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Os melhores EPs lançados em Santa Catarina em 2023

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Alexandre Lunardelli (Florianópolis) — “Sonhos”

O compositor, arranjador e pianista Alexandre Lunardelli, de Florianópolis, transita principalmente pelo circuito erudito e da música instrumental, mas já fez bastante coisa nesses mais de 20 anos de trajetória. Além de criar trilhas sonoras por encomenda, Lunardelli também atua como produtor e é requisitado para gravações em estúdio, que vão do rock progressivo, como o álbum “Stop Momentum”(2017), da Cobalt Blue, ao jazz de “Aliança oculta” (2023), obra escrita por Misael Pacheco. Foi neste ano que o pianista fez a sua estreia de fato como artista solo, com o projeto “Sonhos”, que traz cinco peças autorais. O repertório do EP é minimalista, nostálgico, melancólico, com uma pegada de trilha sonora (objeto de estudo do mestrado na Berklee, na Espanha) e foco nas melodias. São temas simples, mas dotados de rara sensibilidade.


AMARINA (Florianópolis) — “Coisas de você”

A cantora e compositora AMARINA (Marina Pellizza), de Chapecó, construiu uma base de fãs gravando releituras para canções de Duda Beat, Vanessa da Mata, Xamã, entre outros, para o Nossa Toca, que é canal do Youtube, selo e oferece cursos de produção musical. Radicada em Florianópolis desde 2020, a catarinense lançou o seu primeiro EP, “Coisas de você”. Produzido por Vitor Kley, que pela primeira vez assina o trabalho de outro artista, ao lado de Giba Moojen, o material traz quatro sons, sendo que duas faixas já tinham sido apresentadas como single: “Girassol” e a canção que batiza o registro. As outras composições, “Virginiana” e “Detalhes” conversam com o repertório e foram escritas nos últimos anos de mudanças e relacionamentos que ajudaram a formar a artista que AMARINA demonstra ser em “Coisas de você”. O EP se destaca pelas letras pessoais, mas também pela sonoridade folk bem trabalhada.


Corey Kilgannon & Alexandre Lunardelli (Florianópolis) — “Magic Island”

“Magic Island”, parceria do cantor e compositor norte-americano Corey Kilgannon com o pianista Alexandre Lunardelli, seria especial somente pelas músicas contidas nesse registro, mas ele soa ainda melhor quando sabemos as razões para esse trabalho existir. Os artistas se conheceram em Nashville (EUA), onde o manezinho atuou como arranjador entre 2015 e 2016. A amizade que começou ali se estendeu para o campo profissional e Lunardelli escreveu os arranjos de cordas para muitos dos lançamentos de Kilgannon. O catarinense voltou para casa no ano seguinte e recebeu a visita do amigo, que passou um mês na Ilha e compôs quase todo o repertório. “Magic Island” mostra uma Florianópolis nas percepções de um estrangeiro que pisa aqui pela primeira vez. As letras abordam temas relativos à Ilha da Magia e, musicalmente, o EP traz uma mistura da identidade do cantor, que é conhecido no gênero folk, com ritmos brasileiros. Uma preciosidade.


Daniel Arena (Florianópolis) — “Io”

Daniel Arena começou a estudar astronomia durante a pandemia e teve uma ideia ambiciosa: gravar quatro EPs inspirados nas maiores luas de Júpiter que foram descobertas pelo italiano Galileu Galilei. O projeto começou com “Callisto”, em 2021. No ano seguinte, o artista de Florianópolis divulgou dois singles de “Io”, incluindo “She Leaves”, que teve o videoclipe eleito entre os melhores de 2022 segundo o Rifferama. O material foi liberado com mais duas canções inéditas. As quatro faixas de “Io”, assim como as luas de Júpiter, têm suas particularidades. Em comum, todo registro traz uma faixa instrumental e um convidado, o feat dessa vez foi com o sul-africano Hugo Veldsman (em “Burning River”). Outro ponto que pode ser destacado na obra recente de Arena é a sua evolução como compositor, aplicando outros contornos ao folk de alto nível que sempre fez.


