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Rifferama Entrevista: Cícero

Foto: Mariana Caldas

Cícero Rosa Lins gosta de arriscar. “Canções de Apartamento”, seu primeiro disco solo, lançado em 2011, se espalhou de forma espantosa pela Internet. Sucesso de crítica, foi eleito o melhor álbum brasileiro do ano por diversas publicações. Grande revelação da chamada “nova MPB”, o compositor carioca seguiu por outro caminho em “Sábado” (2013).

Melancólico e minimalista, o trabalho dividiu opiniões dos fãs. Com “A Praia” (2015), Cícero, que completou 30 anos nesta quinta-feira (7), encontrou o caminho. Rodando o Brasil em turnê, o músico se apresenta hoje no Teatro Pedro Ivo. Neste fim de semana, ainda toca em Porto Alegre e Curitiba.

Em entrevista ao Rifferama, o compositor, que nunca esteve em Florianópolis, disse que não se prender a uma fórmula o faz sentir relevante artisticamente. E até mesmo como fã, gosta de quem, como ele, faz diferente. Cícero está ansioso para conhecer os fãs da Capital, que devem ter se identificado com “A Praia”.

– Quero fazer uma obra longa. Nunca fui dos que fazem a mesma coisa, se aperfeiçoam. Eu prefiro seguir adiante, fazer o caminho da descoberta. A Praia falou mais com esse tipo de gente menos melancólica, um astral mais “Canções”, e menos desencanada que o público de São Paulo, que gostou do “Sábado”. Acho que será muito maneiro.

Curiosamente, “A Praia” foi composto em São Paulo, onde o músico vive hoje, por, segundo ele, “uma mudança humana”. O novo disco e a nova casa trouxeram, além da questão pessoal, de amadurecimento, muitas oportunidades profissionais.

– Acho que foi crise de meia-idade. A ida para São Paulo estimulou mudanças de comportamentos. No Rio eu esperaria anos até as coisas acontecerem. Essa parte prática de carreira não tem nem comparação. Consegui tocar muito mais. Sempre fui mais de gravar. Nunca fui muito interessado em palco. Agora o show tem mais fidelidade com o disco.

Mesmo com mais de 170 mil fãs no Facebook e enorme alcance nas plataformas de distribuição de conteúdo digital, Cícero tem os seus três discos lançados em vinil. A vontade surgiu após uma reflexão de como a música é consumida hoje em dia.

– A solução que cheguei é de ocupar todas as mídias possíveis. Os CDs dos anos 1990 descascaram, ninguém mais baixa música. Está na nuvem, é um dado. O vinil daqui cem anos tocará igual. Não tenho fetiche de que o som seja melhor ou o vinil mais sofisticado. Reconheço que é mais confiável.

O compositor também faz questão de manter contato com os fãs nas redes sociais, que ele próprio administra. E Cícero prefere deixar que as pessoas conheçam o seu trabalho por si próprias do que pagar por anúncios que alterem o fluxo natural da cadeia produtiva.

– Tento me manter aberto ao que chega até mim, seja na rua, nos shows ou nas redes sociais. E alimento a minha obra. Nunca apareci na TV aberta, nunca toquei no rádio. Foram me seguindo, fazendo campanha para eu tocar nas cidades. A Internet foi mais do que uma ferramenta. Chegar de forma orgânica tem muito mais valor. Daqui dez anos vão ouvir “Tempo de Pipa” e descobrir que tenho uma discografia.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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