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Os melhores álbuns lançados em Santa Catarina em 2023

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Ana Paula da Silva (Joinville) — “Remanso”

Ana Paula da Silva precisa apenas abrir a boca para encantar. Em “Remanso”, o sétimo álbum de uma prestigiosa carreira, a cantora e compositora de Joinville se apresenta em um formato diferente. Com exceção das faixas “Lavadeira” e “Descabida”, nas quais é acompanhada pela filha Clara na voz e na percussão, Ana nos brinda com o seu violão virtuoso e um repertório escolhido a dedo, com 12 faixas, incluindo parcerias com Vê Domingos, Gregory Haertel, Mauro Aguiar, e Natália Pereira, além de versões para músicas de outros autores como o nosso Carlinhos Niehues, Edu Lobo, João Bosco, entre outros. O encerramento com “Orun Ayê”, escrita com a igualmente estelar Tatiana Cobbett, é um presente.


Anna Zechini (Lages) — “Cassini”

Nos últimos cinco anos, Anna Zechini viveu na Colômbia, onde fez o seu mestrado em História da Arte. A experiência foi transformadora não só em nível pessoal para a artista, mas também repaginou a sua música, que ganhou contornos urbanos e se desprendeu do gênero folk. Em “Cassini”, seu primeiro álbum, Anna apresenta nove canções nessa nova estética, que pode ser chamada de pop latino alternativo: tem batida de funk, trap, dembow (ritmo caribenho próximo do reggaeton) e até pop/rock, mas sem esquecer das suas raízes, da sonoridade que a constituiu — “Estrellas” foi gravada em Lages, sua terra natal, e traz a participação de Cristiano Quevedo e essa mistura do regional, do folk, com o moderno, com a letra cantada em português e espanhol, uma tônica desse trabalho.


Disaster Cities (Chapecó) — “Erasing Karma”

“The Best Way You Used to Know”, primeiro single de “Erasing Karma”, saiu em outubro de 2019, inaugurando uma expectativa que levou mais de três anos para se concretizar. Nesse período, a Disaster Cities, banda de Chapecó radicada em São Paulo, trocou de formação e trouxe o produtor Júlio Miotto para assumir o baixo — Rafael Panegalli ficou apenas com os vocais, dividindo a função com Matheus Andrighi (guitarra). O que mudou também foi a sonoridade do grupo, que também conta com Daniel de Araújo Brito na bateria. Cada vez mais longe do stoner do primeiro disco, “LOWA” (2018), a Disaster Cities segue com uma estética moderna, mas abriu o leque de estilos. Os destaques ficam para as duas músicas em português, “Quando a cidade te engolir” e o samba dark “Lamento”. A espera valeu a pena.


Entidathe (Blumenau) — “Oráculo”

“Deus abençoe o seu espírito e lhe dê um intelecto abstrato e incompreensível”. O trecho de “Insensível”, sexta faixa do álbum “Oráculo”, traz um desejo da mãe de William José, o Entidathe, que acabou determinando a sua trajetória como artista. O rapper, beatmaker e ilustrador tem uma forma de rimar, escrever e ver a vida que são bem próprias. O nome Entidathe representa a maneira que o MC concebe a arte, um processo espiritual, mas também mediúnico. As letras de “Oráculo”, apesar de profundas, são simples, assim como o instrumental. Em cerca de 18 minutos, Entidathe fala (nesse flow mesmo) sobre saúde mental, suicídio e autoconhecimento, temas presentes em quase todas as suas obras. Um trabalho único.


Gabriel Vieira (Joinville) — “Gabriel Vieira Quarteto”

Gabriel Vieira é um artista versátil. Com grande bagagem na música instrumental brasileira e no jazz, o violinista, arranjador, compositor e produtor já gravou disco com banda de samba rock (Coletivo das Flores) e teve um duo erudito com Pavel Kazarian, sem esquecer do grande Trama Trio, com Rafael Calegari no baixo e Pedro Loch no violão. No seu primeiro álbum solo, Vieira está acompanhando por uma turma da pesada, com Michael Pipoquinha (baixo), Eduardo Farias (piano) e Sergio Machado (bateria) formando o quarteto. O trabalho, que traz oito temas escritos pelo violinista, ainda conta com as participações dos guitarristas Marco Gonçalves e Alegre Corrêa, que também assina “Gêmeos”. Um show de improvisação e apuro técnico.


