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Em entrevista exclusiva ao Rifferama, baixista do Dazaranha avalia novo disco e comenta polêmica

Foto: Sirlah

– Alô? Aqui é o Adauto. Podes falar, querido?

Quando escrevi a resenha sobre “Daza”, novo disco do Dazaranha, na manhã do último domingo, não esperava a repercussão que o texto causaria. As reclamações dos fãs, as mensagens de apoio e até as críticas recebidas. O comentário do Chico Martins na fanpage do Rifferama potencializou o negócio e os posts bateram os recordes do blog em apenas dois dias.

Bom, voltando ao Adauto Charnesky, produtor e baixista da banda. Recebi a ligação dele na segunda-feira à noite, voltando pra casa e, como estava dirigindo, disse que retornaria assim que chegasse em casa. Não sou íntimo do músico, mas conheço a fama de falastrão e maluco do Adauto e logo pensei que viria “chumbo grosso”. Me enganei.

– Tô te ligando pra dizer que achei o teu texto do caralho. Tô cansado de baba ovo, cara. Quero que tu venha na minha casa pra gente conversar.

“Que doideira”, pensei. No outro dia pela manhã liguei novamente para o Adauto e propus uma entrevista. Após o expediente no Notícias do Dia, perto das 21h, cheguei ao apartamento do baixista, no Itacorubi. Fiquei impressionado com a coleção de vinis do cara. “Tenho 1983”, contou. A maioria disposta em três estantes na sala, uma pra música negra, outra pra rock and roll e mais uma só de música brasileira. Ouvimos Miles Davis, ele me falou da paixão pelo Black Sabbath e conversamos por umas duas horas, acompanhados por Sirlah, amigo de Adauto que tentava consertar o computador e ainda fez as fotos para esse post. E segue o papo:

– O Dazaranha passa por uma crise criativa?

– Acredito que o Daza está num ótimo momento criativo. Tivemos opções de escolha e procuramos optar pelas coisas que mais acreditávamos e achávamos mais bonitas para mostrar para o público. Pegar o melhor. Nem todas as músicas foram unanimidades, mas temos uma relação forte com democracia. Às vezes três tinham uma vontade e quatro tinham outra vontade. Essa vontade dos quatro era respeitada e fazemos o melhor para que, mesmo aquilo que você não escolheu, ficasse com a melhor cara possível.

– Como os fãs estão recebendo “Daza”?

– Hoje fui no oftalmologista e antes da consulta ele disse “vocês conseguiram fazer um disco que consigo ouvir do começo ao fim”. Várias pessoas têm dado esse feedback para nós, falado bem. Uns vão gostar, outros vão gostar menos e eu gosto bastante do trabalho. Isso é o mais importante. Estou feliz com o que estou fazendo. Se eu for fazer o que os outros acham mais legal vou perder o meu rumo.

– Qual posição achas que esse disco tem na discografia do Dazaranha?

– Esse é o disco mais próximo do primeiro, “Seja Bem-Vindo”, no sentido das composições, da sonoridade dele, de como entram o violino e a percussão. É uma volta forte desses dois fatores em um disco do Dazaranha. Também aparece bastante os músicos tocando sozinhos, sem aquele peso que vínhamos tendo nos últimos discos. “Daza”, “Seja Bem-Vindo” e “Nossa Barulheira” têm uma sonoridade que me faz aproxima-los. O “Tribo da Lua” é completamente à parte, principalmente pela ausência do Gerry (percussionista). Acho genial. O “Paralisa” tem uma potência sonora, foi feito com o Vidal e tivemos tempo para trabalhar. “Daza” é o nosso melhor para agora.

– É o disco mais comercial da banda?

– Acho que não. Como vou dizer que o Dazaranha é comercial? Em que sentido? O que é música radiofônica? O Dazaranha é pop e adora ser enquadrado numa categoria que o The Police está. Bob Marley é reggae, mas é pop. Quem me dera poder ter tocado nos Beatles, a banda mais pop do mundo. Eu adoro pop. Pop é pejorativo ou legal pra caralho? A maior bobagem e uma puta mentira é tu fazer um disco e dizer que não quer que ninguém escute. Se você achar que “Céu Azul” é pop, eu acho que ela tem uma puta mensagem. Rastaman é pop? Estou explicando como se faz uma fogueira ao contrário. Lenha seca. Graveto. Primeiro. Fogo na palha. Mão de feiticeiro. Se isso é pop, estou muito a fim de ser pop.

