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Rifferama Entrevista: Denis Warren

Com dois discos solo lançados, o guitarrista Denis Warren, que mora em Londres desde 2010, falou ao Rifferama sobre os seus projetos futuros, o contato com lendas das seis cordas como Steve Vai, Al Di Meola, Paul Gilbert, entre outros, o começo da carreira, ainda nos anos 1990 com a Demian, além de, é claro, os seus riffs preferidos.

Rifferama – Como foi a repercussão do “Deep” e qual a diferença entre ele e o “High”?

Denis Warren – Em 2010 decidi que viria morar em Londres para tentar um caminho profissional diferente do que tinha em Florianópolis. Apesar de ter feito algumas gravações e composto várias músicas instrumentais, eu não tinha um trabalho solo lançado. O “DEEP” surgiu dessa necessidade de levar na bagagem um portfólio, algo que representasse um pouco da minha vivência e estilo musical.

O álbum foi composto em algumas semanas, ensaiado, gravado, mixado e prensado para que eu pudesse aparecer como artista solo. Não era o álbum de fusion que sempre quis escrever, mas também não foi um álbum de rock puro. Reconheço que algumas passagens são mais difíceis de serem digeridas.

Foi através dessas músicas que consegui projeção e respostas bacanas de pessoas do meio, oportunidades de trabalho, entre outras coisas. No álbum “HIGH” tive uma abordagem completamente diferente, tive espaço e tempo para compor e tomei um caminho diferente, que foi abandonar um pouco o aspecto técnico e me focar na expressão. Cada música foi criada na sequência do álbum. Fui projetando o resultado final e trabalhando com isso em consideração. Decidi tomar uma conotação mais melódica e equilibrar as partes mais quebradas com trechos mais simples. A resposta a esse álbum novo tem sido muito forte.

Rifferama – Depois de tantos anos tocando e sendo referência por aqui como guitarrista,  dá para dizer que um disco solo era o que te faltava?

Denis Warren – Um álbum solo sempre foi um objetivo e acho que foi a necessidade que me motivou a tornar esse sonho palpável. Desde que comecei a tocar guitarra, há 25 anos, sempre pensei no dia em que lançaria um trabalho solo, e essa ideia sempre pareceu tão distante. Se você pensar em todo o processo parece quase penoso, ter de compor as músicas, ensaiar, gravar, mixar, cuidar da burocracia do lançamento, fazer a divulgação. Mas foi dando um passo de cada vez que consegui concretizar o projeto.

Rifferama – O que esses dois anos em Londres contribuíram sobre a tua visão sobre música e no teu desenvolvimento como guitarrista?

Denis Warren – Vim pra cá com a idéia de que encontraria milhares de guitarristas tocando com técnica e maturidade. O que vi no cenário foi muito diferente, guitarristas com limitações técnicas, mas uma musicalidade excepcional. Um cuidado quase surreal na busca de um timbre matador, de uma interpretação singular, boa performance e um visual para acompanhar. É o conceito do pacote completo, de poder entregar tudo que faz parte de um verdadeiro artista. Isso me fez pensar e repensar certos aspectos da minha carreira e tentar criar e direcionar o meu trabalho para outras pessoas em oposto a mim mesmo.

Andrey da Silva, Denis Warren e Marcos Feminella, trio que gravou DEEP (2010) e HIGH (2013). Foto: Wil Koetzler

Andrey da Silva (baixo), Denis Warren e Marcos Feminella (bateria)
Foto: Wil Koetzler

Rifferama – Poder ver e ter contato com grandes músicos também deve ser gratificante. Quem é o cara na guitarra hoje, a tua principal influência?

Denis Warren – Sim, aqui tem show bom todos os dias, é passagem obrigatória para qualquer músico em turnê. De qualquer maneira os shows não costumam ser muito grandes, eles preferem dividir em quatro ou cinco dias do que encher demais uma única apresentação. E é fácil conversar com os músicos, ter um diálogo direto.

Entre os guitarristas já assisti e conversei com o Scott Henderson, Guthrie Govan, Steve Vai, Al Di Meola, Paul Gilbert, Richie Kotzen, Paco de Lucia, Lee Ritenour, entre outros. Também fui nos shows do Iron Maiden, Black Label Society, Billy Cobham, Dream Theater, Jethro Tull, Tribal Tech… a lista não acaba nunca. Procuro ir assistir algum músico ou banda ao vivo pelo menos uma vez por semana.

Gosto muito do Scott Henderson. O assisti ao vivo duas vezes, com a sua carreira solo e com o Tribal Tech, e posso afirmar que a sua expressão atingiu um nível estratosférico. Mas sou muito fã do Greg Howe e do incomparável David Gilmour. São guitarristas que me motivam demais. O Guthrie Govan é, sem dúvida, um dos meus prediletos, mas a carreira dele está apenas no começo, daqui a alguns álbuns tenho certeza que ele estará junto dos grandes.

Rifferama – Pensas em voltar a morar em Florianópolis? O que tu planeja pra tua vida/carreira nos próximos anos?

Denis Warren – Posso afirmar a cada dia, a cada minuto, que morar aqui é um sonho em tempo real. É uma imersão cultural sem fim, uma interação frenética com tantas culturas, é tanto estímulo. Meu projeto é me consolidar aqui e poder viver nos dois países, fazer trabalhos sazonais. É conseguir lidar e me beneficiar da música direto das melhores fontes, e por essa razão não posso me distanciar da cultura nacional.

Sobre próximos álbuns ainda quero lançar esse ano a música “The Forest” na íntegra, com 45 minutos. Meu trabalho instrumental rock ainda terá um terceiro disco, o primeiro foi o “DEEP”, o segundo” HIGH”, o terceiro será algo no meio, e devo tratar as composições dele com esse mesmo conceito. Também estou compondo o trabalho dos meus sonhos que é um álbum de fusion.

