com seus tradicionais 4 acordes?? Porque Dr.Sin/Angra/Sepultura são mais reconhecidos lá fora do que aqui? os questionamentos são muitos...

    Gente como o Dinho Ouro Preto, o Tico Santa Cruz, o pessoal do Jota Quest (que está mais para pop/sertanejo do que para rock) e tantos outros, deveriam ser aplaudidos de pé, pois fazem música de qualidade (não vamos discutir gosto...), quase um oásis musical no meio do deserto infinito de talentos, em especial da última década...

    Penso que as últimas bandas "diferentes" foram o Raimundos, que inovou com o seu som mal tocado, mal cantado, de letras podres, mas totalmente ORIGINAL e O Rappa, que veio com uma proposta pop/reggae, mas depois encontrou o seu caminho com um som autêntico e ousado. Depois disso, nada mais surpreendeu...

    A cena independente no Brasil é fraca! E é fraca porque cada nova banda quer ser "diferente sem ser original"... Temos muitos talentos indo pro esgoto, porque ser músico independente é f%#@!! Pouco espaço para tocar/divulgar e os que encaram, em geral são mal assessorados/orientados.
    Mas isso não era rock?? Sim, pode ser rock tendo direcionamento e organização... para ser rock não precisa ser underground!

    #opinião
    Em tempo: gostei bastante da banda Scalene. Gostei mesmo!!
    Boa sonoridade, vibe rock and roll, arranjos bem executados e vocalista extremamente competente nas linhas adotadas.
    Penso que a banda tem tudo para decolar... só não tentem ser o "novo legião!".

    Boa dica Daniel! Abs!!

    • John Leo:

      Vou aplaudir o Jota Quest pelo quê? Por "Oxigênio"? Por "Tele-fome"? Ou "porque as linhas de baixo são muito fodas, cara... pelo groove!"? Se não fosse pelo comercial da Sky, nem lembraria que eles ainda existem.

      E o Dinho Ouro Preto? Esse é indefensável. O malandrão sem camisa de 50 anos. Vou aplaudir de pé por ele não lançar nada interessante desde o Acústico MTV de 1999. A última coisa relevante dele na mídia foi levar um tombo e ir pro hospital. E isso foi em 2009!

      O Tico Santa Cruz é muito importante para o Rock brasileiro, também. Só lembro dele pelo posicionamento e engajamento político. É tipo um Bono Vox nacional do Facebook. Só falta a música do Detonautas, que até minha irmã de DEZESSETE anos considera ruim. Segundo ela "Detonautas é a vergonha brasileira". Ela prefere Pink Floyd.

      Se isso é um oásis musical, amigo, fuja rápido. Porque ele é uma miragem.

      A cena independente do Brasil é fraca porque as pessoas aplaudem Jota Quest, Dinho Ouro Preto, Tico Santa Cruz e NX Zero de pé.

      Por que não fazer isso com as bandas independentes? Há muitas bandas boas. É só saber procurar. Mas não na grande mídia. A base é o boca a boca. Isso mesmo, A mesma maneira que ainda é utilizada para a recomendação de um bom profissional.

      Em tempo: A música do Scalene é desafiadora. Transcende o rótulo. E não tem nada a ver com Legião Urbana.

    • Prezado Vinícius...

      respeito a tua opinião, mas parece a de um cara de 22 anos que recém descobriu quem é o David Gilmour ou a opinião de um músico que concluiu que tocar o solo de Sweet Child O`Mine não é tão complicado quanto parecia no dia da primeira aula de guitarra...

      O Jota Quest não está na lista das minhas 2.000 bandas preferidas, tampouco o Detonautas ou o Dinho Ouro Preto e o seu Capital Inicial, mas desprezar que eles tem uma montanha já escalada é ignorar o óbvio. E não estou falando dos milhares de discos, DVDs ou da puta grana que ganham e já ganharam, mas estou falando sobre música... de começar lá em baixo, subir degraus, ganhar espaço fazendo música... Inovando no seu tempo!
      Outra: comparação infeliz essa do Tico com o Bono Vox hein?? O Tico e o Detonautas eu não coloco no patamar das bandas que mexeram consideravelmente com o som das suas épocas, mas há que se louvar uma banda que se arrisque a tocar rock em plena era de MC Catra e Naldo (errrrgh!).

