Eutha

Rifferama Entrevista: Eutha

Marcelo Mancha é um dos músicos mais respeitados de Santa Catarina. Baixista e vocalista do Eutha (antiga Euthanasia), banda de hardcore formada em 1992, é um dos cabeças d’O Clube, coletivo que visa fortalecer a cena independente, além de ser uma enciclopédia ambulante sobre rock e gente da melhor qualidade. Nesse bate-papo para o Rifferama, Mancha falou sobre a expectativa de tocar no Ufsctock 2013, que acontece nesse fim de semana (23 e 24 de novembro), sobre o momento da banda, além dos seus riffs preferidos.

Rifferama – 2013 tem sido um grande ano para o eutha. É o melhor momento da banda?

Mancha – É uma grande fase do eutha, com certeza. Desde o “retorno” em 2010 (na verdade nunca paramos oficialmente) temos notado que a galera criou um carinho especial pela banda, principalmente pelo nosso tempo de estrada. Nos shows sempre tem um pessoal que já conhece a banda e muita gente que já ouviu falar, mas nunca tinha escutado o som e ainda tem os que estão conhecendo o eutha agora.  Começamos em 1992 e tocamos direto até 2008, ano que resolvemos tirar “férias” e acabamos montando eu, o Jean (guitarra e voz) e o Heráclito (percussão), junto com outros amigos, um projeto chamado A Estrutura L.I.M.B.O.. Gravamos duas músicas, fizemos um show e seguimos ensaiando. Em 2010 deu vontade de retornar com o Euthanasia e o projeto parou.

Começamos a tocar novamente, resolvemos abreviar o nome para eutha e como os shows estavam raros, ficamos ainda um ano ensaiando, compondo, mas sem tocar ao vivo. Por isso o período de três anos longe dos palcos.  No retorno o Cauê estava com a gente na bateria, mas logo na sequência, quando os convites para shows começaram a pintar, ele resolveu sair e em seu lugar entrou o Calone (O Metaleiro). Esse ano rolou muita coisa legal pra gente. Tocamos com o Good Riddance, em Rio do Sul, na festa do Instituto da Cannabis na Célula, Alternative Festival, General Lee, Highway To Hell, John Bull, Maratona Cultural com os Raimundos, Mustafá…

Participamos de uma música no disco novo (“Nada contra Quem”) do Califaliza chamada “Território”, e também do álbum da banda Damadera, fazendo os vocais de “Rema Forte”.  No início de novembro gravamos a música “O Coveiro”, tema do curta-metragem de mesmo nome dirigido por Gentil Júnior. Além disso, estamos finalizando as composições novas e devemos gravar e lançar algo no primeiro trimestre de 2014. Está sendo um ano bem agitado.

Rifferama – Qual a importância d’O Clube nesse momento da banda? Como vês o cenário pras bandas independentes aqui em SC?

Mancha – O cenário está muito forte. Tem muitas bandas legais em Santa Catarina e dos mais variados estilos. Tem rock, metal, hardcore, reggae, indie, rap… Quando falamos dos espaços para shows, a história é outra e realmente alguns estilos musicais, principalmente os mais alternativos, sofrem para conseguir bons palcos. Por isso às vezes é tão difícil montar uma tour pelo estado. Muitas vezes falta um pouco mais de união e intercâmbio entre bandas de diferentes cidades. Mas por outro lado, sei que são tantas bandas por aí, que realmente fica inviável essas “trocas” de shows.

Por isso nos últimos anos estamos tocando tanto na Grande Florianópolis, o que não deixa de ser bom para a formação de um público mais forte. Sobre O Clube, foi e ainda é muito importante para esse momento da banda. Além de grandes parceiros, a galera desenvolveu um esquema de logística para shows e canais de divulgação, que ajudam muito as bandas que participam do coletivo. Vários itens que envolvem uma banda, conseguimos arrumar ali mesmo no coletivo: um trabalha com clipes, o outro com gravação, um com mídia, outro com parte gráfica e assim por diante. Todo mundo se ajuda para o fortalecimento e crescimento das bandas e da cena local.

eutha se apresenta domingo no Ufsctock. Arte: Clint Studio

eutha se apresenta domingo no Ufsctock.
Arte: Clint Studio

Rifferama – Qual a expectativa pro Ufsctock? O que achas desse tipo de evento? Recomendas alguma banda que vai tocar no festival?

Mancha – Cara a expectativa sempre é fazer um grande show, conseguir passar o som sem muito desgaste físico e espiritual e deixar tudo pronto pra desempenhar um show legal. Vai ser um dia divertido, já sei que são bandas de vários estilos diferentes. Sempre dá uma galera nesse tipo de evento free. O Ufsctock é roots e vai ser nossa primeira vez nesse festival.