Mang (Florianópolis) — “De frente pro mar, de costas pra serra”

A Mang, como o nome sugere, tem as suas raízes fincadas na música regional. Catarinense, do Sul e também brasileira. O primeiro EP, “De frente pro mar, de costas pra serra”, é uma carta de apresentação das influências dos integrantes. O fio condutor é o rock, mas a sonoridade que o quarteto registrou caminha por diversos ritmos como o baião, o samba, o folk (de folclore) gaúcho e ilhéu — e a emoção quando alguém cita Grupo Engenho como referência, como fica? Na parte lírica, o repertório também se conecta com o local, trazendo reflexões sobre o entorno social e geográfico da banda, que é de Florianópolis. A pluralidade se dá, para além do gosto eclético dos músicos, também por uma divisão na composição: o EP tem duas canções escritas pelo vocalista e guitarrista Lucas Thys e outra pelo baterista Gustavo Grillo, que também cantou na faixa “Borrão”, ampliando as opções da banda. Estreia mais do que promissora.


Mazãza (Florianópolis) — “Gaviota”

Classificar o som instrumental que a Mazãza (melhor nome) faz é uma tarefa árdua. É post-rock, mas não somente, hipnótico, contemplativo e por vezes frenético. A performance de Gustavo Ferrari (guitarra), Matheus Simas (baixo) e Hiago dos Santos (bateria) é centrada mais em construir paisagens sonoras do que apenas demonstrar técnica — e esse é o grande acerto de “Gaviota”. A banda começou com o pé direito nesse primeiro EP, acompanhada por uma equipe de peso. O material, que foi gravado pelos irmãos Samuel e Mauro Fontoura (Muñoz) no Infrasound Records (a bateria foi captada no AeroTullio Sound Distillery) e os arranjos de sopro foram executados por Gabriel Barbalho. A mixagem e masterização ficou a cargo de Braz Torres Neme, conhecido pelos trabalhos com nomes como Carne Doce, Rodrigo Alarcon, e Carolino e Clara Poema aqui no estado. Surpresa do ano.


Nouvella (Florianópolis) — “Love Cirkus”

“Love Cirkus”, segundo EP da Nouvella, apresenta outra banda para o público. Além de ser o primeiro trabalho com a nova formação, que conta com Yasmin Zoran (voz), Gabriel Viegas (guitarra), Jenks (baixo) e Luna (bateria), o registro também promoveu a estreia do grupo, formado em 2019, em Florianópolis, no campo do audiovisual — o videoclipe de “Good Inside”, que tem direção de Dan Pellicciari, Fellipe Fragal e Viegas, foi escolhido para começar a divulgação do sucessor do ótimo “The Sun Will Rise Again”, de 2021. Com seis canções, “Love Cirkus” foi captado em grande parte em Petrópolis (RJ), no ForestLAB Studio, de Lisciel Franco, produtor conhecido por trabalhar com equipamentos de áudio analógicos. Novo EP, nova identidade visual, primeiro clipe… em meio a tantas novidades, o que não mudou para a Nouvella foi a proposta de combinar o rock clássico com a soul music e o blues, trazendo letras em inglês e português, com uma sonoridade vibrante e vocais inebriantes.


O Maior Clichê do Mundo (Criciúma) — “FRAGMENTADO”

Desde o primeiro EP, “Florescer”, divulgado em 2017, O Maior Clichê do Mundo, na época um duo formado por Lucas (bateria e voz) e Guilherme Manenti (guitarra e voz) em Criciúma, vem empilhando trabalhos de qualidade, sempre atento às tendências do mercado da música independente. A cada novo lançamento os irmãos vêm trazendo novos elementos e pessoas para atualizar a sua sonoridade, que é baseada no indie rock. “Fragmentado” traz uma estética mais de banda, com baixo (que agora é comandado por Filipy Coelho), solo de guitarra com slide, e também se aproxima do eletrônico, com beats e sintetizadores, que ficaram a cargo de Victor Pradella, produtor do projeto, e de Elieser de Jesus — a mixagem e masterização do material é de Gabriel Reinert, do Silver Tape Studio.