Giana Cervi e Vê Domingos (Itajaí) — “Da fonte até o mar”

Giana Cervi e Vê Domingos se conheceram na época em que a cantora gravou algumas músicas do compositor para o seu disco “Cirandinha”, lançado em 2010. Essa relação seguiu no próximo trabalho da artista, “Casa” (2015), e se estreitou em 2017, quando Bruno Kohl chamou os dois para um show em Itajaí. A parceria deu tão certo que resultou no projeto O Mimo: até a pandemia, o trio produziu um álbum, ganhou prêmios e fez mais de 50 shows. Ciclo concluído, Giana e Vê continuaram escrevendo juntos. “Da fonte até o mar” é um registro importante para ambos. No caso de Giana Cervi, é o primeiro lançamento em que assina todas as faixas. A forma que Vê Domingos se relaciona com esse álbum é diferente. Se por um lado, Giana aprendeu a escrever com ele, o compositor viu o seu lado cantor se potencializar ao trabalhar com a parceira. Um disco com cheiro de mato e belas melodias.


Iara Ferreira (Florianópolis) — “VERDEAMARELA”

Iara Ferreira começou a se apresentar na noite em Florianópolis em 2009, onde cursou Ciências Sociais na UFSC. Quis o destino que o seu primeiro trabalho autoral solo, o EP “Iara Ferreira Trio”, com Tom Cykman (guitarra) e Ney Souza (violão 7 cordas), fosse lançado no seu retorno à Ilha, em 2022, após rodar o Brasil e fazer parcerias como letrista com cerca de 80 artistas, formando um repertório que beira as 300 canções. A volta para Floripa trouxe bons ventos para a carreira de Iara, que está vivendo uma fase de bastante atividade: além do álbum “Caravana do amanhã”, ao lado da violonista francesa Elodie Bouny, a compositora apresentou o seu disco de estreia, “VERDEAMARELA”, que traz Cykman e Souza nas cordas e Carlinhos Ribeiro (Uniclãs, Música Orgânica e Sarau Afro-açoriano) na percussão. Um repertório bem brasileiro, que privilegia o vozeirão singular da compositora e arranca sorrisos em músicas como “Mais uma hora”.


Joana Castanheira (Florianópolis) — “Desapreço”

“Desapreço”, terceiro álbum de estúdio de Joana Castanheira, é um exagero. De cores, de drama e, sobretudo, de talento. Desde 2016, quando foi apresentada ao Brasil pelo programa The Voice, a cantora e compositora vem formando a sua identidade musical com trabalhos de alto nível — além dos discos, Joana já lançou um registro ao vivo, um EP visual e diversos singles (solo ou em participações). E nesse caminho, a artista já colocou a sua voz em canções de variados estilos: pop, folk, música brasileira, pagode e até rap. Mas nenhum material chegou no resultado de “Desapreço”. Musicalmente, o álbum vem carregado de influências latinas, incluindo o bolero cantado em espanhol “Átame”, um prato cheio para a cantora demonstrar toda a sua extensão vocal e intepretação apaixonada. Acompanhada por músicos incríveis, Joana entregou o seu trabalho mais maduro até o momento, com belos arranjos e uma produção impecável.


Latinha Tropical (Brusque) — “Caçamba de entulho”

É inevitável não pensar nos Skrotes ouvindo “Caçamba de entulho”, primeiro álbum do Latinha Tropical. Pelo formato, primeiramente, de piano, contrabaixo acústico e bateria, mas também pela energia caótica que as oito faixas do disco emanam. A irreverência de não se levar a sério é a principal qualidade desse trabalho — os títulos dos temas são um destaque à parte. Existe espaço para sessões instrumentais exuberantes, como em “Macarrão camarada” e “Sapo a jato”, momentos reflexivos, como a viagem guiada por sintetizadores “Estragos mentais”, e até interlúdios sem sentido, a exemplo do diálogo hilário em “Papo magrelo”. Quando adiciona outros elementos a sua sonoridade original, com as participações de Felipe Locks (guitarra) e Fabio de Padua (flauta e violino), o Latinha Tropical cresce e mostra que não está para brincadeira.