O músico tem uma coleção de baixos.

O músico tem uma coleção de baixos.

– As músicas do Dazaranha sempre tiveram essas histórias positivas.

– Nem sempre. Às vezes queres falar uma coisa legal ou só falar para o cara curtir adoidado. Não tenho que ficar ensinando as pessoas ou passando coisas com a minha música, fazer uma revolução. É também o papel da música, mas o primeiro é entreter as pessoas. Tem crítica, mas em outros momentos é “Carolina, Carolina”, mulheres bonitas que o Gazu conhece. Um outro jeito de falar da vida. Ou a vida é só tristeza e nojeira? Tenho vontade de falar tanta coisa, tenho uma ideia maravilhosa para arrumar o país. É uma função minha, mas falar da Praia Mole também, de como é legal sentar numa mesa e tomar cerveja com os amigos, se não tu fica muito carrancudo e a vida passa e tu não vê porra nenhuma. É por isso que esse disco é diferente do anterior, que é diferente do anterior… Se eu quisesse fazer o “Seja Bem-Vindo” de novo, eu teria feito, mas estou a fim de me arriscar. Roleta russa.

– Depois de tantos anos juntos, como está o relacionamento entre os integrantes?

– Eu tive duas mulheres, fui casado duas vezes, fazia sexo com elas e me separei. Estou há 22 anos com o pessoal e eles não me dão a boceta. Imagina o que é pegar um ônibus para Criciúma e depois para Foz do Iguaçu e ver um cara com chulé enrolado num cobertor no corredor do ônibus. A minha paciência vai para o espaço. Aí tu acorda no meio do nada com um bufê que só tem dobradinha, vem o Gazu e canta assim “É na banha, é, na banha que eu vou”. Dá vontade de matar o cara. A gente briga pra caralho porque é uma família. É uma banda de rock. Tem padre que come criança, imagina uma banda. Aqui não é instituição de caridade. Temos que nos aturar. Se alguém começar a se achar um mais importante do que o outro, fodeu. É pé no chão. Se não, não rola.

– Os projetos paralelos atrapalham o Dazaranha?

– Às vezes atrapalham e às vezes podem ajudar. Sem o apoio do Dazaranha tem que se impor mais como artista e acaba voltando mais preparado. Poderia atrapalhar se não cumprissem os compromissos com a banda, coisa que não acontece. O Gazu se fode pra fazer um show num lugar distante e viaja com o carro dele para cumprir o compromisso dele, como o Moriel e o Chico já fizeram. Isso te apura para situações que não sabíamos como lidar no começo da carreira. Hoje se estiver chovendo fogo no palco, continuamos tocando. A soma desses caras é que faz o Dazaranha ser desse jeito. Em vez de achar que atrapalha, nós ajudamos. Se não tu vira um músico como tem muitos por aí que falam “não tem lugar para tocar, o governo não ajuda, ninguém gosta de música autoral”. Aqui não tem nenhum filho de governador, nenhum com sobrenome Koerich. Acreditamos no sonho e fomos atrás.

– Qual o futuro do Dazaranha?

– Espero que a gente continue do jeito que está, tocando, fazendo música, sem desistir dela nunca. Eu quero estar com 86 anos e tocando com o Dazaranha, brigando, caindo no pau, dando risada, vivendo a vida, como todo mundo vive, só que fazendo música, que foi o que escolhi e passo os perrengues que passo para continuar dessa forma. Estar com os meus amigos, aprendendo todo dia.


Quando estava me preparando para finalizar a gravação e pegar o rumo de casa, eis que Adauto solta essa:

– É legal quando você recebe crítica e transforma em alguma coisa positiva, pega aquilo como incentivo, como alguém que está de verdade prestando atenção no teu trabalho. Todas as coisas que tu escreveu ali têm a sua verdade. Achei do caralho o jeito que você escreveu. Precisamos de gente de coragem nesse país para falar as coisas, falar realmente o que pensa, sem medo que venha qualquer bunda mole falar mal de você. Para quem pegou só a parte ruim, a parte mais legal é que no fundo te mostrasse um dos maiores fãs da banda, o teu conhecimento sobre o nosso trabalho. Não achei nada de mais e não estou entendendo essa polêmica.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

14 Comentários

  1. Que momento, meu amigo!

    Adauto só confirma nossa paixão pelo Dazaranha.

