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Entidathe atesta a identidade da sua obra no álbum “Oráculo”

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“Deus abençoe o seu espírito e lhe dê um intelecto abstrato e incompreensível”. O trecho de “Insensível”, sexta faixa do álbum “Oráculo”, divulgado no dia 17 de novembro, traz um desejo da mãe de William José, o Entidathe, que acabou determinando a sua trajetória como artista. O rapper, beatmaker e ilustrador tem uma forma de rimar, escrever e ver a vida que são bem próprias. Natural de Rio Negrinho, começou a estudar e criar as suas batidas em 2016, já vivendo em Blumenau, onde fundou ao lado de Nnay Beats/Dimi CL o selo Verve Ent., pelo qual lança os seus trabalhos — são oito álbuns e três EPs desde 2018. O nome Entidathe representa a forma que o MC concebe a arte, um processo espiritual, mas também mediúnico. “Entidathe surgiu do limiar de fazer essa migração de ideias, ir lá buscar o elevado e trazer aqui, poder passar essa ideia aqui embaixo. Pra mim é fácil discernir o que escrevo e o que não é meu. Dificilmente eu conseguiria escrever coisas que têm esse teor de reflexão mais profunda sem uma certa influência de algo superior, de um ponto de vista mais de cima. Será sempre uma Entidathe, depende do que a gente está buscando”, comentou o rapper.

Para explicar “Oráculo”, Entidathe segue a mesma ideia que o levou a adotar esse nome artístico. O título do álbum, que foi anunciado como o último, seria a consciência do próprio destino, o espírito em si, que sabe muito mais do que a nossa razão ou personalidade. “No fundo a gente sabe muito pouco. Eu sinto uma cura muito grande no que há de desconhecido em mim”, pontuou. As letras de “Oráculo”, apesar de profundas, são simples, assim como o instrumental. Em cerca de 18 minutos, Entidathe fala (nesse flow mesmo) sobre saúde mental, suicídio e autoconhecimento, temas presentes em quase todas as suas obras. A simplicidade é uma busca constante por parte de Entidathe, que deseja que as suas músicas sejam acessíveis a todos. Em contato com o Rifferama, o artista detalhou o seu processo criativo, cada vez mais solitário (com exceção de duas batidas, o rapper escreveu e produziu as faixas, fez a mixagem, masterização e artes visuais do registro) e a preocupação com o que compartilha para o público.

— Sempre curti as coisas mais simples. Pra mim é sobre a profundidade que tu consegue despertar no mínimo de tempo possível. Eu demoro pra caramba pra escrever, tento refletir ao máximo sobre aquilo que estou escrevendo, pensando na interpretação que vai ter, pra não ter um equívoco de entendimento, apesar de ser algo subjetivo. Não gosto de coisa complexa ou muito enfeitada, quanto mais simples me desperta mais atenção. Esse álbum realmente foi uma parada muito pessoal. Se surgir algo mais na frente será algo mais sozinho, está havendo essa distância de ideias, são raras as pessoas que consigo flagrar que estão vivendo as coisas que estou vivendo neste momento. A própria questão da saúde mental, que é algo bastante abordado, creio que também trago uma carga espiritual. Muitas das escritas são vivências de crises de pânico e ansiedade, de estar naquele buraco não vendo uma saída, mas tu consegue transformar isso, que é algo totalmente abstrato, e ver que tem mais pessoas vivendo a mesma coisa, e de certa forma poder auxiliar. Minha música tem que ser acessível pra todos, seja uma pessoa da minha idade, alguém mais velho ou uma criança. Começar a plantar essas coisas desde cedo é algo que vale a pena.

Daniel Silva é jornalista e editor do portal Rifferama, site criado em 2013 para documentar a produção musical de Santa Catarina. Já atuou na área cultural na administração pública, em assessoria de comunicação para bandas/artistas e festivais, na produção de eventos e cobriu shows nacionais e internacionais como repórter de jornal.

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