*por Fabio Bispo
Imagine Lampião armado até os dentes se aventurando em uma pista de skate da Califórnia! O “Recomeço de Tudo” é uma viagem tipo essa. Mais rock, mais batuque, mais pegado. O segundo álbum d’O Mundo Analógico, lançado no dia 23 de fevereiro, mostra o que essa galera de Criciúma é capaz. Sem perder a onda que amalgamou o estilo da banda em “Nosso Mundo” (2012), projetando eles para além das divisas catarinenses, o trabalho dos caras é uma sequência de ousadia, com reggae, hardcore, sopros e berimbau.
O alto astral – vibe positiva – é característica da banda criciumense, fundada em 2005. E nesse disco, voltando às origens da formação clássica com os retornos de Marc Furtado (guitarra) e Victor Rafael (baixo), Rafael Ronchi (voz), Jonas Roque (guitarra), Gilson Naspolini (bateria) e Rodinei Albano (trompete) embalam cenas do quotidiano explícito, de letras suaves e cheias de paz e amor, e breaks densos, viajantes, variando entre a crítica social e política.
As faixas “O Muro”, a terceira do disco, e “A Paz Que Abraçou o Amor”, por exemplo, trazem guitarras em harmonia com sintetizadores na medida. Em “Siga” e “Rema” essa atmosfera de positividade é ainda mais evidente. Um dos destaques do disco, “Adiante”, contou com a participação de Dijjy Rodriguez (Ponto Nulo no Céu) na letra e vocal. Um som pesado, cheio de riffs e screams, que mostra a diversidade das influências do grupo. Gravado no estúdio Pé do Morro, de Victor Gonçalves, o disco foi mixado e masterizado por Lucas Taboada, também da PNNC. Cal Will é outra participação nos vocais, na faixa “Hora de Mudar”.
Presente em todas as canções, os sopros de Rodinei Albano ao lado de Deivid Limas e Felipe Nazário dão um incremento nessa liga que passeia tão facilmente entre os estilos. Eles são mais dançantes, por exemplo em “Não se Prenda”. Puro ska! Acompanhados de uma viola crua que dá outro tom para “Deixa o Sol se Pôr”, na companhia de Karoline Calegari. Noutras, o sopro encarna uma big band do rock brasileiro dos anos 2000. Na faixa “D.F.B.”, que encerra o álbum, o som do berimbau com distorção em um andamento que nos remete a um baião traz à tona essa mensagem de resgate que o trabalho parece nos mostrar.
Essa bossa com o baião e com “origens” se revela na imagem do próprio “El Temido Mustafah”, que abre o disco e nos apresenta à arte do criciumense Bruno Alvarez (capa). Em uma onda psicodélica de símbolos como a feição de Lampião, notas de dinheiro, o Congresso Nacional e Têmis, uma síntese: O Mundo Analógico continua bom pra caralho.
Foto: Leonardo Martinello
*Fábio Bispo é jornalista e repórter do jornal Notícias do Dia
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