Rifferama – Agora uma curiosidade minha. A Demian foi tua primeira banda? Quais são as lembranças daquele tempo?

Denis Warren – A Demian foi a primeira vez que tirei um som de guitarrista instrumental, foi um desafio desde o primeiro acorde. Tive que estudar muitas horas por causa daquele projeto e estávamos sempre tocando próximo do nosso limite técnico. Mas o bacana foi que após algumas músicas passei a acreditar que poderia ter uma carreira solo. Boas épocas! Esses dias mandei uma mensagem pra eles dizendo que deveríamos gravar as músicas compostas naquela época (entre 1996 e 2000). Seria ótimo ter um registro.

Rifferama – Qual é o teu riff preferido, aquele que te deu vontade de pegar uma guitarra pela primeira vez?

DW – A primeira vez que senti a força e imponência da guitarra foi quando escutei o riff de “Money For Nothing” do Dire Straits. Mas o que me empurrou de vez pro instrumento com certeza foi Iron Maiden, nenhum riff específico, mas o conceito geral, a energia do som. Mais tarde foi quando escutei o álbum “Surfing With The Alien” do Joe Satriani.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

21 Comentários

  1. Parabéns ao Rifferama por divulgar o trabalho de bandas e músicos de altísssimo nível como o Denis Warren, com quem tive a orpotunidade de estudar por um bom tempo e o mesmo é dono de um talento e um profissionalismo senacional!

  2. Grande entrevista, muito interessante ver a perspectiva de um músico de Floripa vivendo abroad para se profissionalizar ainda mais.
    Tive o prazer de conhecer o som do Denis na época da banda Demian, era aluno do Giovane e acompanhei diversas apresentações da banda, e inclusive dividir os palcos. Grandes lembranças, fiquei extremamente feliz com o comentário do Denis de gravar as musicas deles daquele tempo, seria simplesmente demais, vamos cobrar isso hehehe.
    Denis parabéns pelo trabalho e sucesso seja aonde optares por estar! Sou fã do teu som!

    • E aí Kleber.

      Valeu por compartilhar as lembranças, sem dúvida foi uma excelente epoca e tenho muita vontade de registrar tudo que produzimos.

      Um grande abraço!

  3. Parabéns Denis!!!

    Lembro do tempo de colégio onde sempre andavas com camisas do Iron Maiden!!! Fico feliz com seu sucesso e tenho certeza que ainda vem muito mais!!!

    Forte abraço, Adriano Oltramari

    • Valeu demais Adriano, foi a epoca em que tudo começou, sem dúvida.

      Um grande abraço!

  4. Obrigado por todos os comentários e palavras de apoio pessoal, um grande abraço e viva a música!

  5. Excelente entrevista!
    Um dos grandes nomes da música Catarinense, sem dúvida!

  6. Eu vi a Demian nascer lá no bairro onde eu moro, com os irmãos Meinert e o Denis. Essa música, Sky High, ficou muito boa. Ótimos riffs e ótimas técnicas. Eu já conhecia algumas músicas deste disco, pois uma vez o Andrey divulgou pelo Facebook e eu acabei ouvindo. Achei muito interessante, logo de início.

    Eu gostei muito dessa entrevista, pois dá pra sentir o que um cara que entende de música viu em uma outra cultura musical. Às vezes, com esse mundo tão globalizado, achamos que podemos estar em qualquer lugar e conhecer de tudo, mas só a convivência nos permite ter essa experiência. E na resposta, o Denis levantou um ponto importante que é constante na música: O duelo "Técnica X Musicalidade". É comum demais encontrar pessoas que têm uma musicalidade, influência e criatividade excepcionais, mas que estacionam no aprendizado técnico. Bem como é comum artistas que se preocupam demasiadamente com a técnica, que acabam "fritando" o instrumento, mas esquecem da música.

    • Muito boa aquela epoca. Tocávamos bastante com a Demian e a galera sempre correspondeu de forma bacana. Legal que você acompanhou aquela período, com certeza foi muito marcante pra mim. Abração!

  7. Parabéns pra você também primo pela disposição e iniciativa de divulgar a nossa música e nossos compositores!! muito obrigado pela força, forte abraço!!

  8. Grande parceiro, e Irmão da vida e da música!!! parabéns pela entrevista Denis, forte abraço!!

    • Taí rapaz, tamos sempre juntos, desde o primeiro dia, um abração!

  9. Excelente entrevista com um músico de vultoso talento. O Denis é uma pessoal sensacional e um guitarrista com extrema habilidade técnica e a serviço da música! Parabéns Daniel por ajudar a divulgar talentos como o Denis! Abraços!

    • Grande Juliano, sempre um exemplo de talento na guitarra, um abração!

  10. Grande Denis!
    Sorte pra ele com seus trabalhos, por que talento e competência já tem de sobra.

  11. Bons tempos em que a Banda Demian, Jeremias e a Pão com Mouse agitavam o palco e aqueciam o público nas noites frias da praça de Biguaçu.

    • Isso mesmo, aquele era o nosso território, hehehe. Boas epocas!!! Um abração!

  12. boa entrevista Daniel!! quanto ao Denis, eu não conhecia o trabalho dele... baita guitarrista!! Riffs inteligentes e principalmente musicalidade a toda prova, sem aquele compromisso de "matar 5 arpejos por segundo". Gostei bastante!!
    Aliás, se tiver mais material em áudio, ficarei feliz em conhecer... abraços!

    • Valeu John, e se quiser conhecer todo o meu trabalho basta visitar o meu site (deniswarren.com). Um abração!

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