Não é mais inverno (Laguna) — “Caos/cosmos”

A Não é mais inverno, de Laguna, tem uma trajetória cheia de curvas. Matheus Pires Rodrigues (voz e guitarra) e Jean Neves Barcelos (baixo) foram incorporando e perdendo parceiros ao longo desses cinco anos de banda e, no meio dessa caminhada, lançaram dois EPs, três singles e o álbum “Caos/Cosmos”. Fazer música nunca foi um problema para o grupo, que agora é um quarteto com as entradas de Lucas Maximiliano (guitarra) e João Felipe Sydorak (bateria). “Caos/Cosmos”, composto em grande parte pelo vocalista, é um trabalho bem pessoal e apresenta a transição de um momento ruim vivido pelo artista para a sua resolução. A sonoridade mais pesada, abandonando a estética oitentista, foi algo definido desde o começo: Matheus Pires Rodrigues queria que o instrumental fosse condizente com as letras. Rock triste do bom.


Somaa (Joinville) — “<Antena>”

Desde 2011, o Somaa vem construindo uma trajetória sólida baseada em uma receita que combina três ingredientes: boas melodias, refrãos grudentos e letras inteligentes. Com uma discografia de respeito, que inclui dois EPs, um DVD ao vivo, um single com duas músicas e o disco “O mundo quer te enganar”, de 2018, a banda colocou a cereja do bolo a sua prateleira. O álbum “<Antena>” repete a parceria com o produtor Gabriel Zander e apresenta o grupo no seu estágio mais desenvolvido. Com dez canções, o trio se mantém fiel ao seu rock de referências noventistas, mas também aponta para outras direções. A banda apostou na continuidade da parceria com Zander para reafirmar a sonoridade da banda e o resultado não poderia ser melhor. O Somaa gravou o seu trabalho mais significativo até aqui. Além da produção refinada, a participação de nomes importantes do underground nacional faz de “<Antena>” um trabalho ainda mais especial.


UmQuarto (Florianópolis) — “O meio do caminho”

O UmQuarto gostou tanto de se isolar para gravar o primeiro álbum, “Apenas”, um dos melhores trabalhos lançados em 2021, segundo o Rifferama, que repetiu a dose para o registro seguinte, “O meio do caminho”. O repertório que foi captado em um sítio de Angelina, no entanto, se transformou em outra coisa. Após a saída do guitarrista e do baterista (que teve as partes mantidas no material), Mayer Soares (vocais e baixo) reformulou a banda com as entradas de Rafael Salib (guitarra), Bernardo Flesch (teclados) e Rafa Nogueira (bateria), e fez questão de que os os novos integrantes participassem do processo: agora todos contribuem cantando, inclusive fazendo a voz principal. A adição de faixas de guitarras, teclados e vozes trouxe peso e ainda mais psicodelia e profundidade para o rock com alma blueseira praticado pelo grupo.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

Um comentário

  1. Belísima matéria, Daniel! Fico aqui imaginando o teu trabalho para escoher apenas 12 álbuns. Soube da publicação pela querida e talentosa Ana Paula da Silva, pois sou jornalista também: publico há 10 anos o Barulho d'água Música, cujo endereço estará abaixo. Até 15/1 estarei em recesso com as atividades profissionais, mas voltando à "vaca fria" tentarei ouvir os álbuns e me programar para replicar a matéria no Barulho d'água Música, embora possa demorar algumas semanas, pois estarei bem atarefado. Meus parabéns e deixo para você um link do que já tenho publicado sobre a Ana Paula e a música catarinense ou conteúdos a ela relacionados! Bom Ano Novo e sucesso a você e ao Rifferama!

    https://barulhodeagua.com/tag/ana-paula-da-silva/
    https://barulhodeagua.com/tag/santa-catarina/

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