    Abraço e vida longa ao Daza!

  2. Ta aí a essência do Daza e do Doze! Parabéns manés!

  3. Ai sim. Coisa de gente grande essa entrevista.
    Parabéns Daniel e parabéns Adauto, tá aí duas pessoas que sabem o que falam.
    Muitas críticas são construtivas.

    Resumo para ninguém ficar lendo postagens ignorantes.

    Rifferama tem postura e o Daza tem talento de sobra.

  4. Adalto tais na capa da gaita no fio da rabiola, taX só na armação e no estirante..
    do pó vinhemos ao pó voltaremos....
    Eis um monstro e o Daniel (12) é fã do daza pra caralho....

  5. Uma bela sequência de trabalho que culminou na cereja do bolo. Baita!

  6. Acho que é por aí. Como vem, vai. Se não teve maldade fala não vai ter na réplica. Nada mais justo Daniel! Dale Rifferama e dale Daza!!!

  7. Adauto é o cara respondeu na boa mesmo levo a critica como uma coisa boa assim que tem que ser. O daza tem que continuar sempre com sua criatividade e com suas musicas ótimas e sempre com o otimismo de que podem ser cada vez melhores no que fazem e estão ficando melhores. Adauto falou tudo é um dos que mais admiro na banda e com o que ele disse admiro mais ainda agora e teve uma frase ali q ele falo que representa bem esse novo cd do daza mesmo.. “vocês conseguiram fazer um disco que consigo ouvir do começo ao fim”. Com certeza cara vocês fizeram um disco que é curto só que a gente ouve todas as musicas e não sente nem vontade de trocar. São musicas maravilhosas que vão fazer muito sucesso. Parabéns rapaziada voces são fodaa

  8. Ótima Entrevista. Mais uma vez, Parabéns!

    O Adauto falou coisas diferentes e de uma forma diferente que o Chico, mas ambos seguiram o mesmo caminho. O daza ta bem, no auge e as musicas são boas! Ninguém ficaria meses no estúdio e sairia dizendo que o cd ficou uma merda! Nem mesmo que ficou bom mas de uma forma diferente!

    Os Los Hermanos acabaram antes de se tornar algo que eles não queriam. Não gostaria que o Daza acabasse, de jeito nenhum, mas também não gostaria que eles continuassem cantando as mesmas musicas que o Saulo da Banda Eva!

    Abraço, 12!

  9. Adauto é um cara de grande coração e de uma imensa cultura musical, um virtuoso que sempre esta pesquisando e escutando tudo sem preconceito e com generosidade. O Daza ja é um marco da musica da ilha que leva a cultura local e a identidade do mane a todas as partes do Brasil. Parabens ao Daza e a todos os envolvidos nesse novo cd. Grande abraço a Adauto e ao Gazu, que são os dois da banda que eu tenho mais amizade, mas tbm todos da banda merecem muito respeito e consideração.

  10. “É na banha, é, na banha que eu vou”. KKKKKKK Grande Adauto...abraço...e parabéns pela entrevista aos dois....

  11. Resposta do nível DAZARANHA. Gênial Adauto!

  12. Foda, Doze.

    Isso só mostra o quanto tu é profissional e o quanto teu trabalho é espetacular.
    Tens um caminho brilhante pela frente, cara. Continua assim!

  13. Sensacional, brother!!! O Adauto é foda...sem papas na língua...é sincero!! Coisa linda..Salve, Daza!!!

    • Legal o depoimento do Adauto, mas às vezes os músicos também tem que nos escutar, não é só eles que tocam e nós escutamos. Parabéns pela atitude dele, o Dazaranha é uma empresa e ele é dono, se alguém esta falando da empresa dele, ele tem que saber o porque e procurar melhor cada vez mais. Ele fala grave e fala bonito. Grande abraço e longa vida ao Dazaranha é o que nos fã esperamos.
      Jeferson Domingos - Criciúma/SC.

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