Curto a ideia dos festivais, mesmo quando são bem ecléticos como o Ufsctock. Entre as bandas dos dois dias, muita gente que eu ainda não conheço, mas posso destacar no sábado o Five Boys e o Don Capone e no domingo tem o Da Caverna, que é bem divertido, e o Vivendo do Ócio, que também é legal. O Ufsctock vai ser nosso penúltimo show do ano, no dia 30 vamos tocar na Célula, no Festival de dois anos d’O Clube.

Rifferama –  Qual a importância do eutha para a cena local? Achas que a banda não tem o reconhecimento que merece? Depois de 20 anos, como as pessoas encaram vocês? Sobre o “Estileira Core…”, achas que ele será visto como um clássico do hardcore no futuro?

Mancha – Acho que a banda foi e é importante pra gente, pois foi uma escolha, um estilo de vida. Já são 21 anos dedicados ao eutha. Para a cena local, acho que a nossa importância foi mais como um exemplo de perseverança, de nunca desistir e acompanhar as modas. Sempre fizemos o som que a gente gosta e pagamos um preço. Misturamos vários estilos em uma época que não era tão comum. Nossa primeira música própria, composta em 1992, já tinha essa proposta hardcore com metal, uns toques de grind e um final totalmente hip hop, com direito a beat box. Atravessamos várias fases, sem nunca nos preocupar com os outros. Devagar e sempre deve ser o nosso lema.

Sobre o reconhecimento, acho que pegamos uma época muito difícil, essa transição pré-Internet. Talvez a falta de uma maior divulgação e o estilo de som pesado que praticamos não tenham ajudado para a construção de um grande público. Por isso esse reconhecimento medido em números nunca tenha realmente nos alcançado. Tenho certeza que estamos fazendo um trabalho honesto e isso sim tem o seu valor. As pessoas nos encaram diferente, sim.

Existe uma expectativa sobre “tocar o terror”, agressividade, gritaria, as máscaras do Herax, algumas coisas que geram um clima legal antes do shows, mas aumentam a nossa responsabilidade. Uma mistura de respeito, carinho e curiosidade da galera que vai aos shows.  Sobre nosso disco lançado em 2001, “Estileira Core Music Tarja Preta”, gosto muito dele até hoje. Ainda escuto e acho atual. Se será um clássico no futuro não sei dizer, mas sei que a galera curtiu e procura o disco nos shows até hoje. Uma vez encontrei o disco no Mercado Livre como “clássico do hardcore catarinense” e no salgado valor de R$ 50.

Rifferama – Nos últimos tempos vocês gravaram um clipe, trocaram de integrante e gravaram algumas músicas inéditas. Quais são os planos para o futuro?

Mancha – Para 2014 o maior plano é lançar um EP. Serão cinco ou seis músicas inéditas e mais umas quatro ou cinco gravações que nunca lançamos. Com certeza um clipe novo também está nos planos. Daí com o material em mãos a ideia é buscar algumas datas pelo estado e quem sabe em SP, RJ, PR, locais que o eutha também tem um pequeno, mas fiel público. Claro que queremos tocar muito na região também. Acho que um disco completo com 20 músicas não deve sair. Com a facilidade de divulgação na Internet e também nos shows, é mais atrativo para uma banda como o eutha lançar anualmente um EP, por exemplo.

Rifferama – Quais são os teus riffs preferidos?

Mancha – Essa pergunta é muito difícil, pois apesar de tocar baixo, como todo fã de rock sou um grande apreciador dos riffs de guitarra. Então vou citar três sem ordem de preferência: Killing In the Name (Rage Against the Machine), Refuse/Resist (Sepultura), Amazônia Nunca Mais (Ratos de Porão) e Chega Aí (eutha).

PS: A Califaliza desistiu de tocar no Ufsctock por divergências com a organização. No seu lugar foi escalada a ForsiK.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

2 Comentários

  1. o Mancha é um cara gente finíssima e inteligente demais, sabe o rumo dos caminhos... penso que a banda sempre soube o rumo a tomar, desviando dos modismos, os caras são guerreiros!! acho muito interessante demais a história da Eutha (násia). Uma banda de alto nível no seu estilo, faz um som honesto e bastante direto. Conheço o som dos caras a bastante tempo... bom post e boa entrevista Daniel!

  2. Vi esses caras em ação esse ano no Mustafá, som simplesmente animal!! Pena que dificilmente estarei em condições de sair no domingo hahaha.

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