      Com relação a cena independente... penso que ela é fraca porque a maioria (não a totalidade) das bandas nela incluídas, pensam pequeno demais.
      Para muitos ser "independente" é tocar em pulgueiros, com som ruim, bebendo vodka pra no final do show gritar "rock and rooooll".
      Para outros ser independente é fazer um puta web site, um baita clipe e lançar tudo na internet, com ares de "foda-se o mainstream", quando na verdade todos eles dariam um braço para aparecer no Faustão... o que eu acho de fato é que este papo de "sou underground" só serve pra quem não chegou e não acredita que pode chegar lá no patamar dessas bandas que as meninas e meninos de DEZESSETE juram odiar, mas que vão aos shows e baixam as músicas nos seus IPods.

      Também curti bastante o som da Scalene. Espero vê-los no Domingão!! kkk
      Relax parceiro... só tenho outra visão!

    • John Leo

      Cara, respeito sua visão. Só tenho outra diferente. Quem bom que vivemos num país democrático! Abraços

    • John Leo:

      A banda recusou oferta de Ricky Bonadio e convite de tocar com playback no Ratinho. Se informe antes de alegar coisas como "todos eles dariam um braço para aparecer no Faustão…"

      E mesmo assim, acho que eles querem e chegarão sim no mainstream. Mas não é de forma "fácil" que o farão, e sim com música de qualidade. Fazendo arte!

  4. essa banda Scalene é muito boa quem não conhece ainda, vai em show, olha o site da banda, ouve as músicas por que eu tenho certeza que vai gostar demais.

  5. Muito boa a banda, difícil achar um rock nacional de qualidade assim, show!

  6. Isso não é uma resenha. É um protesto.

    Tudo é causa e consequência. Os dias de hoje são como são devido aos dias de ontem. E claro, o Rock brasileiro que está evidente para as massas é apenas um resquício da bosta mole que respinga em todo mundo há anos.

    Fato. O Brasil está dominado por referências horrendas (e eu não estou atacando outros gêneros musicais; falo de rock, mesmo). O que pode surpreender?

    “Real/Surreal”, da banda independente Scalene, de Brasília. Simplesmente, esse álbum é o atestado de óbito do mainstream nacional. E mais uma comprovação da relevância dos artistas independentes.

    O álbum é incrível (pode ser baixado de graça no site da banda www.bandascalene.com.br) e tem tudo o que um disco de rock precisa: talento, paixão e vontade. Quando esses fatores se somam, não há o que possa ser dito ou feito.

    Conceitual, “Real/Surreal” merece o título que ostenta. Traz uma banda que faz músicas assumindo riscos, sem o compromisso de agradar. É um álbum sincero; dinâmico; cuidadosamente pensado; que trabalha a parte técnica sem esquecer a parte emocional (cérebro + coração).

    E mais: Não economiza nas guitarras. Não joga a voz na cara da música (como qualquer artista pop nacional faria). Sendo artístico e comercial, desafia o ouvinte.

    Infelizmente, no mundo da música independente, muitos lançamentos passam batido. Ninguém ouve falar. Não existe evidência, como a história da grande árvore que fez um estrondo enorme no meio da floresta, mas ninguém soube, porque ninguém estava lá.

    Um disco como esse NÃO pode passar despercebido. Ele é uma cotovelada no Dinho Ouro Preto. A pá de cal no Jota Quest. Um bê-a-bá pro Tico Santa Cruz. Tudo o que o NX Zero poderia ter sido e não foi. E o Chorão tinha que ressuscitar só pra ler as letras.

    Claro, não dá pra instalar um Inmetro no corpo de cada vivente que perambula por aí, mas se as pessoas tivessem mais senso crítico, com certeza ouviríamos menos porcaria.

    Quem sou eu pra falar isso? Ora, um amante do estilo. Fundamento meu conceito com o coração. Não recebo nada por isso. Pra mim, música não é conversa de comadres.
    Posso até soar estúpido, mas sou apaixonado demais para ser modelado, passivo como uma vaca da Índia. Eu ponho os pingos nos “ii”s, pois foi a polidez que deixou o Rock nacional um lixo. “Oh, seu disco não me apeteceu como deveria. Mais chá”?

    É dessa omissão que o mundo do Rock brasileiro não precisa. Ao menos, é o meu entendimento. E quem se posiciona vira alvo. Azar. “Eu me estilhaço. Arco com o que vier. Trago, ao meu lado, dardos pra quem quiser”.

    Chega de tapinhas nas costas.
    Os tempos estão mudando.

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