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Teteu Caetano: ode à Itapema com som regional contemporâneo

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O videoclipe e a canção “Itapema, terra boa”, primeiro single do trabalho solo de Teteu Caetano (ex-Coletivo Tapera), tem tantas camadas que não seria possível encerrar o reflexão que a música sugere. Gravada em Itajaí por Oliver Deziderio (piano), coprodutor do registro ao lado do artista (voz e violão), a faixa traz as participações de Marcelo Orates (flauta), André Sarten (baixo), Vando Modanezi (bateria) e Elton Mendes (percussão). O audiovisual, que tem direção de Lenon Cesar, traz Teteu Caetano acompanhado do mestre cantador Silvio Valmor Vieira, e a Maricota (Mariola) do Boi-de-Mamão Raiz da Terra, grupo folclórico centenário, girando pela cidade. Além do símbolo da cultura popular, o cantor e compositor utiliza uma máscara feita pela artesã Olga Ribeiro em referência à tradição do pau-de-fitas registrada no Litoral Norte Catarinense.

“Itapema, terra boa” é uma obra afetiva, mas também política. “Finalmente consegui colocar no mundo uma concepção de videoclipe que eu tinha há anos, de explorar as excentricidades do ser folclórico em contraposição ao andamento do progresso da cidade, cada vez menos excêntrico porque menos folclórico, quadrado. E a Maricota, antes tão imponente, porque tão distinta sua altura, já não tão alta em relação aos prédios”, explicou. A música é fruto de uma revolta que Teteu imagina ter alimentado através da sua relação com o rock, mas, apesar desse sentimento amargo, o single não traz essa carga. Pelo contrário. “Itapema, terra boa”, que foi inspirada, também, no envolvimento do artista com o documentário “A música e os saberes dos mestres de Cultura Popular de Itapema” (assista abaixo), do qual foi responsável pela pesquisa, roteiro e composição, traz um som regional, mas contemporâneo. Em contato com o Rifferama, Teteu Caetano falou sobre o seu trabalho de pesquisa.

— Desde que comecei a estudar a cultura popular, que entendo ser a pura arte brasileira, tenho procurado me localizar mais e mergulhei no folclore e na potência revolucionária que ele carrega. Eu exacerbei mesmo essa vontade de dar uma cara contemporânea para os símbolos culturais populares locais. O Brasil é tão diverso que ele acaba ficando bem coeso quando a gente analisa a cultura popular. Eu tenho curtido pensar que apesar de a música falar de Itapema, ela pode conversar com as pessoas que nunca ouviram falar nesse lugar. É uma coisa urgente pra mim, mesmo sendo atento a tantas outras pautas, essa pauta (cultura popular) me machuca. Acho que trago isso do rock, não sei, mas é uma coisa minha bem enraizada, tenho essa revolta criativa dentro de mim. Depois de lançar a música eu vejo que isso não sai de forma agressiva. Esse primeiro material vem pra demarcar um terreno, falar que continuo sendo o mesmo, mas vou ser um pouco mais radical na contemporaneidade no momento, buscando uma mistura que tente contemplar essas referências, que podem ser de Itapema, minha cidade, minha rua, meu bairro, mas também locais brasileiros.


Foto: Lenon Cesar

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

2 Comentários

  1. Lendo a matéria, deparo-me com um artista, compositor, músico e pesquisador (sim, pesquisador) que por certo há de ter alguma formação acadêmica (ou não, pois cultura necessariamente não se adquire somente em banco de escola). Mas, acima de tudo, percebo uma identidade autêntica de quem quer mostrar à comunidade em que vive e à quem possa alcançar este trabalho, os valores ancestrais de uma tradição que está caindo no esquecimento diante do chamado "progresso" ( ou "pogresso", como se referia à palavra o inesquecível Adoniran Barbosa). Parabéns, Teteu Caetano por seu talento e persistência em resgatar a cultura popular ancestral do meio em que vivemos...

    • Obrigado pelas palavras, meu amigo Betinho! O Brasil nos impulsiona à todos, artistas críticos, na busca pela manutenção, interpretação e continuidade da identidade cultural da classe diante de um mundo tão dissipado.

      Ao Rifferama, todo meu carinho. Acompanho esse trabalho há muitos anos e só vejo a credibilidade crescer conforme o tempo passa; um medio midiático desse calibre é um aliado primordial para o produtor independente daqui!

      Abraços do teteu

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