Padendê (Florianópolis) — “Terceiras estórias”

O Padendê foi formado no contexto da pandemia, após Emilia Carmona e Leo Arquimedes se conhecerem em um sarau em Florianópolis, em 2019. A primeira versão do grupo que começou “Terceiras estórias” contava apenas com os dois, que recorreram a Mateus Romero para somar na empreitada. Na época, o produtor estava trabalhando em “LaMachi”, primeiro lançamento solo da cantora, que saiu em 2021. A banda precisava de um percussionista e Diogo Costa, companheiro de Emilia na Los Desterros, foi a escolha óbvia. Com essa formação, mais as participações de Eva Figueiredo no clarinente e Rafael Camorlinga no saxofone, o Padendê registrou as três músicas do EP. Além da produção musical, Romero fez os arranjos em parceria com o grupo, programação, gravou contrabaixo e percussão. As referências do EP são o samba e os artistas paulistas contemporâneos como Metá Metá, Kiko Dinucci e Juçara Marçal, dialogando com a bagagem dos integrantes.


Posh (Brusque) — “Madness”

Para 2022, a Posh, de Brusque, tinha o objetivo de lançar o primeiro álbum, “Methodd & Madness”. Mas as músicas que Vítor Zen (voz e guitarra), Gustavo Visconti (baixo) e Gustavo Gamba (bateria) estavam produzindo eram tão diferentes umas das outras que a banda decidiu dividir o material em dois EPs, “Methodd” e “Madness”. A primeira parte apresenta um som mais progressivo, com bastante groove. No meio desse processo foram surgindo composições instrumentais, feitas no Guitar Pro (entendedores entenderão), que não tinham muito a ver com o restante do repertório. Surgiu aí “?”, um terceiro EP. A música que a Posh faz é difícil de classificar. Também é difícil imaginar onde que o som do grupo pode chegar. “Madness” é um meio termo entre as duas peças anteriores. Pesado, viajante, mas com um toque do rock alternativo dos anos 90, como na épica “Fresh Side of the Pillow Book 2: The Arrival”, que resume bem a doideira que é esse EP.


Quarto Cômodo & Nnay Beats (Blumenau/Gaspar) — “Quintais, ruas e costumes”

“Quintais, ruas e costumes”, colaboração entre o grupo Quarto Cômodo, de Blumenau, e o produtor Nnay Beats, de Gaspar, chegou como um dos principais trabalhos de rap de 2023. O EP, que é mais um lançamento do catálogo do selo Verve Ent., traz sete faixas, incluindo uma introdução com scratches do DJ Leokdio, e participações do conterrâneo da banca Segmento em “047” e da MC paulista Killa Bi em “Novo quintal”. A parceria do grupo com Nnay Beats começou no fim de 2021, após o evento de lançamento da primeira mixtape do Quarto Cômodo. O produtor tinha acabado de se mudar para Blumenau e todos se juntaram no estúdio para uma sessão que resultou em “Novo quintal”, faixa que encerra o repertório. O entrosamento deu tão certo que os encontros passaram a ser semanais, sempre trocando ideias, batidas e referências. Esse processo levou aproximadamente um ano até “Quintais, ruas e costumes” tomar forma. Um clássico instantâneo do rap catarinense.


Reis do Nada & Flora Cruz (Florianópolis) — “Na beira do caos”

Os Reis do Nada não param. Em 2023, Laurinho Linhares (voz e guitarra) e Ph Collaço (voz e baixo) lançaram um álbum/DVD ao vivo gravado no Franz Cabaret com banda completa, quatro singles, incluindo feats com Re.Significa e Nunes, além do EP “Na beira do caos”, a cereja do bolo de um ano de muito trabalho. O destaque do material, composto em parceria com a cantora Flora Cruz e produzido pelo próprio duo, é a variedade do repertório: cada uma das três faixas tem uma característica diferente. “Manhã de sol” é um pop dançante e groovado, enquanto “Tão bem” desacelera no ritmo do R&B e traz uma performance inspirada de Flora. O EP encerra com a balada acústica “O tempo corre, mas freia quando dói”. Com participações de Lucas Martinez (guitarra), João Peters (baixo), Thomás Pessoa (violão) e Bruno Jacomel (violino), “Na beira do caos” exala bom gosto e atesta o talento dos Reis do Nada para fazer música pop.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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